Capítulo 7

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Sun olhava para a lápide de seu pai com olhos cansados e vermelhos. Ainda estavam úmidos e lágrimas insistiam em descer. Todos já tinham ido embora mas ela resolveu ficar um pouco mais. Fechou o guarda chuva que estava sobre sua cabeça e olhou para o céu cinzento deixando que a chuva molhasse seu rosto e seu longo cabelo loiro. Estava imaginando como seria tanto a sua vida quanto a da sua mãe. Não sabia se continuariam na casa, o lugar já tinha se tornado pra lá de sombrio. Sun queria pelo menos ter abraçado seu pai, queria que alguém tivesse confortado ele, dissesse que tudo ia ficar bem. Ela não aceitava o fato de ele estar a sete palmos abaixo da terra. Em um lugar frio. Solitário. Odiava mais ainda saber que ele iria se deteriorar ali, óbvio que todos morrem um dia, mas ser assassinado e arrancado de sua vida é inaceitável. Ela esperava que ele visse seus netos, um dia quando ela tiver filhos e estiver casada contará à eles sobre o avô que nunca conhecerão. Que era um homem forte, quase não adoecia, sempre estava presente na vida de Sun. Quando estava doente a carregava nos braços, aninhando-a. Sempre fazia o possível e o impossível para ver sua família bem e feliz.

Mais uma série de lágrimas escorriam pelo seu rosto. Ela voltou a olhar para a lápide. Olhou a seguinte frase escrita: R.I.P AUGUSTUS MELLARK DE 1974 A 2015.

QUE O SENHOR TE PROTEGA NOS DIAS MAIS SOMBRIOS.

Seu pai era religioso, ia à igreja batista frequentemente. Sun e sua mãe também iam. A família era bem religiosa. Todos os domingos seu pai colocava o terno preto de domingo, Sun e sua mãe colocavam vestidos até o joelho e iam assistir a pregação de manhã. Ela abaixou-se e ficou na posição de cócoras. Imaginou estar olhando nos olhos dele.

- Eu te amo pai. Eu te amo muito. E você vai fazer um falta tremenda. Não era pra você ter ido e deixado sua menininha aqui... Lembra quando eu tinha medo do escuro e você me aninhava no seu colo? Sempre me dizia que tudo ia ficar bem e que você me ajudaria a passar por aquilo? E agora pai? Sem você, quem vai me ajudar a passar pelo escuro?

Sun abaixou a cabeça e chorou em silêncio. De repente um leve tremor a fez desequilibrar e cair sentada no chão de terra. Ela olhou pros lados e não havia ninguém ali. Será que ela ficou louca ou era só um terremoto? Se tivessem mais pessoas daria pra saber, mas como estava sozinha ficava difícil. Mais uma vez a terra tremeu, agora por uns 7 minutos. Sun levantou-se e passou a mão pela lápide de seu pai. Limpou as roupas e caminhou para a saída. Se houvesse um terremoto ela não queria estar no cemitério bem na hora.

Saiu do lugar e passou pelos portões de ferro fino e desgastado. Sua mãe já havia ido assim como os outros. Sun iria a pé pois ficava próximo a sua casa. Caminhava lentamente pela calçada enquanto a chuva fina lhe molhava. Estava olhando para seus próprios pés, brincando com pequenas poças d'agua. Levantou a cabeça e notou alguém mais a frente. Arrastando uma perna enquanto caminhava. A situação daquela pessoa parecia precária, parecia doente, nada bem. Foi aproximando-se lentamente até estar bem próxima de Sun. Parou na frente da garota e a encarou. Era um homem. Sun congelou e não conseguia se mover um centímetro sequer. Ele começou balbuciar algumas palavras mas ela não entendeu nenhuma delas. Então ele pareceu cuspir cada palavra que dizia:

- Corra, garotinha. Saia daqui. A peste está chegando. A peste está...

Ele começou a espumar pela boca. Parecia um cão raivoso. A espuma escorria pelo seu pescoço enquanto ele se ajoelhava. Caiu no chão e de repente espasmos convulsivos começaram violentamente. O homem olhava Sun e uma lágrima escorreu pelo seu olho. Sun não sabia o que fazer, estava em pânico, em choque. Apenas olhava o homem que começou a sangrar por todas as partes do rosto. Ela achou que ia desmaiar ou vomitar. Começou a ver pequenos pontos negros por toda parte. Ela o olhou mais uma vez e notou algo mais estranho ainda: um dos olhos do homem estava com a coloração normal, um azul forte, parecia ter algo aceso porém a íris do outro estava completamente vermelho como sangue.

Sun sabia que ia desmaiar. Correu antes que tudo se apagasse. Estava próxima de um comércio para sua sorte e quase na porta desabou no chão. A escuridão engolindo-a por completo.
Ela sentia seu corpo se debater. Como convulsões. Eram muito fortes e seu corpo todo doía. Ela sinceramente achou que estava morrendo.

Sun acordou e sua cabeça estava apoiada no colo de alguém. Abriu os olhos e a fraca luz do dia nublado doeu seus olhos. Havia um círculo de pessoas ao seu redor. Observavam-a com olhos curiosos e também preocupados.

- Oh! Graças à Deus! Você está bem querida? - uma voz feminina soou atrás de Sun, que suspeitou ser a mulher que acariciava seus cabelos, onde Sun estava apoiada.

- Sim, estou sim senhora.

Sun levantou-se e a olhou. Tinha os cabelos grisalhos e a pele clara, um sorriso brotava em seus lábios finos.

- Minha filha, o que houve? - a preocupação era visível na voz dela. Talvez fosse pena.

- Me senti um pouco mal. Mas agora está tudo bem. Muito obrigado por me ajudar.

A mulher assentiu e levantou-se ao mesmo tempo que Sun. O dono do pequeno mercadinho deu-lhe uma garrafinha d'agua. Sun disse que não precisava, mas o senhor insistiu e Sun aceitou, agradecendo à ele.

Caminhou para casa e tomou um caminho diferente de onde o homem doente havia passado por ela. Ao invés de ir direto, entrou na primeira rua após o mercadinho e deu a volta por trás. Era um caminho um pouco mais longo. Mas evitaria outro apagão daqueles.

                                     

In The End (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora