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dezesseis. espírito do mar
GALENE ERA INTELIGENTE COMO QUASE nenhum animal marinho. E isso se devia ao fato de ela não ser um. Por mais que usasse a forma de orca com frequência, não era a sua aparência original.
Quando ela levou Jade até a ilha de Mulshy, sabia que a mulher se sentiria perdida e tentaria deixar o lugar. Mas Galene sabia que a jovem Muñoz precisava daquele lugar tanto quanto alguém naquele lugar precisava dela.
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Jade acordou em um salto, porém logo se arrependeu, pois as dores a atingiram como uma sequência de socos. Sua cabeça, costas, mãos, tudo estava doendo. Então, enquanto estava tentando recuperar as forças, ouviu um som baixo entre as folhas atrás de si. Se virou devagar e no momento seguinte havia uma flecha apontada para o centro do seu rosto.
A mulher por trás do arco e flecha era linda como poucas que Jade já havia visto. Sua pele era morena, levemente avermelhada por algumas pinturas corporais. Seu cabelo era longo e estava preso a duas tranças que lhe caiam pelo peito, alcançando até sua barriga. Em seu rosto, havia pinturas vermelhas, brancas e pretas, como se fosse uma máscara envolta de seus belos olhos escuros. As roupas eram poucas, para ajudar na movimentação, e deixavam a mostra boa parte dos desenhos espalhados por seu corpo.
— Eu acho que não há necessidade dessa flecha no meu rosto — Jade apontou para o objeto.
Ela não se moveu.
— Sou Jade Muñoz.
— Você não se parece com eles.
— Preciso saber de quem você está falando.
— Ele dirá.
Jade ia perguntar quem era, mas em questão de segundos, a moça já havia sumido e ressurgido com um cavalo, no qual disse para Jade subir.
Elas cavalgaram por alguns minutos, passando por lagos, árvores e outros belos animais como cervos e pequenos esquilos. A Capitã se lembrava de ser próxima aos animais quando era criança, então aquele lugar lhe trouxe boas lembranças.
Mas demorou pouco para que elas chegassem ao destino final. Uma tribo, Jade reconheceu. Com ocas, algumas fogueiras, outros cavalos, e pessoas. Pessoas que encararam a mulher como se ela viesse de outro mundo. A moça que a acompanhou desceu do cavalo e chamou Muñoz para baixo, ordenando que a acompanhasse pela tribo, até que chegassem a maior das ocas.
No centro da cabana havia um homem sentado em uma cadeira de palha. Ele também tinha pinturas, cabelos compridos e usava alguns acessórios feitos de penas. Ele tinha um rosto severo e ostentava um cocar de penas brancas, pretas, cinzas e vermelhas.
— Jade Muñoz foi trazida por um espírito do mar, Chaske. Ela não é igual aos maus.
— Ela carrega armas como as deles, usa suas roupas, Yona Nadhi. Não seja inocente, ela pertence ao povo deles.
— Vocês estão falando dos europeus — Jade concluiu consigo mesma — Vocês acham que eu sou uma mulher europeia? Pelos deuses, não!
Todos a olharam com admiração e alguns pareceram ofendidos com o tom de voz.
— Então de onde você vem, Jade Muñoz, que fora trazida pelo espírito do mar?
— Eu sou do México. Nós acreditamos em Tlaloc, Chantico, Tezcatlipoca. Na chuva de fogo, no grande dilúvio, no vento que transformou os humanos em macacos. Não cremos em cruzes e igrejas, pelos deuses!
Um riso baixo foi escutado dos presentes no ambiente. Jade puxou de sua camisa um pingente redondo e dourado de um calendário asteca. No centro, o deus solar cercado de símbolos para representarem os dias, meses e estações do ano. Aquele foi o único presente dado por sua mãe que resistiu aos anos no pescoço de Muñoz.
— Nosso ouro vem de antes do sangue ser derramado pelos espanhóis — ela mostrou o pingente de forma respeitosa ao líder da tribo.
— Um espírito do mar nunca traria um deles para dentro de nossas terras — Yona Nadhi disse, se colocando entre Jade e Chaske — Pelo contrário. Se ela está aqui, é para nos ajudar.
