Eu desejei teus lábios

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"Você é a pessoa mais imbecil que eu já conheci", foi como Choi San me respondeu depois que eu revelei minhas intenções. Ele não levou a sério o que eu falava nem por um segundo, e se ele achava que eu estava brincando, tinha se enganado. O meu objetivo era claro e agora que tudo parecia tão perto de se conquistar, faria o impossível para conseguir. Mesmo que tivesse que acordar duas horas antes do que eu estava acostumado na sexta-feira e me arrumar como um príncipe somente para entrar naquele veículo lotado e com cheiro de café barato.

O velho boca-de-cuspe felizmente não estava no ponto de ônibus nessa manhã, e eu quase dei pulinhos de alegria ao fazer essa constatação. Porém, haviam pelo menos dez pessoas comigo, e eu nunca me senti tão desconfortável ao ser encarado por um pré-adolescente que mascava chiclete e parecia querer me conquistar fazendo isso.

Quando o ônibus apontou na esquina e as pessoas começaram a se juntar na beira da calçada, me certifiquei de entrar no meio para ser um dos primeiros a subir. Não podia correr riscos e tinha até separado o dinheiro certinho que já suava em minha mão por estar o segurando por um bom tempo.

Algumas pessoas conseguiram entrar antes de mim, me deixando um pouco nervoso pela possibilidade de meu objetivo ter sido atrapalhado, e quando passei pela catraca, xinguei mentalmente ao ver o garoto espinhento que estava no ponto se sentar exatamente onde eu planejava. Percebi quando os olhos de Jongho aumentaram minimamente de tamanho quando ele percebeu que eu estava ali, e me aproximei de si.

– Ei, garoto. – Chamei o adolescente, que sorriu ao me ver. – Deixa eu sentar nessa cadeira aí, vai?

Ele franziu a testa, como se o pedido fosse estranho. O ônibus estava começando a andar e eu me agarrei nas barras amarelas, esperando meu corpo se acostumar com o movimento para poder voltar à minha missão.

– Um beijinho e eu saio. – Disse, erguendo as sobrancelhas de forma sugestiva. Me segurei para não revirar os olhos, acabando por dar uma risada para disfarçar meu incômodo.

– Dez conto pra você sair daí. – Tive que ir pelo caminho do suborno, oferecendo a nota. Ele arregalou os olhos e puxou o dinheiro rapidamente da minha mão, se levantando e indo para o fundo do ônibus.

Sorri vitorioso, me sentando com uma expressão de quem estava muito orgulhoso do que tinha acabado de fazer. Quase me esqueci que ainda tinha uma pessoa do meu lado, que me encarava com os olhos grandinhos enquanto esperava uma explicação.

– Por que você fez isso? – Ele perguntou, a frase saindo junto com uma risada.

– Porque eu queria sentar do seu lado. – Justifiquei, encolhendo os ombros como se a resposta fosse óbvia.

Ele riu de novo, ajeitando os óculos no rosto.

– Ele desce no próximo ponto, era só ter esperado mais um pouquinho.

– Bom, você devia ter me dito isso antes! – Disse num tom quase ofendido, cutucando seu braço com o indicador. O jeito como ele ria era engraçadinho e se ele fizesse o meu tipo, eu já teria me apaixonado por si.

Ele mexia nos próprios dedos e acabou desviando o olhar para a janela, coisa que eu percebia que ele fazia muito quando eu estava por perto. Meu coração batia rápido, ansioso pelo momento em que viria a cara de Choi San ao perceber que eu estava aqui, e depois de duas paradas, eu sabia que ele devia estar entrando.

O procurei entre as pessoas que entravam, e pude reconhecê-lo pelo cabelo ralo, bem penteado para a frente, totalmente diferente de ontem à noite. Ele vestia as mesmas roupas arrumadinhas de sempre e tinha os óculos grossos no rosto, além de uma cara de sono que não conseguiria disfarçar nem se tentasse. Quando seu olhar me encontrou, percebi o exato momento em que o seu humor mudou de calmo para irritado. Suas sobrancelhas se franziram e seu corpo se retesou, mas ele continuou andando em nossa direção.

You Are So Good (At Being Bad)Onde histórias criam vida. Descubra agora