IX

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Keisuke estava concentrado em seu celular, digitava com o cenho franzido enquanto Hizashi dirigia, de vez em quando Shouta olhava o filho pelo retrovisor, curioso, ele queria perguntar, mas sabia que iria receber uma resposta atravessada e não teria sua dúvida sanada.

- Então... ouvinte... de onde conhece o senhor Kawata? - Hizashi finalmente perguntou notando que Shouta não o faria.

- Da puta que pariu - Keisuke ergueu o olhar ao perceber que o carro parou, digitando sem ver antes de buscar algo na mochila e sair apressado do carro.

- Ouch, por que ele tem que ser tão parecido com você, Shou? - Hizashi fez bico, tão parecido com seu amigo que na adolescência deles só sabia os xingar.

- Talvez porque seja meu filho - Shouta murmurou humorado descendo do carro e seguindo para a portaria, tocando a campainha.

Assim que foram autorizados a subir eles o fizeram, indo de elevador, Keisuke andava de um lado para o outro parecendo uma fera enjaulada e Shouta sentiu sua preocupação aumentar, isso tinha haver com aquela ligação, ele tinha certeza.

A porta do apartamento estava aberta, algumas caixas ali com figurinhas de nuvens e sorvetes, Keisuke as olhou com certa reverência antes de entrar na casa sem sequer pedir licença.

- Ouvinte! - Hizashi foi atrás, Shouta entrou por último, já entrando em modo profissional.

Na sala, sentado no chão abraçando as próprias pernas, estava um garoto de cabelos azuis afro e olhos igualmente azuis, Kawata Souya parecia destruído.

- Angry... - Keisuke sussurrou, a voz baixa e reconfortante antes de tirar um fone de seu bolso ajeitando nos ouvidos do menor antes de voltar a tomar a distância de um metro.

Hizashi decidiu ir atrás do senhor Kawata enquanto Shouta ainda os observava.

Aos poucos, Souya pareceu sair de sua mente, seu rosto virando lentamente para encarar Keisuke que sorriu brilhante para o outro.

- B-Baji - Souya sussurrou, Keisuke ergueu as mãos e, para surpresa de Shouta, sinalizou em Língua de Sinais Japonesa.

"Oi, Angry."

Hizashi voltou nesse instante, parecendo incomodado e Shouta se virou para o outro herói.

- Senhor Kawata está dormindo, ele só liberou nosso acesso e foi deitar.

Shouta franziu o cenho, mas a porta estava completamente aberta e o adolescente na sala não parecia nem um pouco bem para se defender.

O herói moreno voltou a encarar os dois adolescentes, ambos ainda estavam imóveis, Keisuke sinalizava lentamente, sem movimentos bruscos.

"Smiley pediu para eu vir."

"Ele está aqui?"

Keisuke suspirou e negou.

"Ele está em Tóquio, mas, assim que estivermos bem, podemos ligar pra eles, ir no fim de semana."

Souya não respondeu.

"Quer vir com a gente, Angry? Prometo não sair do seu lado."

Souya assentiu, se levantando com dificuldade, Shouta finalmente notou que ele abraçava um travesseiro macio com fronha felpuda laranja, Keisuke se levantou também, caminhando lado a lado com o outro adolescente.

Keisuke encarou os dois adultos e apontou para as caixas antes de voltar a amparar o amigo.

- Eu não sabia que o ouvinte era capaz de lidar com ataques de pânico tão bem - Hizashi comentou, genuinamente surpreso.

- É um dos amigos dele, da gangue - Shouta contou, ele não gostava nada desse assunto de gangues, mas ficava satisfeito de eles parecerem querer tão bem uns aos outros.

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Souya foi posto no dormitório da 1-F, o garoto havia dormido no carro, a cabeça encostada no ombro de Keisuke, e então seu filho pediu para deixar o amigo dividir o quarto consigo, por hora.

O professor ainda queria entender mais o garoto Kawata, não teve tempo de examinar sua ficha e, desde que ele iria para a turma de estudos gerais, nem sequer tinha colocado como prioridade, mas agora ele sabia que precisava separar um tempo para isso e logo.

Assim, reuniu toda a turma na sala comum e deu a notícia sobre o novo colega antes de Keisuke entrar com Souya, a turma parecia expectante sobre quem seria, mas, assim que o viram de fone, todos simplesmente voltaram para o que faziam.

Shouta nunca iria entender como a 1-F podia ser tão unida se sempre pareciam tão frios uns com os outros.

Agora ali estava Shouta, analisando a ficha de Kawata Souya, ele e seu irmão passaram com notas altíssimas na prova da Escola Preparatória de Heróis de Tóquio, mas nenhum deles tinha se candidatado para o curso de heróis.

Ambos arrumavam muita confusão na escola também, mas nada que pudesse ser provado, alunos problema, como esperado de delinquentes, suas peculiaridades também se complementavam, algo natural para gêmeos.

Souya tinha alergia à polvo e... transtorno de espectro autista, isso explicava tudo.

Shouta levantou buscando por alguns livros em sua estante, como ele não tinha notado? Já tinha lido muito sobre o caso, por que tomou como um ataque de pânico? Mesmo que os sintomas fossem parecidos tinham suas óbvias diferenças e...

Keisuke sabia, seu filho sabia sobre a condição do amigo e sabia como o ajudar, por isso pediu pra ficar perto, por isso a ligação.

- Shou, vem jantar - Hizashi o chamou.

- Eu já vou, Zashi - Shouta suspirou enquanto escolhia um dos livros que tinha para estudar, ele iria saber o que fazer para ajudar de forma eficaz da próxima vez.

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Izuku andava ao lado de Shouto enquanto escrevia, ele estava curioso sobre o novo aluno, queria muito ir até Baji e questionar, mas sabia que o outro nada dizia, sua expressão corporal indicava para se manterem longe.

- Você está distraído hoje, Izuku.

- Só e-estou com muita tarefa, T-Todoroki-kun, não precisa se preocupar.

O bicolor assentiu e os dois voltaram ao silencio, apenas o som dos pássaros quebravam o momento, Shouto suspirou.

- Meu pai quer que eu vá para casa no próximo fim de semana - Shouto contou fazendo Izuku parar de escrever e o encarar.

O esverdeado sabia que o amigo odiava estar em casa, ele havia cruzado com Todoroki algumas vezes entre o Festival de Esportes e os Estágios Supervisionados e soube que o garoto tinha uma relação instável com o pai de pequenos trechos que ouviu.

Shouto não falava sobre isso e pediu para Izuku nunca contar e Izuku concordou, também nunca pressionou o maior por respostas, mas era muito curioso sobre.

- E-e o que vai fazer, Todoroki-kun?

- Quero que vá comigo.

- E-eu?! I-ir passar um fim de semana com você, n-na sua casa?! - Izuku sentiu as bochechas queimarem.

- Por que não? Somos amigos e amigos fazem essas coisas, certo?

- C-como eu poderia saber? - Izuku sorriu, oh, certo, Izuku era como Shouto, os dois não sabiam o que era ter amizades - Mas se você acha que é então vai ser.

Shouto assentiu, pelo menos o menor nunca julgava sua nula capacidade social.

Agentes do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora