Sonhos de infância

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[Nome] —————

A semana inteira demorou horrores para passar. Cada dia era arrastado e lento, parecia que tudo ao meu redor me lembrava as palavras de Wakasa. As poucas vezes que fui até a academia eu evitei Draken ao máximo, não estava com condições de mais dores de cabeça. Entretanto, o universo parecia não querer colaborar comigo, fazendo meu celular tocar com uma ligação de Shinichiro.

-Oi, Shin. -Atendi forçando o máximo possível de ânimo na voz.

-[Nome] eu preciso falar com você! -Ele parecia animado o que me deixou confusa.

-Precisa ser agora?

-Estamos indo na sua casa. Até mais tarde!

Antes que eu pudesse responder ele desligou o telefone. Meu estômago revirou com um frio intenso só de pensar em ver Wakasa outra vez. Será que ele iria reconsiderar? Engoli em seco e acelerei um pouco mais, fazendo tudo o que era possível para chegar mais rápido em casa.

#

O elevador estava prestes a fechar quando uma mão masculina com anéis prateados o impediu. Enchi os pulmões com ar e prendi a respiração ao ver o rosto de Baji novamente. Eu o estava evitando desde o ocorrido, embora ele parecesse querer me rodear de todas as formas para falar comigo.

-Tudo bem? -Ele perguntou enquanto as portas se fechavam e eu apenas assenti com a cabeça. Estávamos lado a lado e eu sentia a tensão palpável no ar.

-E você? -Tentei ser educada, mas recebi apenas um aceno de cabeça como resposta.

-Sabe que eu não estou com raiva de você, não sabe? -Ele se virou para mim e eu continuei encarando as portas metálicas. O ponteiro indicava que já havíamos chegado no primeiro andar.

-Obrigada, eu acho.

-Eu sei que o seu lance com o Wakasa era bem mais sério, mas não ache que eu vejo você só como uma peguete. Você é minha amiga também! -Aquela frase me pegou de surpresa. Por alguns instantes eu achei que ele ia se declarar, mas senti algo estranho ao escutar a palavra "amiga".

-Obrigada, Baji. -Dei um meio sorriso de cabeça baixa e o ponteiro marcou o segundo andar.

-Se quiser... jantar lá em casa. Sem interesses sexuais.

-O Shinichiro disse que precisa falar comigo, então...

-Sim, claro, eu entendo. -Finalmente o terceiro andar. As portas se abriram e nós dois tentamos sair ao mesmo tempo, o que não deu muito certo. Baji abriu passagem e eu fui em passos rápidos e curtos, tentando não parecer desesperada para chegar logo no apartamento, embora eu estivesse.

#

Já tinha tomado seis xícaras de café quando finalmente a campainha tocou. Ajeitei a roupa e respirei fundo me olhando no espelho. Queria muito estar apresentável para a conversa que viria, embora eu não soubesse o que Shinichiro diria.

-Certo, vamos lá! -Me motivei uma última vez e fui até a porta da frente. Puxei a maçaneta com certa cautela e abri vagarosamente, procurando os olhos tediosos que eu tanto conhecia e desejava ver novamente, porém fui decepcionada ao encontrar Shinichiro acompanhado de sua namorada. Ela trazia uma pequena caixa em mãos e um sorriso enorme no rosto. -Ah, oi.

-E aí! -Ele me deu um abraço forte e ela fez o mesmo logo em seguida. Meu cérebro tentava raciocinar, embora eu já tivesse entendido que ele não estava lá. Que merda! Eu queria chorar por ter criado falsas esperanças com o nada.

-Entrem! -Abri passagem e eles atravessaram a sala.

Me esforcei para completar toda a cordialidade inicial de uma visita: oferecer para que se sentem, oferecer algo para comer ou beber, ser uma boa anfitriã, falar sobre algum assunto trivial... toda aquela velha e chata história de sempre.

Devil's Daughter, BajiOnde histórias criam vida. Descubra agora