Capitulo VI

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Talvez fosse outro sentimento.

Não, era mais que um sentimento de amizade, talvez até mesmo mais do que uma paixonite. Ochako estava mesmo apaixonada, mas não dava para se declarar assim, não agora.

Olhando para o ruivo com seu olhar meio perdido e triste, tudo o que pensava era que queria abraçá-lo e dizer que estava ali para o que der e vier, porque gostava dele. Gostar ou amar?

Mesmo triste, o brilho de esperança ainda estava nele. Ele ainda amava Mina. Mas, por quem ela estaria apaixonada? Seria Hanta Sero, o outro modelo na qual a viu conversando a poucos dias?

Ela deu um último gole no saquê e pediu outra garrafa ao garçom.

A conversa continuou pacificamente. Aos poucos um acabava se abrindo um pouco com o outro.

Se abrir sobre seu amor foi libertador. Mesmo sendo para Ochako, a "outra pessoa", falar o que sentia ali deixou ele mais leve.

A cada gole de bebida, ambos se viam mais próximos. Falar da vida antes de entrarem na empresa e de assuntos aleatórios, como o espaço ou filmes, foi bem divertido, fazendo o ruivo sair da corrente de tristeza que estava o cercando nos últimos dias.

Já passava da meia-noite. O bar estava mais silencioso e havia um ou dois bêbados dormindo nas mesas.

Ambos ainda estavam ali, bebendo e puxando assunto calmamente. Era notável o quão bêbados estavam ali pela tonalidade rubra de suas bochechas.

—Você parece gostar muito desta pessoa ainda.—Ochako falou após alguns segundos de silêncio.

—É difícil esquecer um amor tão profundo.— o ruivo balançou seu copo e olhou o líquido dentro dar a volta no cubo de gelo meio derretido.

—Sabe, não conheço quem fez isso com você, mas perdeu uma das melhores pessoas que já conheci— ela colocou a mão no ombro dele e sorriu.

Não sabia se era porque estava bêbado ou se por conta da conversa tão boa que tiveram ali, mas Eijiro não sentia mais um sentimento ruim pela acastanhada. Pelo contrário, era um sentimento bom. Talvez ele tenha entendido o porquê de Katsuki ter se dividido.

Ele sorriu para ela. Foi um sorriso diferente, um sorriso sincero e feliz, como se dissesse "Obrigado por me animar".

O coração de Ochako errou uma batida ao ver aquele sorriso.

Os próximos passos que ela faria a partir dali com certeza eram culpa das últimas três garrafas que bebeu.

Olhando para os olhos escarlate, ela se aproximou dele e encostou seus lábios nos dele.

Com um leve choque, o selar de lábios foi rápido, acabando assim que um pouco de sanidade voltou a mente da acastanhada.

Ela se afastou mais vermelha do que já estava por conta da bebida. Tirando algumas notas da carteira, colocou em cima da mesa e saiu do bar rapidamente.

"O que diabos eu fiz!?" Sua mente martelava agora. Fez isso sem ao menos pensar e agora poderia ter estragado uma amizade e uma possível chance de algo com ele. Algo com ele? Eijiro nem sequer estava pronto para outro relacionamento e já estava cogitando isso?

Sozinho no bar, o ruivo tentava raciocinar o que acabou de acontecer. Sua mente repetia lentamente, imagem por imagem, dela se aproximando e tocando seus lábios no dele por menos de um segundo.

"Eram macios" foi a primeira coisa que veio em seu pensamento.

[...]

Tomando mais um gole da garrafa de uísque, o loiro olhava a televisão ligada a sua frente para tentar se distrair de seus próprios pensamentos.

Já tinha virado metade da garrafa que havia achado na dispensa. Seu fígado com certeza iria se vingar na manhã seguinte trazendo uma ressaca dos infernos, mas ele não se importava.

Katsuki estava devastado. Desde que Eijiro foi embora de sua vida ele pareceu perder um pouco da felicidade que tinha.

Tudo lembrava Eijiro. A mesa, o sofá e até mesmo o controle da televisão. Olhar para a casa em que viveram alguns dos inúmeros momentos felizes de ambos não fazia bem a ele.

Maldito coração que ousou se apaixonar por outra, maldito cérebro que concordou e deixou seu coração se dividir e maldito fígado que não suportava uma garrafa de uísque!

Deixando a garrafa em cima da mesa de centro da sala, ele se levantou e foi em direção ao quarto. Queria apenas deitar e esquecer de tudo.

Se jogou na cama de qualquer jeito, fazendo sua cara cair com tudo em cima do travesseiro. Respirando fundo, sentiu o cheiro do travesseiro. Era o cheiro dele. O cheiro do Eijiro.

—Mas que porra!— ele levantou o rosto e olhou para o travesseiro de seu parceiro.—Por que caralhos eu fiz essa burrada?

Se deitando de novo— desta vez de barriga para cima— ele olhou para o teto escuro do quarto.

Mesmo sofrendo por amor, seu coração ainda fazia questão de bater numa sintonia que ele queria que não acontecesse. Ele batia o fazendo lembrar de Ochako.

Além de ter acabado com o melhor relacionamento que poderia ter, afastou a mulher e o departamento inteiro por conta de seu mau humor.

Não podia estar menos fudido quanto naquele momento.

Quando viu aquela cabeleira acastanhada pela primeira vez no departamento, não ligou muito para ela. Seu objetivo ali era subir na empresa, então ela era apenas mais uma em seu caminho.

Após algum tempo, a coisa começou a mudar. Ele começou a ver o quão esperta e criativa a mulher era. Suas roupas eram com certeza esplêndidas e conseguiam transmitir o que ela queria passar as pessoas. Seu estilo e luta para trazer modelos que não fossem naquele padrão passarela europeia foi o que mais chamou a atenção do loiro. Além de ser esperta, criativa, ótima estilista, amigável e atenciosa com todos, ela ainda tentava trazer uma revolução no mundo da moda. Não era a toa que se encantou pela acastanhada.

Ele demorou um pouco para processar esse sentimento. Ele nunca se relacionou com uma mulher antes ou se apaixonado por uma. Ele até pensava que era gay, não bissexual como seu namorado.

Como seu ex namorado.

Ele se revirou na cama. Ele sofria por Eijiro mas pensava em Ochako. Seu coração estava pregando peças em seus sentimentos e fazendo ele se confundir sobre quem ele realmente amava.

Ochako ou Eijiro?

Eijiro ou Ochako?

Olhando para seu interior, as imagens com o ruivo passava em sua mente rapidamente. Seus momentos mais felizes com ele pareciam faltar um pedaço, como se algo que deveria estar ali.

Algo... ou alguém.

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