Capítulo Três-Libelula e Rouxinol

9 1 16
                                    

“Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.”-A Hora da Estrela, Clarice Lispector.

❀~✿ ❀~✿ ❀~✿ ❀~✿

Ler as palavras no diário despertou em Atlas um sentimento caloroso de nostalgia a qual ele não soube muito bem como lidar, ao mesmo tempo que ele conseguiu visualizar as cenas descritas em sua mente e se sentir acalentado por aquela sensação, as memorias não retornaram como ele tinha uma efêmera esperança de que poderia acontecer.

E de certa forma aquilo o frustrou, pois ele queria se conhecer novamente, queria voltar a ser o homem que aquelas páginas descreviam com tanto cuidado, ter as memorias que seu eu do passado descreveu sobre sua esposa com tanto carinho e doçura.

Ele queria que aquela sensação de vazio em seu peito desaparecesse pois mesmo estando frente a ela, mesmo que no fundo de seu peito ainda houvesse os resquícios daqueles sentimentos ele não conseguia se lembrar da mulher que havia se casado e passado a vida inteira ao lado.

E aquilo aos poucos se tornava frustrante e enlouquecedor pois mesmo que negasse ele sabia que esta não era uma situação que ele poderia estralar os dedos e resolver de um segundo para o outro. Aquilo não dependia apenas de sua vontade inabalável.

O tempo que ficou divagando foi o suficiente para que Anelise, voltasse por aquela porta tão graciosamente como havia saído, agora ele se permitiu analisar os detalhes de quem sabia ser sua companheira. Ela tinha um brilho de uma tarde veranesca, os fios dourados eram longos e possuíam suavidade e movimento sempre que ela se mexia, desciam até a altura de seu busto onde o pingente agora era visível acomodado na altura do decote coração sutil e discreto do vestido lilás.

Mas sem duvidas a parte preferida de Atlas eram os olhos amadeirados, eles eram arredondados e possuíam um brilho de serenidade que acalmaria até o mais agitado oceano.

—Vamos?-Ela perguntou com um sorriso adornando os lábios, em suas mãos estava uma bolsa branca que deveriam estar os seus pertences, ele assentiu e guardou suas coisas de volta na sua própria bolsa e juntos eles saíram da floricultura vendo o começar a dar indícios de que iria se por, por conta disso ele chutava que deveria ser por volta de cinco horas da tarde.

Lado a lado, eles andaram pela calçada ao lado da estrada de pedras passando pela rua monocromática que continuava lhe dando certa agonia. Sentimento este que foi facilmente ignorado já que durante todo o percurso que fizeram a pé durante aqueles cinco minutos foi preenchido por um dialogo trivial, porem muito agradável e fluido sobre Anelise e como era trabalhar na floricultura.

E pouco tempo depois eles enfim chegaram em frente a uma casa, ela não tinha pátio, nem parecia enorme, mas tinha dois andares e ficava colada parede com parede com as duas casas vizinhas assim como todas as outras da rua. Era uma ladeira, e sua casa em questão ficava mais ou menos no meio dela, e possuía um tom amarelado, sua fachada tinham vários girassóis e uma árvore logo a frente da porta cercada por uma baixa cerca de metal que deveria servir para que os cachorros não fizessem suas necessidades ali.

—É aqui-Anelise diz, abrindo a porta de madeira ela tira os saltos para entrar, Atlas vai logo atrás e fecha a porta analisando o ambiente, papel de parede, quadros com desenhos na parede e um tapete de entrada vermelho. Eles realmente pareciam ter se esforçado para quebrar o padrão de marrom do resto da rua.

—É colorido, tudo aqui parece tão vivo realmente contrasta com o lado de fora-Atlas comenta, analisando cada cantinho com uma curiosidade quase infantil que faz Analise segurar o riso.

Campos De LavandaOnde histórias criam vida. Descubra agora