Águas Oscilantes

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(Por Regina)

Acordei sentindo o chão liso e gelado sob minhas costas. Além de uma dor infernal no pescoço. O cofre está uma bagunça. Encaro os diversos livros, pergaminhos e antigos cadernos de anotações ao meu redor e me pergunto o que estou fazendo ali. A confusão não dura nem um segundo, pois me lembro de tudo da noite passada, o que me faz querer voltar a dormir. Mas meu corpo pede por minha cama quente e macia.
Resolvo ir para casa, afinal não tenho muitas opções além dessa. Não tive sucesso procurando algum feitiço que possa me ajudar. Não acho que exista um antídoto contra Emma Swan. Poderia tomar uma poção do esquecimento, mas esqueceria completamente quem ela era e isso soava doloroso demais. Além de que provavelmente seria confuso para todos. Também não garante que eu não me apaixone por ela de novo.
Teria que lidar com os meus sentimentos sozinha.
Arrumei rapidamente a bagunça do cofre com magia, usando minhas energias finais e me levantei para sair. Vi meu reflexo no velho espelho que tinha trazido da floresta encantada, meus olhos estavam levemente inchados pela combinação do choro e pouco sono. Passei a mão pelo meu rosto, que tinha a marca dos livros que dormi em cima, aproveitando também para alinhar meu cabelo que clamava por uma escova. Não gostava da imagem que via, eu definitivamente já tive dias melhores. Minha mãe ficaria decepcionada com tamanha falta de postura.
Me encaminho para a passagem secreta e subo os degraus com dificuldade, ainda me sentindo sonolenta. Poderia usar magia para me teletransportar dali, mas não acho que tenha energia suficiente. Começo a planejar minha volta para casa, porém não me lembro se deixei meu carro no Granny 's ou não. Estou quase na saída quando me deparo com uma figura loira dormindo encostada na parede ao lado da passagem. Emma. Os primeiros raios da manhã tocavam de leve seus cachos, deixando os fios com uma tonalidade dourada brilhante. Parece um pleonasmo dizer dourado brilhante, mas era a única definição possível para aquele tom, quase como se fios do próprio sol envolvessem sua cabeça. Seus olhos estavam fechados e a boca levemente aberta, e sua expressão era leve, como se estivesse tendo um sonho bom. Me perguntei como ela conseguia dormir tão tranquilamente em uma posição tão ruim, mas me lembrei de que era Emma Swan e de que poderia dormir em qualquer lugar. Como na vez que fomos para a terra do nunca e ela foi a única a conseguir dormir no navio de Hook, que balançava mais do que tudo nas águas oscilantes do mar encantado. Senti meu coração apertar , com uma dor que já estava me familiarizando, à medida em que observava a cena. O que ela estava fazendo ali, será que alguma coisa teria acontecido com Henry? Não. Ela havia passado a noite ali. Tentava entender o porque, e logo lembrei da culpa que provavelmente consumia seus pensamentos. Não quero acorda-la, não para ser bombardeada com pedidos de desculpas sem que ela soubesse realmente pelo que deveria estar se desculpando.
Me encaminho o mais silenciosamente possível até a porta mas não consigo ser discreta o suficiente. Estou de costas quando escuto:

-Regina!-ela se levanta num pulo e eu paro de andar sem virar para trás.

-Pensei que tivesse mandado você ir embora ontem a noite. -digo, tentando manter minha voz firme.

-Tecnicamente você disse que queria ficar sozinha, e eu...te deixei. Mas não consegui ir embora - típico de Emma. Reviro os olhos e me volto para encara-la.

-Sério, Swan? E porque não? - ela abriu e fechou a boca, como se fosse dizer algo. - deixa eu advinhar, você acha que eu merecia uma explicação? Por isso passou a noite aqui? Para dizer que não queria trazer a ex do meu atual de volta do passado mas que não sente muito por ter salvo sua vida, pois afinal é uma vida.

-É, quase isso...eu acho. - eu a conhecia bem demais, e deixei isso transparecer na minha fala. Não estava sendo somente sarcástica. Meu tom de voz era suave e não ameaçador. Por isso Emma não revidou.

Eu suspirei fundo e continuei.

-Olha Swan, está tudo bem. Quer dizer, não está. Mas não te odeio nem nada. Já passamos dessa fase, não é?

-Eu espero que sim.

-Só acho que foi realmente estúpido trazer alguém de volta do passado. - e viajar ao passado sozinha, com o Hook, queria dizer, mas me contive. - Você deu muita sorte de não ter tido nenhuma consequência.

-Mas teve uma consequência. Eu tirei sua chance de ter um final feliz.

-Não seja tão dramática , Emma. Meu final feliz...- pensei um pouco e encarei seus olhos, verdes e inchados de sono. Meu final feliz estava na minha frente. - Vilões não tem finais felizes, esqueceu?

-Pensei que já tivéssemos passado disso. -ela respondeu.

-Você se importa mesmo, Emma? - eu realmente queria saber. Queria entender sua preocupação.

-Acha que teria passado a noite na porta do seu cofre se não me importasse? - pensei sobre sua frase. Realmente era um pouco dramático demais. Até para ela, a filha da branca de neve e do príncipe encantado.

-Acho que quer aliviar sua culpa para poder ser feliz com o capitão delineador. -soube que a havia magoado quando vi seu olhar mudar. Mas não achava que tinha pegado pesado. Era o que todos os sinais me diziam, Emma não se importava realmente comigo, ou com a minha felicidade. Ela queria parar de se sentir culpada. Por isso essa cena toda na frente do meu cofre.

-Você quer dizer o gancho? Nós não temos nad-

-Emma, por favor! Ele te olha como se você fosse o segredo e a solução de todos os problemas do universo. - eu sei, porque eu te olho assim, pensei.

Seu rosto corou e eu não soube decifrar o porque.

-Isso foi muito específico. E nós somos só amigos.

-Tudo bem, Emma. Mas se o problema for culpa, não se preocupe comigo. Sou crescida, vou sobreviver a um término. Agora, se me da licença, preciso descansar. E pela sua cara, recomendo que faça o mesmo.

Sem dar chance para ela responder, me virei e fui em direção à floresta.

My Happy Ending [Swan Queen]Onde histórias criam vida. Descubra agora