"Você aceita?"
Duas palavras simples que podem ter diversos significados dependendo do contexto, mas que, para ele, tinha um signicado especial.
Fazia quanto tempo? Quatro anos?
Mesmo que tivesse sido a mil anos atrás, seria impossível esquecer todas aquelas lembranças que guarda com tanto carinho desde o dia em que aceitou o pedido.
Eijiro Kirishima era um garoto que poderia ser facilmente entitulado como o "garoto exemplar". Ótimas notas, educação impecável, atencioso e dedicado eram as palavras que o defeniam e, possivelmente, as que qualquer vizinha falaria ao seu filho ao compará-lo com o Kirishima. Seu único ato de rebeldia—se é que podemos chamar de rebeldia— foi quando decidiu pintar suas madeichas pretas em um vermelho vivo, deixando seu pai furioso e, ao mesmo tempo, transformando em sua nova marca registrada.
Do outro lado dessa história, temos Katsuki Bakugo, que poderia ser classificado como o "garoto problema". Temperamento explosivo, sempre xingando alguém e burlando regras, era com certeza um terror na vida de seus pais. Atos de rebeldia era o que não faltava em seu histórico, tendo já matado aula, invadido terrenos, fugido de guardas e até mesmo feito um piercing sem consentimento dos pais, o que resultou em uma bela surra.
O dia em que essas duas almas completamente opostas se esbarraram pela primeira vez foi, com total certeza, amor a primeira vista.
Isso seria verdade, se não fosse uma gradissíssima mentira.
Era mais uma manhã fria de outono. Katsuki, que estava cursando a faculdade e tinha conseguido alugar um apartamento há pouco tempo com o salário do emprego que arranjou, estava sentado no banco de passageiro do carro de sua mãe olhando para o vidro com a cara emburrada. Ela educadamente ofereceu uma carona— vulgo, obrigou ele a entrar no carro— até a faculdade onde estudava.
O loiro se sentia extramente encurralado naquela situação, tentando ao máximo arquitetar um plano enquanto via a mãe encostar o carro na frente dos portões da faculdade de negócios da cidade.
Ao sair do carro, respirou fundo e entrou na instituição como se fizesse isso todos os dias. Olhando para trás, viu que o carro ainda estava ali. Claro que estava, ela queria garantir que ele não fugisse.
Naquele momento, seus caminhos se cruzaram. Eijiro esbarrou no garoto, deixando cair alguns papéis com anotações. Ao olhar para quem esbarrou, logo notou que o garoto não era dali. Cabelo loiro espetado, um piercing na orelha que com certeza ele estava tentando esconder com o cabelo—Também tinha um piercing na língua?— e usava uma roupa que não parecia nem um pouco com o padrão daquela instituição.
O loiro também olhou para quem esbarrou. Postura elegante, roupa formal—possivelmente a camisa social era de linho e os sapatos recém engrachados—, o cabelo estava raspado nas laterais e possuía vestígios do que fora o cabelo vermelho rebelde. Com certeza alguém dos negócios.
—Me descul...
—Finge uma conversa— falou Katsuki de forma ríspida— Rápido.
Eijiro não entendeu nada naquele momento. Apenas seguiu o que o garoto misterioso havia falado e andou ao lado dele, falando qualquer coisa aleatória.
Aquele encontro foi o mais inusitado e estranho que ambos tiveram. E não foi o último.
Se esbarraram muito mais vezes que imaginaram em diversos lugares diferentes. Kirishima descobriu aos poucos que o loiro raivoso nunca sequer cursou negócios, e sim que mentia para sua mãe, quando sua verdadeira faculdade na verdade era algo na qual ninguém imaginaria que ele faria: Moda.
A diferença entre eles era gigantesca, mas acabaram completando um ao outro. Parecia que tinham coisas em comum além dos olhos em tom avermelhado e mechas de cabelo pontudas.
A amizade dos dois surgiu tão rápido que mal perceberam que já estavam trocando mensagens e rindo juntos quando se encontravam para conversar. Era tão natural o jeito que agiam que até pareciam se conhecer a anos. Rapidamente descobriram quase tudo um do outro, trocavam segredos e ajudavam um ao outro com os problemas.
Kirishima começava a achar que talvez não estava mais na linha da amizade com o loiro. Ele não era mais o "garoto perfeito" que seus pais queria que ele fosse.
Bakugo estava confuso. Não fazia ideia do que estava acontecendo dentro dele. Seus pensamentos estavam embaralhados, seu coração começava a bater mais rápido e sua alma automaticamente ficava leve ao ver o ruivo.
Não. Ele não poderia... poderia? Um garoto e... outro garoto... daria certo?
Sentimentos confusos rondeavam ambos naquele momento. Mas a aproximação a cada dia e a cada conversa parecia empurrá-los aos poucos até romper a linha.
O primeiro passo de Katsuki fez tudo começar a acontecer de forma natural.
O primeiro passo.
O primeiro beijo.
A primeira vez.
Se fechasse seus olhos, Kirishima ainda conseguia sentir a primeira vez que encostaram seus lábios um no outro, um beijo calmo, tímido, porém quente e desejoso.
O medo tomou conta dos dois, pois sabiam o que veria a partir dali.
Para surpresa de ambos, a recepção da família de Katsuki foi muito melhor que esperavam. O abraço que a mãe havia dado no loiro o confortou. Contanto que ele fosse feliz, ela também estaria.
Já para o ruivo... ah, o ruivo. Apenas por ter entrado em casa com os cabelos novamente no tom vermelho vibrante foi motivo para a fúria de seu pai, que não pensou duas vezes antes de expulsá-lo de casa ao ouvir a notícia de que seu filho não era o rapaz "másculo" ao qual achava. Sua mãe não estava mais ali para confortá-lo.
As lágrimas escorriam por seu rosto, quentes e tão dolorosas quanto navalhas. Seu corpo doía e seu pulmão parecia perder o ar a cada gota que caía de seu rosto. Mas agora ele tinha seu amado, tinha como ser confortado, tinha alguém para abraçar.
Mesmo com o rosto machucado após um soco que levou ao proteger o garoto, o loiro continuava ao seu lado, o abraçando até que as lágrimas cessarem. Tanto as de Eijiro, quanto as dele.
Kirishima estava quebrado por dentro. Seria difícil reconstruir seu coração que havia sido massacrado por seu pai, que nunca o aceitaria. Mas Bakugo estava disposto a juntar cada pedaço, cada caquinho até que estivesse completo novamente.
Começaram a morar juntos no seu apartamento. A rotina de ambos naturalmente se juntou, fazendo tudo o que podiam juntos.
Terminaram a faculdade e conseguiram um emprego na mesma empresa, podendo estar juntos ainda mais tempo.
Estavam felizes. Tudo parecia estar no eixo. Tinham um bom apartamento, um bom emprego e um ótimo relacionamento.
Nada poderia mais abalar os dois, muito menos estragar o amor um do outro.
Era isso que Katsuki achava.
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Você Aceita?
FanficO relacionamento de Katsuki e Eijiro era maravilhoso. Apesar de todos os obstáculos que enfrentaram para ficarem juntos, cada segundo valeu a pena. Eles estavam juntos, se amavam e nada podia estragar isso. Era isso que Katsuki achava. Faltava algo...