Série magos - Casters, incontroláveis.

XXIX - Isabela Flores

É oficial, se eu tiver mais um dia de treinamento não serei capaz de levantar, essa coisa de que em algum momento as dores vão embora está demorando para acontecer. Passei o final de meu turno na despensa conferindo produtos tentando ignorar a dor em todo meu corpo. Havia partes minhas que eu sequer sabia que doíam, o dia frio também não estava ajudando em nada, só deixava meu corpo dolorido mais dolorido; mas ainda assim não ousava reclamar.

Sou uma maga que até o momento a magia só serviu para ser usada como defesa e eu simplesmente odeio o pensamento de me tornar dependente de outras pessoas para conseguir me defender. Os treinos com Eleanor estão sendo difíceis, mas pelo menos acabarei ficando mais forte e capaz de revidar de alguma forma se caso for necessário. Me perguntava se a magia do quinto elemento não poderia ser usada de forma ofensiva. Bem, parece que além de aprender a usar aminha suposta clarividência ganhei mais uma coisa para ocupar a mente. Só mais um abacaxi para ser descascado, espero que não seja um daqueles especialmente espinhosos e azedos.

Suspirei colocando um pote com pepino em conserva que estava em falta na prateleira. Era a minha última tarefa do dia, ao meu redor aqueles que dividiam a mesma função comigo começavam a guardar suas pranchetas ansiosos para sair. Deixei meu material de trabalho no local indicado e optei por sair pela cozinha e não pela saída lateral como os outros. Adorava ver a movimentação frenética dos cozinheiros cortando e temperando alimentos, o cheiro bom por todo o lugar era um belo de um bônus com toda certeza.

- Já está indo Isabela? – Cecília que carregava uma fornada do que parecia ser pequenas tortinhas recheadas parou em meu caminho. A mulher me encarou com seus olhos castanhos gentis exibindo um pequeno sorriso.

- Sim, já terminei por hoje. – Afundei uma das mãos no bolso de minha jaqueta.

- Oh sim, preciso agradecer a você. Minhas dores de cabeça com o estoque diminuíram drasticamente nesses dois dias, meus ajudantes são meio cabeças de vento.

- Não precisa agradecer. – Dei de ombros, o trabalho não era difícil, na verdade chegava até a ser satisfatório. – É um prazer.

- Claro que preciso, agora vou deixá-la ir ter seu descanso merecido.

- Quem me dera, ainda tenho uma pilha de pesquisas à minha espera. – Pesquisa essa na qual já estou atrasada, espero que Taylor não tenha tido outro encontro com algum rato nesse meio tempo.

- Sendo assim, pegue uma dessas tortinhas para te dar mais um pouco de ânimo. – A mulher mais velha mostrou a bandeja e eu a olhei indecisa, não estava nem um pouco acostumada a esse tipo de gentileza gratuita. – Vamos lá garota, não seja tímida.

- Gracias. – Peguei uma das sobremesas ainda me sentindo tímida. – Até amanhã. – Saí do ambiente quente e reconfortante da cozinha para o frio cortante do exterior. – E aí vou eu. – Mordisquei o doce que ainda estava morno. A geleia cítrica junto da massa macia e fofa me fez suspirar de puro contentamento. Definitivamente estaria com um pouco mais de ânimo agora.

Entrei na enorme construção de pedra que era a biblioteca procurando por qualquer vestígio da garota loira. A encontrei arrumando alguns livros que já se encontravam abertos na mesma mesa que ficamos ontem.

- Desculpe o atraso. – Me movi para perto do objeto sólido para dá uma olhada no que ela havia separado para estudarmos. – O quinto elemento e a manipulação de luz. – Murmurei o título rebuscado em um inglês arcaico quase vitoriano.

- Ainda não encontrei nada sobre clarividência... O que pensa que está fazendo? – Taylor guinchou e segurou meu pulso quando estava prestes a mudar de página.

- Estava tentando começar a ler. – A olhei se entender o porquê daquela reação repentina.

- Você não pode tocar nas páginas frágeis desses livros com esses dedos claramente sujos. – Ela me fuzilou com seus olhos verdes expressivos por detrás das lentes redondas dos óculos, tive medo de apanhar naquele momento.