Vai ser covarde até quando?

994 162 45
                                    

Baji ----------

— Você precisar cortar as pontas desse cabelo, Keisuke, estão horríveis! — Minha mãe criticou enquanto passava os dedos nos meus fios, desembaraçando-os ao mesmo tempo em que fazia cafuné. 

— Eu vou cortar, é que esse fim de semana eu saí com a Ayane e não consegui ir cortar — falei bocejando, já entediado com o filme que ela tinha escolhido para assistirmos juntos. 

— Falando em Ayane... até hoje não conheci essa sua namorada. Estão há quanto tempo juntos? 

— Dois meses. 

— E não trouxe ainda? Sua primeira namorada, Keisuke, imaginei que eu fosse conhecê-la antes — ela me deu um tapinha na testa e eu ergui os olhos, encarando-a com o cenho franzido. 

— É, não deu...— suspirei. 

— Bom, pelo menos me fala sobre ela. Mal conheço minha nora. Com o que ela trabalha? — Respirei fundo e joguei a cabeça para trás. Não era bem o tipo de conversa que eu queria ter naquele momento. 

— Ela é adestradora de cães. 

— Ah, então o trabalho de vocês é parecido — disse com empolgação — Do que ela gosta? Quer fazer um almoço aqui em casa pra gente se conhecer?

— Não vamos marcar nada ainda, não tem como saber se vai dar pra vir ou não — falei sem muita empolgação e minha mãe me olhou confusa. 

— Até aquela sereia pelada na sua sala eu conheci e sua namorada não — engoli em seco quando ela falou.

Eu nunca tinha contado sobre o meu rolo com a [Nome], apenas citei que tínhamos saído algumas vezes e ela foi embora repentinamente. Entretanto, minha mãe parecia ser uma especialista em ler entrelinhas e descobrir o que não deveria. 

— Não trouxe a Ayane em casa, mal fala dela... que tipo de namoro é esse? — Minha mãe questionou e eu bufei quase rosnando. 

Definitivamente não estava afim de tocar naquele assunto, mas minha mãe estava muito determinada a me fazer falar. 

— Ah, eu tô muito atarefado com a clínica e tudo mais — foi a única desculpa esfarrapada que eu consegui pensar, mas minha mãe obviamente não acreditou. 

Ela pausou o filme e eu olhei confuso. 

Pelo menos uma vez a cada duas semanas nós tirávamos um tempo de mãe e filho. Passávamos uma tarde toda juntos. Eu cozinhava, ela fazia sobremesa, a gente fazia algo divertido. Naquela tarde, tínhamos decidido assistir filme, mas ela não tinha ficado quieta por mais de cinco minutos, sempre voltando no mesmo assunto. 

E quando ela pausou o filme eu entendi que não teria para onde correr. Ela ia me fazer falar, nem que para isso precisasse pegar o chinelo. 

— De todas as pessoas do mundo, eu nunca imaginei que você aceitaria ficar preso numa clínica veterinária — ela falou e eu ergui as sobrancelhas. 

— Tá falando que não achava que eu ia conseguir? — Fiquei quase ofendido, mas ela começou a rir. 

— Claro que não, seu bobo — acariciou meu rosto — É que... você sempre foi um menino livre, Keisuke. Eu nunca imaginei que você iria trabalhar ficando preso num escritório. 

— É que eu sou veterinário, né? 

— É veterinário, mas também é dono da clínica — ela riu. Não conseguia entender até onde ela queria chegar — Sabe que mesmo se você parar de atender, pode contratar um novo veterinário e vai continuar ganhando a porcentagem dele, né?

Devil's Daughter, BajiOnde histórias criam vida. Descubra agora