Capítulo 07

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Ave Musa incandescente
do deserto do Sertão!
Forje, no Sol do meu Sangue,
o Trono do meu clarão:
cante as Pedras encantadas
e a Catedral Soterrada,
Castelo deste meu Chão!
(...)
- Ariano Suassuna.
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Sempre que abria os olhos pela manhã, Ivor sentia-se afundando em sua própria cama, a cada noite sua mente parecia prestes a explodir, as dores de cabeça matinais se tornaram mais fortes e nem mesmo os remédios que Rendrik fazia questão de trazer adiantavam. Era como uma sensação de que algo estava fora do lugar, ou melhor dizendo, não se encaixava no lugar. Como as vigas que estavam presentes em alguns dos muros ao redor do palácio, era como se sua mente se ramificasse ao redor de um único pensamento e seu maior medo: ser ele quem não se encaixava naquele lugar.

Ivor terminava de ajeitar sua camisa quando ouviu alguém batendo à porta duas vezes, seguido de um leve rangido da mesma se abrindo.

- Ocupado, majestade? - A voz firme de Rendrik ecoou pelo quarto ainda escurecido, e pelo seu tom, sabia que trazia mais notícias entediantes com as quais somente o rei podia lidar.

- Não, Rendrik. Pode entrar - Ivor tateou cegamente a penteadeira em busca de uma escova de cabelo - Quais são as notícias?

- Nada boas. O rei Alexander, de Kaarsgard faleceu a dois dias. Morte natural, ao que parece - Não era de se admirar, Alexander estava indo para a casa dos noventa anos e soube aproveitar sua vida muito bem durante esse tempo. Ao se virar, notou que o conselheiro segurava uma xícara com um líquido amarelado. Rendrik percebeu o olhar de sua majestade para suas mãos - Trouxe para sua dor de cabeça.

- Devo escrever uma carta transmitindo minhas condolências? - um criado adentrou no quarto assim que Rendrik afirmou com o rosto, fazendo uma reverência desajeitada, então começou a arrumar os lençóis - O que mais?

- Teremos uma reunião com o conselho daqui a trinta minutos, para discutir a respeito do falecimento do rei Alexander e uma possivel data para a coroação de seu sucessor, o filho primogênito Alexander II; possível ameaça em Dragomir; saques frequentes em aldeias próximas... - Ivor ergueu a mão, silenciando o conselheiro, então olhou para o criado que parecia nervoso.

- Vamos discutir sobre todos esses assuntos na sala de reuniões.

- Sim, majestade - Rendrik afirmou fazendo uma reverência antes de sair do quarto. Ivor pegou a xícara em cima da mesinha e aproximou da boca, forçando a si mesmo a beber aquilo em um único gole.

Os dois deixaram o quarto e caminharam pelo corredor em silêncio, ao olhar de relance para Rendrik, Ivor sentiu uma pontada de inveja no modo como era tão frio e imparcial diante de decisões das quais Ivor levava horas para pensar em uma resposta que ele ache ser a melhor opção e preparar um argumento.

- Alguma notícia da família Cadman?

- Sim, majestade. Hoje pela manhã chegaram duas cartas do castelo Cadman, uma endereçada ao senhor e outra à senhorita Amice.

- Você já entregou para ela? - Rendrik afirmou com o rosto.

Eles desceram um lance de escadas e logo em seguida subiram outro, à esquerda. Todos já esperavam na sala de reuniões quando Ivor abriu as duas portas.

- Bom dia, majestade - Dizem em uníssono. O padre Louis abaixa o rosto fazendo uma pequena reverência. Johaan estava ao seu lado com sua habitual roupa de treino, sem se importar com as formalidades. Ivor notou que ele segurava um papel nas mãos, com um semblante sério.

A Lenda das BruxasOnde histórias criam vida. Descubra agora