II - Um Retrato Perfeito

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Era como ouvir um anjo ressoando uma doce melodia em alguns momentos. Já em outros, era como ouvir um grito de sofrimento, mas de uma forma emocional, algo prazeroso de se testemunhar. Eram tais as sensações que rondavam os pensamentos da apaixonada mente de Amy, tão cega que não conseguia nem voltar sua atenção para a letra.

Claramente, também não era como se Matt escrevesse uma letra ridiculamente fútil. Ele era extremamente poético e metafórico em seus versos, mesmo com temáticas mais atuais e atmosferas adolescentes. O garoto escrevia cada palavra com um pedaço de sua alma.

A atenção de Amy já estava perdida na beleza e na voz do garoto, portanto, a letra era voltada para a mente de outras pessoas, como por exemplo, Emily Stamey, que estava ao seu lado. O problema era que Emily não era próxima o suficiente de Matt pra entender a real mensagem que o garoto queria trazer. Mas alguém que sabia, era uma colega de Emily, desconhecida até então, Lindsey Pawns.

Lindsey entrou na escola antes de Matt, e como a popularidade do garoto cresceu de forma insanamente rápida, ela resolveu perguntar para o alguém mais ideal quem era esse "Matt Raven" de quem tanto falavam, Tina Mercury. A resposta da garota foi curta e clara. "Matthew Raven? Ah, sim, aquele mesquinho com complexo de Dorian Gray. Fica longe dele."

Obviamente, isso não parou Lindsey. Por mais incrível que pudesse parecer, Matt era um garoto introvertido. Mas isso não significava que ele não tivesse um histórico massivo com as garotas da escola. Ainda que os rumores fossem horrendos, os fatos não eram assim tão negativos. Matt sempre evitava machucar as pessoas, e acabava se machucando mais do que deveria. Lindsey foi uma das primeiras pessoas a perceber isso. Afinal, ela foi a sua primeira namorada.

Era por isso que ela conseguia ter uma interpretação mais profunda de versos como "The lockers are filled with love letters, and I've got no perfume", ou mesmo interpretar por completo a indignação dele por rumores falsos ou algo assim. Isso provavelmente se dava por ela se indignar mais do que ele próprio, na maioria dos casos, principalmente quando se tratava de uma mentira descarada da Gwendolyn Foster, a garota que andava com um saco plástico na cabeça, dizendo que Matt havia machucado seu rosto e deixado uma cicatriz horrível. Esse rumor durou cerca de duas semanas, quando Tina tirou o saco da cabeça dela e revelou uma pele saudável como a de um bebê.

Lindsey e Matt começaram a andar juntos em setembro do ano em que o garoto entrou na escola, se encontrando sempre na saída, já que a escola Rainer de ensino fundamental ficava localizads a apenas um quarteirão de distância da Rainer High, e terminaram devido a uma longa história envolvendo rumores falsos de traição.

"É dezembro.
Há quatro horas era uma noite de novembro.
E não consigo achar a cura pra você, meu câncer
E assim como a neve, minhas lágrimas caem.

Me desculpa, eu só tô realmente muito confuso e não sei direito em quem acreditar. Amo você."

Era o que dizia no bilhete que Matt deixou na janela de Lindsey na madrugada do dia do término.

Os olhares deixavam toda a situação mais evidente. Lindsey ainda era profundamente encantada pelo charme do garoto, ainda mais em um momento como aquele. Os agudos inesperados pra quem só ouvia sua profunda voz de fala, a maneira como ele conseguia trazer um punhado de emoções para algo considerado por muitos fútil e insensível, um solo de guitarra.

Normalmente aqueles que acham que a música é complicada não tentam de fato compreendê-la. Já outros, dizem que não passa de poesia melódica. Em teoria, isso não está tão errado, mas a música vai muito além dessa definição, e ainda assim, não é tão complexa se você tentar não somente compreendê-la, mas sim, sentí-la. Foi mais uma das inúmeras coisas que Matt usou para cortejá-la.

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