𝓹𝓸𝓷𝓽𝓸𝓼 𝓭𝓮 𝓿𝓲𝓼𝓽𝓪

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Passou a escova pelos cabelos recém lavados mais uma vez, enquanto encarava a lua através da janela. O movimento automático se repetia, já que sua mente estava nublada em meio a pensamentos constantes sobre seu cotidiano corriqueiro em Konoha.

Treinou boa parte da tarde naquele dia, e agora sentia seus músculos doerem, clamando por descanso. Neji vinha se responsabilizando cada vez mais para ajudá-la a aperfeiçoar seu Jūho Sōshiken, os resultados não poderiam ser melhores.

Hinata se tornava uma Kunoichi cada vez mais forte, e o primo se sentia extremamente feliz em ver tal evolução na garota.

Por isso, com tal reflexão se conduziu até o quarto dela, querendo por em pauta o treino que tiveram e quem sabe poder discutir ataques novos que pudessem vir a usarem juntos futuramente.

Bateu sutilmente a porta, o suficiente para que ela pudesse ouvir. Ainda assim, não obteve respostas, então repetiu o ato.

Que estranho.

— Hinata-sama? – chamou-a, já entrando no recinto, temendo o pior.

Felizmente, viu Hinata apenas distraída enquanto penteava seus cabelos de frente para a janela, com a visão claramente fixa no céu azul escuro naquela noite.

Cogitou, por alguns instantes, o que estaria se passando na mente dela.

Fato era que se via preocupado desde que a viu recobrando a consciência depois de voltarem da missão, após o ataque a vila. Os joelhos dobrados de Sakura tentando estancar o sangue escorrendo em larga escala, tremia apenas imaginando caso o pior realmente tivesse acontecido.

Não teria se perdoado, nunca.

Aquelas lembranças eram de longe as piores que poderia ter. Mesmo se contendo, quando chegaram ao clã naquele dia, tratou de cuidar dela pessoalmente.

Ver sua prima bem e saudável naquele instante, traziam-no uma sensação de paz.

Hinata, que estava delirando dentro de sua mente, assustou-se ao notar a presença de seu primo no cômodo. Sequer tinha sentido seu chakra.

— Por Kami, Neji nee-san, há quanto tempo está aí? – pôs a mão sob o peito, sentindo os ritmos cardíacos que se aceleraram rapidamente.

— Só alguns minutos – ele riu levemente, se aproximando dela e se sentando em um dos bancos que havia ali – Estava bem distraída.

— Sim, eu…– pensou um pouco antes de responder, ponderando se poderia ser sincera com seu primo. Ao menos, ele não faria piadas de si – Quero te contar uma coisa, na verdade.

Neji viu o brilho dos olhos dela mudarem de uma forma que ele já observou antes, mas agora pudera chegar a conclusão sobre esse mesmo brilho estar se refletindo na alma dela. Algo tão profundo a ponto de fazê-la compartilhar consigo.

— Sou todo ouvidos – ofertou-lhe um sorriso de conforto, encorajando-a a dizer o que quer que fosse.

Um pouco trêmula, se sentou ao lado do primo, afinal, não era todo dia que se dizia em voz alta para alguém sobre sua paixão aparentemente platônica.

— Ultimamente meu coração parece estar inquieto. Mais do que o normal – iniciou calmamente, recebendo um olhar extremamente atento de Neji em si – Sinto uma necessidade absurda de ser sincera comigo mesma quanto aos meus sentimentos, ao mesmo tempo em que meu outro lado grite diariamente para eu me abrir e assim conseguir tirar um certo peso dos meus ombros.

Ainda que não entendesse muito bem o que aquelas palavras significavam, respondeu.

— E qual seria a razão dos seus sentimentos estarem conturbados dessa forma?

Hinata deu de ombros.

— Talvez eu tenha implantado algo em minha cabeça, ao invés de ouvir a razão. Me martirizar na maioria das vezes….parece mais atraente do que a humilhação.

— Por que nesse cenário você teria que ser humilhada?

A garota não respondeu.

Levantou-se, foi de encontro ao seu guarda roupas pegando a blusa que usou naquele fatídico dia. Haviam feito uma emenda a seu pedido, pois era sua blusa favorita.

Passou a mão suavemente sob a costura irregular não original do tecido. Poderia ser para lembrá-la…

Se virou em direção a Neji, que via pacientemente as ações de Hinata.

— Acha que sou corajosa? – perguntou sem erguer os olhos, esses vidrados na peça em suas mãos.

A cada palavra dita, o Hyuuga estranhava o rumo daquela conversa. Teria ele entendido errado o brilho que viu nos olhos dela? Seria uma tristeza a qual não conseguia mais guardar e quisesse pôr para fora?

— Imensamente.

Ela sorriu, satisfeita com a resposta, mas triste por saber que ele não estava mentindo. Ao mesmo tempo que se sentia cheia de tal adjetivo, seus atos notoriamente provam o contrário.

No entanto, também não era covardia.

— Um impasse – murmurou, mais para si do que para ele.

— Vai parar de ser enigmática e me contar logo o que está acontecendo com você?

Uma risada suave saiu de sua garganta. A paciência era sim uma virtude dele, porém tinha ciência da preferência do seu primo pelas pessoas serem diretas.

— É uma droga ter que esconder minhas intenções. Engano-me tanto a mim quanto ele.

Jogou então, a peça de roupa para ele.

Neji rapidamente somou dois mais dois, e o resultado foi bem mais do que claro.

A realidade atingiu-o como a muito não fazia. Era leigo sobre tal assunto, por isso não compreendeu de pronto os enigmas ditos por Hinata, nem mesmo o assunto em si pautado.

Quis se estapear.

Estava sendo sufocada por seus sentimentos, deixando de declarar a Naruto por medo da rejeição, optando em deixar a mente martelar constantemente com relação ao seu receio, iludindo-a quanto ao fato mais lógico que seria dizer a ele tudo o que sentia.

Agora estava tão óbvio.

Porque, a primeira coisa que pensou ao vê-la lutando contra Pain era o quanto aquilo parecia uma loucura descabida.

Ainda assim, entendia seus motivos de ter tomado tal atitude.

No mesmo instante, algo fervilhou na sua cabeça, fazendo toda aquela situação se tornar risível, uma vez que o sentimento era mais do que recíproco.

Poderia ser retardatário quanto ao assunto, os sinais, entretanto, se tornavam cada vez mais claros.

Foi naquele mesmo momento, o ódio da raposa se espalhando pelo corpo do Uzumaki, consumido cada músculo, pedaço de pele e fio.

Hinata salvou a vila, e sequer se dava conta.

Foi Por ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora