Sua ausência me incomoda

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– Você vai me dizer o que tá acontecendo imediatamente.

Yeosang estava sentado no balcão da cozinha, me olhando preocupado enquanto enrolava a massa de cookies que eu deixei como sua responsabilidade. Minha concentração no molho pra macarronada que pretendia fazer para alimentar todos os nossos amigos foi levemente abalada quando ele disse isso, mas não me deu vontade de falar alguma coisa que envolvia o assunto.

Haviam se passado alguns dias depois daquilo. Depois que eu e Choi San nos beijamos num momento de adrenalina que nunca devia ter acontecido, e que eu passei a me culpar por ter traído minha alma gêmea, mesmo que ele não soubesse de nada. Às vezes, principalmente quando o ambiente estava silencioso ou quando eu não estava concentrado numa tarefa específica, podia sentir sua mão em meu pescoço e o jeito como sua boca se movia na minha. Podia até mesmo perceber o seu perfume invadir meu nariz, me obrigando a fazer careta. Não porque era fedido ou enjoativo, mas porque confundia as reações em meu corpo.

Desde aquele dia, tentei ficar longe dele. Tentei não me meter em confusão e ficar a maior parte do tempo possível com Minhyuk. E esse progresso resultou em alguns amassos no quarto que funcionava como seu camarim, e eu tinha muita vergonha em admitir pra mim mesmo de que a sensação ainda não estava marcada em minha memória. Ele tinha sido ótimo. Era o meu par ideal. O cara destinado para mim. E talvez o que eu sentia era apenas a familiaridade de estar nos braços de quem eu deveria estar há muito tempo.

O que me deixava confuso era forma como a minha animação em falar sobre ele tinha decaído de forma drástica, e era tudo por culpa do guarda de balaclava. Ele não me deixava em paz e mesmo que não tivéssemos interagido por dias, ainda conseguia me irritar do mesmo jeito. Pior eram as vezes que o avistava na faculdade, naquele disfarce que mantinha sem motivo nenhum, todo engomadinho e carregando livros nos braços como se não praticasse atividades ilegais durante a noite.

– Tá tudo bem. Eu estou aproveitando o meu momento caseiro. – Respondi, implorando aos céus que fizessem Yeosang acreditar que eu estava cozinhando feito um louco não porque precisava de uma distração, mas porque estava finalmente parando de procurar um namorado por já ter conseguido um.

A relação entre Minhyuk e eu não poderia ser chamada de um namoro ainda, mas já estivemos mais longe dessa conquista. A cada vez que nos encontrávamos eu sabia que ele estava se entregando um pouco mais, e ficava feliz por estar concluindo meu objetivo. Mas quando saía daquela bolha e encarava o mundo ao meu redor, me perguntava se estava realmente fazendo a coisa certa.

– O Jongho vem? – O Kang perguntou, trazendo a forma já com os cookies no formato certo para que eu colocassse no forno.

Jongho e eu tínhamos nos tornado grandes amigos. Eu fazia questão de roubar o lugar ao seu lado no ônibus todos os dias depois de aquele, e mesmo que algumas vezes San tivesse tentado me tirar dali, ele desistiu ao ter tantas tentativas falhas. Conversar com o garoto de cabelos castanhos era confortante e me trazia um pouco de paz, contrastando com o ambiente caótico que frequentava a noite. O Choi mais novo não sabia que o amigo trabalhava num bar de luta clandestina, e San não parecia disposto a contar.

– Sim. Ele deve estar chegando. – Respondi, desligando o fogão após experimentar um pouco do molho. Estava tudo pronto e eu precisava que os meninos chegassem logo para que minha mente não começasse a se aventurar por mãos fortes e toucas escuras.

Felizmente, Yeosang não parecia mais interessado no jeito como eu andava calado, começando a tagarelar sobre como Seonghwa pretendia adotar um gatinho e me perguntando qual presente seria ideal para dar ao seu primeiro filho. Eu, que não sei absolutamente nada sobre gatos, comecei a falar brinquedos estereotipados, como novelos de lã ou varinhas de pesca, até que um dos deuses do universo ouviu minhas preces e fez a porta se abrir, revelando todos os garotos, incluindo Jongho, que começaram a entrar no apartamento.

You Are So Good (At Being Bad)Onde histórias criam vida. Descubra agora