01. Dispenso apresentações

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Acordei já me arrependendo, seria muito melhor continuar dormindo sem ter que ir para aquela escola cheia de pessoas insuportáveis.

Eu já sabia como seria, todo ano é a mesma coisa, o mesmo primeiro dia, as mesmas pessoas desprezíveis, os mesmos professores inestéticos. Chega a me dar enjôo.

Levantei da cama com muito esforço, e peguei a primeira roupa que encontrei em meu armário.

Saia preta um pouco acima do joelho, meia calça arrastão, uma blusa transparente de renda escura e por baixo uma camiseta cinza, caída no ombro.

Claro que meu colégio exige uniforme, porém, eu nunca usei em nenhum dos dois anos que estudo lá. A dona Íris (inspetora) sempre ameaça me mandar para a diretoria, mas nunca tem coragem.

Desci as escadas até a cozinha, minha mãe não estava, já que trabalha do início da manhã até a madrugada. Faz cinco dias que eu não a vejo, contei em meus dedos e dei de ombros.

— O que eu vou comer? — perguntei a mim mesma.

Me voltei a uma maçã em cima da pia molhada. — Vai isso mesmo. — declaro e pego a fruta. Coloquei meus fones e minha mochila, que estava jogada no meio da sala desde o início das férias, no ano passado ainda.

Eu não entendo a necessidade das pessoas em comprar mochilas novas a cada ano. Não faz a mínima diferença, na minha opinião. Os meus materiais e os novos deles cumprem a mesma função. Fora que eu posso gastar esse dinheiro com outras coisas bem mais úteis.

Tirei do bolso uma caixinha de cigarros e acendi um, enquanto observava o movimento das ruas.

Cheguei atrasada na escola, fui andando lentamente até minha nova sala. Olhei pela pequena janela de vidro que havia na porta (e que eu havia trincado no ano passado, quando joguei o garoto que estudava naquela sala contra a porta. Seis pontos na cabeça e uma suspensão de uma semana, por pouco não fui expulsa. Agora o vidro já tinha sido trocado, pois, se há uma coisa que a diretora detesta é vidro quebrado).

Todos já estavam posicionados em seus lugares e a professora de ciências já estava dando sua aula e falando algo sobre chuva ácida.

Entrei triunfante, trazendo todos os olhares de ódio, medo e desdém até mim.

— Está atrasada como sempre, senhorita Nicols. — pronunciou ela, fazendo cara de brava. — Na próxima vez que se atrasar terá sérias consequências.

Todos os professores sempre faziam as mesmas ameaças, mas as consequências nunca passaram disso.

Virei os olhos, sentando em meu lugar de sempre. Sorri de canto ao constatar que ninguém teve a coragem de roubar meu lugar, para a sorte deles.

Alguns bilhetes pousaram em minha mesa.

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Alone do céu! Você soube da fofoca??? O Estevão está ficando com a Elena do 1°A! Eu vi os dois se beijando no corredor. Ele nem esperou uns meses depois de vocês terminarem pra ficar com outra. Que cafajeste!

Daphinny
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Virei o bilhete.
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Dane-se, eu não ligo pro que ele faz ou deixa de fazer. E você deveria fazer o mesmo.

P.S: Desde quando somos amigas Daphinny?? Se eu quisesse saber de suas fofocas bestas teria eu mesma te procurado. O que não vai acontecer nem em mil anos.

Alone
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Respondi apenas por pena. Outro pousou logo em seguida.
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Oi Ale, achei que não viria, já que nunca vem no primeiro dia de aula. Que bom que veio = ) Como foi suas férias?

Matias
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Esse eu simplesmente não respondi. Apenas joguei para baixo da mesa e olhei para o Matias, que acenou pra mim.

Matias Wilians, CDF, óculos, nunca vi ficar com ninguém, certinho, o que significava nunca ser alvo das minhas ameaças. Realmente uma pena, um rosto amedrontado combinaria com ele, quem sabe um dia eu descubra algum podre dele e tenha a oportunidade.

Sim, eu realmente não costumava vir na primeira semana de aula, como ele disse no bilhete, mas hoje eu tinha um assunto importante para resolver com uma pessoa. No recreio.

Me virei para a Daphinny. Ela estava esperando o bilhete de resposta, o assunto era tão insignificante que eu até havia esquecido de responder, então joguei para ela o papel, que leu atentamente cada palavra e no final fez cara de ofendida.

Daphinny é a menina mais fofoqueira da sala. Ela sabe de todas as fofocas antes mesmo de se tornarem notícias e isso me irrita, pois a maioria dos assuntos não são da conta dela.

— E pare de me importunar! — falei enquanto ela ainda me encarava.

Ajeitei minha mochila atrás de mim e dormi até o fim da aula, depois me acordaram e eu infelizmente não consegui pegar no sono de novo na aula seguinte.

[...]

— Oi Ale. — o Matias parou em frente a minha mesa assim que a aula acabou.

Eu já estava acostumada com ele, era só mais um que não saía do meu pé. Todo dia tentava puxar assunto comigo, nerd porém bonitinho. Tentava ser meu amigo desde que cheguei a escola. Mas sempre o evitei pois opto por trabalhar sozinha. Não preciso de um assistente ou qualquer coisa parecida.

Era a primeira vez que falava comigo desde que comecei (e terminei) a namorar com o Estevão (que por sinal não estava na minha sala este ano. Ainda bem, eu teria um pouco de trabalho para dar um jeito de expusá-lo da escola, caso não optasse por mudar de sala voluntariamente).

— Oi. — respondi sem o olhar diretamente.

— Tu-tudo bem? — eu odiava essa pergunta, a resposta das pessoas era sempre automática. Na maioria das vezes ninguém realmente se importava se realmente estaria bem ou não, eles só são educados.

— Tudo igual sempre... — respondi finalmente focando em seu rosto. — Bem nunca esteve. Com licença.

Levantei para sair da sala, mas ele continuou parado em minha frente.

— Que pena. Você parece o tipo de pessoa que ficaria ainda mais bonita sorrindo.

— Que bom que eu não que eu não me importo com beleza e estética. Eu não gosto de sorrir. — retruquei irritada.

O sorriso que estava em seu rosto foi aos poucos se dissolvendo, até as covinhas sumirem e ele ficar sério. — Eu sei que ainda existe uma pessoa sorridente, aí dentro. Mas você a esconde.

— Essa pessoa morreu há... — eu não queria falar sobre aquilo com ele, nem com ninguém, então apenas respondi: — Essa garota era inocente demais, como você, Matias.

Ele ia dizer algo, mas nessa hora um aluno de outra sala, provavelmente amigo dele, apareceu e o chamou para ir ao refeitório. Assim que me viu, olhou para o amigo e deu um sorrisinho de canto.

Nem perdi meu tempo imaginando o que se passou na cabeça dele. Não era útil.

— Ale, eu preciso ir ao refeitório, depois conversamos, ok? — ele avisou já indo em direção a porta.

— Tanto faz. — murmurei e saí também, me lembrando que tinha algo importante para tratar com uma pessoa. Ó, isso seria bem interessante...

Alone Por Alone Onde histórias criam vida. Descubra agora