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Últimos anos da Era Meiji | Inverno de 1900

Aviso: descrição de cenas sensíveis que podem pertubar alguns leitores(assassinato, mutilação e ferimentos graves) !

Kanji Hideki forçava seus pés cansados contra a neve pela manhã, seguindo o barulho de uma voz feminina que lamentava alto em agonia, parecendo cada vez mais fraca.

A voz lhe guiava para uma pequena casa, isolada no início da montanha. Era uma sorte ele estar por perto, ninguém mais conseguiria ouvi-lá.

Quanto mais perto ele chegava, mais visível ficava o quanto a casa estava devastada. A atmosfera pesada daquele lugar estava lhe causando náuseas.

Ele continuou caminhando.

Ao finalmente estar frente a frente com a porta meio aberta.. apenas a visão que se tinha dali era suficiente para revirar o estômago de qualquer um.

Sangue espalhado por todo o chão, cobrindo três corpos mutilados.

Um homem adulto, um garotinho que aparentava ter de três á cinco anos e outro garotinho que aparentava ter de oito á nove anos.

Ao adentrar a casa, o jovem hashira conseguiu ter uma melhor visão dos arredores do lugar preenchidos por móveis cheios de marcas de garra, além de mais e mais sangue.

Agora olhando mais de perto, o homem parecia ter tido seus interiores quase completamente devorados, era como se ele fosse apenas uma casca lacerada depois de tudo, seu cadáver contava uma história obscura e arrepiante. A diferença severa entre ele e os outros corpos fazia-o pensar que ele era um marechi.

As crianças apresentavam apenas perfurações em seus pescoços e pequenas partes de seus corpos desaparecidas, além de ferimentos profundos distribuídos por todo o corpo.

E finalmente ele passou seus olhos pela figura da mulher ensanguentada no chão, ela produzia seus ruídos indecifráveis agora com mais determinação, tentando chamar a atenção do caçador.

Alguns de seus órgãos vitais e ossos estavam completamente expostos, vários pedaços de sua carne foram arrancados de seu corpo enquanto ela estava provavelmente consciente.

Sangue escorria incontrolávemente de sua boca e nariz.

Ela estava à beira da morte, quase não conseguia manter seus olhos abertos, impossível de ser salva. Por que continuava tão incessantemente chamando por ajuda?

— Me desculpe. Eu sei o quanto deve doer, mas eu não posso fazer muito por você agora. — Ele lhe ofereceu um sorriso melancólico, ainda sim gentil.

A mulher concentrou toda a força que restava em si em levantar seu braço vagamente e apontar, com sua mão instável, para uma cestinha onde um bebê se encontrava desacordado entre suas cobertas.

Agora ele entendia.

Ela não conseguiria deixar sua vida escapar entre seus dedos enquanto não resgatassem o seu bebê. Mesmo enquanto perdia uma quantidade assustadora de sangue e com certeza agonizava com a dor, ela continuava tentando chamar ajuda sem parar.

Por quanto tempo?

Ele se perguntava.

O homem se aproximou da cestinha. Aquela criança certamente não estava apenas dormindo, sangue se espalhava por todo o seu pequeno corpo, manchando suas roupas bonitinhas.

Com certeza machucada, mas evidentemente não era sangue só dela. Ela ainda respirava bem. Se todo o sangue naqueles cobertores fosse retirado de seu corpo, ela estaria quase totalmente drenada.
À julgar pelo seu tamanho, ela provavelmente já andava e falava, mas ainda era muito pequena em relação à quantidade de sangue derramado ali.

Uma situação tão suspeita..

Hideki sabia desde o início que não era um oni qualquer. Uma lua superior esteve aqui. Seus sentidos não falhavam em dizer.

Pequenas partes do sangue no chão vinham do corpo do demônio. Era como se ele conseguisse enxergar através das circunstâncias.

Aquela família relutou muito. Distribuiram ferimentos inúteis nele com o que puderam, mas é claro que ele regenerava até o mais profundo deles em um piscar de olhos. Sem esforço algum. As tentativas deles logicamente não eram nada além de patéticas para o oni.

As marcas de garras por todo lado eram bem descritivas sobre a luta. Talvez ele tenha tido a diversão dele sobre o desespero da família, afinal.

Hideki podia sentir que grande parte do sangue envolvendo as roupas da garotinha, a única sobrevivente, eram da lua superior.

Mas como? Por que?

Ele só esperava que as células de Muzan no sangue do oni não entrassem em contato com os possíveis ferimentos da garota.

— Por favor, vá descansar. Você merece, depois de tudo que passou aqui. — Ele dirigiu-se novamente à mulher, que lhe devolveu um olhar lamentavelmente cansado, mas ainda insistente. — Não se preocupe, sua filha está em boas mãos. Irei garantir sua segurança e bem estar enquanto estiver sob minha responsabilidade.

— Nara.. — a voz fraca da mulher produziu um som quase inaudível.

— O que? — Ele se aproximou para ouvir melhor.

— Nara Mikazuki.. é o nome dela. Tem um ano e meio de idade. — Ela continuava forçando-se a falar, por sua filha. Sua voz extremamente rouca e baixa.

— É um nome bonito. — Ele sorriu. — Você fez um ótimo trabalho.. — Ele disse enquanto suavizava seu sorriso, tornando-o mais melancólico novamente ao perceber que a mulher já não tinha mais muito tempo, esta era a parte difícil de ser um caçador.

A mãe sorriu de volta enquanto seus olhos aos poucos se fechavam e sua respiração ficava mais calma. Sem poder impedir por mais um segundo, o seu corpo relaxava-se por completo. Minuto por minuto, o corpo dela já não fazia mais esforço nenhum.
Nem mesmo seus pulmões ou coração.

Ela se foi.

E assim o jovem homem deixou a casa, carregando delicadamente o bebê embrulhado nos cobertores em seus braços.

Em rumo à uma nova era.

Kanji Hideki
Hashira da Folha
24 anos

Kanji HidekiHashira da Folha24 anos

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𝐓𝐒𝐔𝐊𝐈 𝐍𝐎 𝐂𝐇𝐈 - Demon Slayer: Kimetsu No Yaiba OCOnde histórias criam vida. Descubra agora