31. Capítulo especial

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- Você não quer minha companhia aqui? - ele pareceu meio ofendido. - Era minha obrigação cuidar de você. Não precisa se desculpar, eu gosto da Alone surtada do jeito que ela é.

- Eu sempre quero a sua companhia, mas eu sei que está cansado, foram longas horas aqui nesse hospital - sorri para ele mostrando que ficaria bem e também pelas palavras.

- Tá, eu vou ficar mais uma hora aqui com você e depois vou, pode ser? - fiz que sim com a cabeça, meio contrariada.

E em seguida adormeci. Como os remédios para dor eram muito fortes, isso ficava acontecendo o tempo todo sem que eu pudesse controlar. Eu odiava. Mas em alguns dias aquilo acabaria.

Acordei e olhei para o lado, na cadeira. Ele não estava mais lá. - Quando eu disse para ir embora, eu não quis dizer para realmente ir... - sussurrei, falando sozinha.

- Ah, então você achou que eu não fosse te esperar acordar? - ouvi a voz dele do outro lado.

- Ma-matias, é... você tinha razão, eu estou delirando! Completamente fora de mim. - Eu não podia deixar ele pensar que eu sentia saudades ou carência...

- Este é o ponto. Quem está delirando não admite que está delirando. - ele segurou um risinho.

Droga, por que ele tinha que ser tão inteligente?!

- Eu não tinha dito que podia ir embora? - troquei de assunto antes que ele me deixasse ainda mais constrangida.

- Disse, mas pelo jeito você não quer que eu vá, não é? - sorriu de canto.

Fechei os olhos com força. A ideia veio magicamente: fingir estar passando mal para que ele esquecesse aquilo. Até porque é normal isso acontecer em um hospital, não? E com aquele tom pálido que eu devia estar, certamente convenceria qualquer um.

Fingi estar fraca.

- Ale? Quer que eu chame a enfermeira? - ele falou mais alto que o tom normal da sua voz.

Tive que fazer um esforço sobrehumano para não rir.

- Eu... não me sinto bem. - falei, forçando uma voz fraca.

- O que você tem? - ele berrou com a testa franzida.

Não consegui segurar a risada. Sentei na maca e fingi estar desmaiando.

- Ó, Mat, me ajude, eu vou desmaiar! - dramatizei caindo em cima dele como se estivesse falando sério.

Ele me segurou, mas não em tom de brincadeira como eu estava fazendo. Ele estava me segurando forte pela cintura, me encarava fixamente com a testa ainda franzida, mas ao perceber que eu estava bem, ficou com uma expressão bem mais leve, mas sem desviar seus olhos dos meus.

Assim, de tão perto, pude ver o quanto seus olhos eram bonitos, eles estavam escuros por não estar perto do sol, mas ao mesmo tempo, aquela escuridão os fez parecer fundo e infinitos. Davam vontade de chegar mais perto, para ver se realmente eram...

- Mati... - minha mãe chegou com um telefone na mão. Nos fazendo se desvencilhar no mesmo instante.

- E-eu não sabia... que vocês estavam... ocupados - ela sorriu amarelo.

- Quê? Nã-não. Não tem nada disso! - minhas bochechas queimavam, assim como o resto do corpo. Eu sabia que ela não havia acreditado.

- Estava falando comigo, Sra. Kendaw? - Willians perguntou, mais pelo desespero do que pela curiosidade, acredito.

- É... - ela pareceu estar lembrando do que queria dizer - seu pai ligou, ele quer saber quando deve vir te buscar... - Ela olhou pro chão e disfarçou um risinho - Devo falar que estará muito ocupado pelas próximas horas?

- Mãe! - a fitei com um olhar mortal.

- Nã-não. Diga a ele que pode vir quando quiser, já que você disse que está bem, Alone. Amanhã eu volto. - não gostei do fato de ele ter me chamado pelo nome, ao invés do apelido, mas concordei sem questionar.

Assenti com a cabeça sem nem olhar para o seu rosto.

Ele beijou minha bochecha de surpresa, bem rapidamente, e saiu pela porta mais constrangido do que o normal - Vê se não desmaia de novo, menina bonita... - piscou para mim e desapareceu.

Minha mãe começou a dar pulinhos. - Eu sabia! Você é uma péssima mentirosa!

- Mãe, nada estava acontecendo. Eu só fingi estar passando mal, foi só uma brincadeira! - falei mais tentando me convencer daquilo do que a ela.

- Ah, claro. Amigos não olham assim para outros amigos. É visível o quanto seus olhares se entrelaçam quando se vêem.

- Virou poeta agora? Ou será que profeta? - debochei de sua cara. - Eu não devo explicações a você.

- Acredite no que estou te falando. Esse menino está apaixonado por você.

Respirei fundo e tive que admitir: - Eu sei disso.

Alone Por Alone Onde histórias criam vida. Descubra agora