A Lenda das Bruxas

Capítulo 01

᪥
Dia da caça às bruxas, Westfall.
᪥

O que foi uma noite de festa para uns estava se tornando um tormento cada vez pior para Katherine, que havia descoberto que seu noivo a estava traindo a meses, e para piorar com uma daquelas bruxas que estavam sendo queimadas naquele momento. Tudo o que ela escutava era o som das batidas de seu coração quebrado, estava devastada e nem mesmo ter sido informada de que provavelmente a mulher que havia dormido com seu prometido estava queimando no inferno a alegrou. Quando Norman foi na casa dela pedir desculpas foi recebido pela sua irmã, Judith, que já sabia da história e jogou um balde de água quente nele e disse para ele nunca mais voltar naquela casa. O sono não havia vindo, então as duas irmãs estavam apenas acordadas em seu chalé enquanto os outros haviam corrido em direção à fogueira.

- Onde você vai, Kat? - Judith estava terminando de arrumar os livros na estante quando viu sua irmã passando pelo corredor em direção à porta. - Está tarde e...

- Vou caminhar. Por favor não me perturbe, irmã. - Sua voz estava fria, carregada de mágoa. Judith resolveu não discutir, se o fizesse, sua irmã seria a única que sofreria.

Katherine não sabia exatamente onde estava indo, estava com um misto de sensações, só queria caminhar para um lugar onde a humilhação que sofrera não doesse tanto. Por sorte, a floresta não era longe dali, ninguém a incomodaria lá. Seus pés viraram, caminhando automaticamente para o trajeto que ela sempre percorria para colher algumas flores, as quais dava para Norman de presente depois. Ela não entendia o por quê de estar tão triste se quem cometeu o erro foi ele, aquele estúpido era quem deveria estar se corroendo de culpa, ela não tinha feito nada de errado a não ser se apaixonar por um cafajeste, mas mesmo assim a sensação de perda doía como se alguém tivesse aberto um buraco em seu coração.

Katherine se sentou em um tronco de árvore caído e passou um tempo simplesmente relembrando todos os momentos felizes que ela e Norman tiveram, as declarações e juras de amor, os beijos doces, os presentes, cada lembrança era como um soco em seu coração, mas ela não se importava em sofrer por essas boas memórias, não queria esquecê-las. Katherine se deu conta que estava chorando quando começou a soluçar, então abraçou seu joelho e chorou por mais alguns minutos.

᪥

Vivian corria com seu bebê recém-nascido nos braços, suas pernas doíam intensamente, mas ela se obrigava a continuar, porque ela lutaria e morreria por aquela criança. Lilith e Mary haviam ficado para trás por sua causa, o esforço delas valeria a pena, Vivian voltaria para agradecê-las assim que conseguisse ficar em segurança e esperava que suas amigas também ficassem seguras. Ela ainda conseguia ouvir os gritos assustados das bruxas quando viram a Alta sacerdotisa, Soph, Morrer. Aquela lembrança arrepiava todo o seu corpo.

Então Vivian notou enquanto corria uma luz roxa voando para o céu e parou, por um breve momento apenas. Aquilo era magia negra, ela tinha certeza, nunca tinha visto alguém usando esse tipo de feitiço mas recordava que sua amiga, Lilith, estudava-o escondido, por motivos pessoais, dizia ela. E se ela usou... estava corrompida, Vivian pensava em mil sermões que faria sua amiga ouvir assim que tudo terminasse. Seu coração estava palpitando freneticamente, Lilith não contaminaria sua magia por uma única criança. Não. Talvez por uma única criança não. Mas ela faria isso pelas mulheres inocentes que morreram naquela noite, por elas, Lilith quebrou a maior das regras do templo, que resultava na expulsão.

A culpa consumiu Vivian que voltou a correr com os olhos marejados. O motivo de todas aquelas mulheres se reunirem foi por causa dela, para assistirem a chegada da criança que ia herdar o seu poder, aquele era um evento raro, a maioria nunca viu um bebê com habilidade especial para com o fogo, Vivian tentou explicar que o bebê não ia virar uma chama viva mas todos ficaram curiosos em relação a isso, Mary advertiu que as bruxas raramente tinham filhos, algumas sacrificaram sua fertilidade para obter mais poder, enquanto outras tinham medo do que poderia nascer.