13. Fuga

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Diferente dos últimos dias, a terça-feira amanheceu nublada em São Paulo, um pouco incomum para o começo de fevereiro, mas não tão incomum assim quando se tratava da aleatoriedade do clima na cidade. Sarah nunca foi uma pessoa muito matinal, a menos que houvesse necessidade, então as longas persianas no quarto garantiam que o ambiente estivesse escuro o suficiente para que fosse impossível distinguir se era dia ou noite ou se ao menos o sol havia dado as caras.

Juliette começou a despertar e sentiu a respiração de Sarah próxima a sua nuca e o braço da loira pesar sobre sua cintura. Havia experimentado poucas vezes essa sensação, de acordar com Sarah ali junto dela, mas tinha ciência de que era uma de suas preferidas até ali. Era como ver a família reunida em uma noite de natal, ou tomar um chocolate quente em baixo as cobertas nos dias de inverno pesado, era como gargalhada de criança, daquelas que faltam o ar. Lar, paz, aconchego, proteção.

Lembrou-se vagamente do momento em que sentiu Sarah chegar e a envolver em seu colo durante a madrugada, talvez houvesse dito algumas palavras, mas Juliette já se teletransportava entre sonhos e não foi capaz de assimilar com clareza o que foi ou não real, mas sentia seu coração tão aquecido quanto seu corpo ali embaixo das cobertas.
Ficou ali por longos minutos, se recusando a voltar ao mundo real. Ignorou o impulso de checar o celular para saber o horário, se havia algum compromisso importante do qual ela não se lembrava ou se o horário de retorno ao Rio já se aproximava. Se não soubesse, sua consciência estaria tranquila e ela podia seguir ali aproveitando a companhia, mesmo que silenciosa, de Sarah e ignorando completamente o resto do mundo.

Embora tivesse plena consciência do quão confuso e errado era agir daquela forma, a bolha paralela ao mundo real em que as duas estavam vivendo nos últimos dias era a única forma de estarem juntas sem se deixar enlouquecer. Vinham ignorando a realidade em que viviam, o passado mal resolvido, o futuro incerto e todas as consequências daquela relação recente, desde o minuto em que cederam aos instintos e se beijaram pela primeira vez.
A verdade é que nenhuma delas sabia se teriam forças para enfrentar tudo aquilo, ou se estariam as duas dispostas a tanto e a resposta que ecoava em suas mentes não era nada favorável.

Juliette sabia que estava envolvida e entregue demais para recuar e apesar de saber que a loira estivesse tão envolvida quanto ela, ainda sentia Sarah fechada em relação a sua história e seus sentimentos. Saber que aquela não era a primeira vez em que a loira se via em meio a uma luta contra sua sexualidade, havia deixado a paraibana ainda mais confusa. Juliette sempre foi aberta em relação a isso, nunca precisou se rotular tão pouco se preocupava com os outros, vivia seus sentimentos sem se prender a todas essas questões, mas sabia que para Sarah aquilo era diferente e finalmente entendeu de onde vinha tamanha preocupação e necessidade de afirmação da loira em relação a esse assunto. O que muitas vezes chegou a virar motivo de piada entre os fãs e colegas, era claramente autopreservação, ou o fato dela mesma precisar se convencer daquilo.

- Ju... Juliette, ei!

A morena só despertou de seu devaneio quando sentiu a mão quente e macia de Sarah deslizar por seu rosto. Virou-se assustada e viu a loira a observando intrigada, sentada a seu lado.

- Oi! Meu Deus, eu nem te vi acordar.

- Eu percebi... Achei que estava dormindo de olhos abertos. Tudo bem?

- Sim meu amor, tô bem! Eu tava despertando ainda. - Sorriu sem graça enquanto se sentava e puxava Sarah para um abraço. - E tu, tá bem? Achei que ia estar moída na ressaca hoje. Como foi ontem? Me conta tudo!

- Não estou na minha melhor forma, minha cabeça tá doendo um pouco, mas estou melhor do que esperava. Vou tomar um remédio e já te conto.

Sarah se levantou e foi até a cozinha, tomou o remédio e logo voltou com Ralph no colo. Se ajeitou na cama novamente com o filhote ao lado de Juliette.

Por Trás de Nós - SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora