Danos colaterais

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— Oi Theo, por que demorou para atender? - Perguntou, irritada.
— Eu ia saber que era você, Débora, é um número desconhecido, cadê seu celular? – Questionou, com um sorriso
torto do outro lado do telefone.
— Eu perdi. – Ele faz beicinho. — Ficamos muito bêbados ontem.
— Falando nisso...- Ele disse muito sério. — Onde você estava? Estamos muito preocupados.
— Passei a noite na casa de um...ami... – Débora clareou a garganta. — Amigo.
A linha do outro ficou muda por segundos agonizantes, Theo teria notado a anormalidade da sua voz? Mas, quando
ele falou, seu tom era muito mais culpado do que desconfiado.
— Você provavelmente vai querer nos matar. – Ele gemeu do outro, falando um "merda"
baixinho para si mesmo.
— Eu conheço esse tom.... – Débora disse em alerta. — O que vocês fizeram?
Theo respirou profundamente. — Tenho uma notícia ruim e duas péssimas, qual você quer primeiro?
Débora bateu na própria testa e disse sem paciência. — Fala logo Theo, porra.
— A péssima notícia, é que bem, nós batemos o seu carro. – Ele parecia muito triste do outro
lado, mas Débora sabia que era fingimento. — Mas ninguém se machucou.
— Theo...
— E seu pai e seu irmão estão vindo para cá. – Ele disse rapidamente, cortando sua amiga antes
que ela pudesse fazer um discurso.
— Por que eles estão vindo? - Débora não tinha um bom pressentimento. — Meu irmão só viria daqui há cinco dias?
— Por causa de uma das péssimas notícias.
— Theo... – Débora disse, entrando em pânico. — Fala logo.
— Bom. - Theo suspirou. — Lá vai... – O timbre da sua voz era quase estridente e nada firme. —
Nós não sabíamos onde você estava... -Ele disse com muita ênfase. — E estávamos muito
bêbados, de verdade mesmo... – Theo parecia muito nervoso do outro lado. — Nós ligamos
para... para a polícia.
— VOCÊS O QUÊ? – Débora disse, parando completamente de caminhar, sua respiração
começando a ficar entalada na garganta. — FICARAM LOUCOS? MEU DEUS, O MEU PAI VAI ME
MATAR! – Theo parecia aflito do outro lado, mas Débora estava tão em pânico que não
conseguia pensar direito. — VOCÊS TÊM IDEIA DA CONFUSÃO QUE VOCÊS ARRUMARAM? Ai
MEU DEUS! – Débora tentou respirar fundo e se acalmar, mas seu coração se sentia pesado e
sua mente era muito caótica— EU TÔ QUASE CHORANDO NO MEIO DA RUA!
— Ai calma! -Ele disse meio em pânico também. — Desculpa. Sério mesmo. Só estávamos
preocupados.
— CALMA? CALMA É O CARALHO THEO. – Débora apertou a mandíbula. — Vou matar vocês. –
Ela disse ameaçadoramente.
— E... tem mais. – Theo murmurou baixinho e se encolhendo.
— MAIS? – Sua voz esganiçada. — O QUE MAIS THEO?
— Acho que o Ítalo e o Mike brigaram.
— Ah, não. Por quê? Quer saber não me conta não, você está tentando arruinar meu dia.
— Vou contar mesmo assim. – Ele disse sem se importar com os protestos da amiga. — Eu não
sei, só sei que o Mike não quer falar comigo e o irmão dele está puto com ele.
— Ah que droga! Eu vou ver como resolver isso. Mas primeiro vou arrumar as merdas que
vocês fizeram– Débora fechou os olhos, tentando clarear a mente.
-— Debbie... – Theo murmurou manhosamente. — Você sabe que eu te amo, né?
Débora reprimiu a risada, mas não o sorriso. — Que ódio, eu também te amo. – Ela desligou o telefone, e
sentou-se na calçada, passou as mãos no cabelo.
"Hoje vai ser foda." – Pensou.
Ela ficou parada lá por muito tempo, antes de começar a raciocinar e a se recompor. Primeiro ela iria para a empresa e
ligaria para o departamento de polícia de lá. E se ela tivesse muita sorte, seu irmão e seu pai ainda não estariam na
cidade e ela poderia fugir de uma conversa cara – a – cara.
Assim que chegou na empresa, ela respirou fundo, ajeitou a postura e caminhou o mais confiante possível, no
entanto, era muito difícil ignorar as fofocas dos funcionários ao redor. Ela parou no lobby e disse com uma expressão
feroz nos olhos. — Vocês não têm mais o que fazer, não? – Ela crispou os lábios, umedeceu os
lábios e disse o mais altiva que conseguiu. — Não acham que é falta de educação, e
principalmente, de inteligência fofocar sobre a pessoa que paga seus salários?
O burburinho cessou tão rápido quanto havia começado. E a tensão ficou visível no ar, mesmo quando Débora pegou
o elevador para se esconder em sua sala privada. Debbie se jogou na cadeira e com os dedos tremendo, discou o
número do irmão.
— Oiii irmãozinho! – Ela tentou soar a mais coquete e animada que conseguiu.
— IRMÃOZINHO É O CARALHO, DÉBORA! - Seu irmão gritou do outro lado. Debbie afastou o
telefone da orelha. — Você aprontou uma das grandes agora.
— Ai eu sei! Me desculpa! – Ela disse, tentando soar a mais inocente, culpada e triste possível.
— Como o papai está?
— O nosso pai quase teve um ataque cardíaco. – Seu irmão disse, irritado. — Ele irá ficar
furioso com você. – Ele de uma risada esquisita, como se estivesse chocado, irritado, aliviado e
tudo ao mesmo tempo. — Ele até usou o contato de um dos seus amigos do FBI para procurar
você.
— Aí não! – Ela disse, mordendo o lábio, nervosa. — Não pode ser verdade! Por favor, Felipe,
me ajuda. – Ela implorou. — Não sei o que fazer, eu só bebi demais, sabe? E aí eu fui para casa de um amigo– Felipe suspirou muito fundo do outro lado— Meus amigos são estúpidos! Foram
eles!
— A única estúpida aqui é você! – Ele alterou o tom de voz novamente, mas era mais
preocupação do que qualquer outro sentimento envolvido em seu tom. — Você deveria
agradecer seus amigos por zelar por você. – Seu irmão suavizou a voz, parecendo subitamente
muito cansado e pra baixo. — E se você tivesse sido sequestrada? Ou pior, abusada? Morta?
— Nada disso aconteceu.
— Mas poderia ter acontecido! – Ele gritou de novo. — Garota, se eu te pego, eu mesmo te
dou uma surra! Como você pode ser... urgh!
— Aí eu sei que foi inconsequente... – Ela disse manhosa. — Felipee.... irmãozinho.... fala com o
papai por mim?
— Vou tentar...- Antes que Débora pudesse dizer alguma coisa, ele disse parecendo meio
sombrio e meio brincalhão. — Mas se acontecer de novo, eu mesmo dou uma surra em você,
garota.
— Eu te amo. – Ela disse tentando soar fofa.
— Ama... sei. – Ele deu uma risada anasalada. — Também te amo.
-Ama sei... Também te amo.
Quando ela desligou, se sentiu rapidamente mais calma e melhor, afinal seu irmão iria cuidar das coisas para ela. Ele
era o melhor. Agora ela teria uma batalha mais importante para travar. Ela inspirou e expirou, arrumou os cabelos e
colocou uma expressão gelada e determinada no rosto, então deixou sua sala para ir em direção a sala de Dominic.
Assim que abriu a porta da sala, seus olhos foram diretos para a figura de Carlos parado diante de Dominic e seu
rosto passou de branco sem emoção para vermelho carmesim. Ela não tinha certeza sobre o porquê estava
envergonhada.
Ela engoliu em seco. — Oi Carlos.
— Olá Débora.
Dominic franziu as sobrancelhas. — Oi para você também, Débora. – seu tom evidenciava sua frustração.
— Não vim até aqui para ser educada com você Dominic. Só quero pegar alguns papéis de finanças da empresa.
-Mesmo que eu dê a você, duvido que entenderá alguma coisa.
Débora o olhou com desprezo óbvio e deu um sorriso de canto de boca, incrédula. — Você tem é estúpido ou o quê?
Caso tenha amnésia, vou te lembrar, que sou formada em administração.
— Eu sei. – Ele reprimiu um sorriso, ele adorava o lado temperamental dela.
— Realmente? Pensei que houvesse esquecido, se me recordo bem, no dia em que me graduei,
você estava na cama com sua secretária. – Ela murmurou sem disfarçar a amargura.
Carlos engasgou com a própria saliva, no entanto, ninguém prestou atenção nele.
Toda a alegria da provocação dela tinha desaparecido no minuto seguinte, sua frustração evidente no rosto, de onde
ela havia tirado aquele absurdo? Ele era um canalha, mas daquele crime, ele não era culpado. Afinal foi ela quem não
compareceu a sua própria formatura, ele havia estado lá, passara o tempo todo na parte mais escura do anfiteatro,
apenas esperando que ela subisse ao palco e pegasse o diploma. Ele se lembrava claramente do nome dela ser
chamado mais de uma vez, porém, ninguém apareceu. E foi ele quem conversou com o reitor e pegou o diploma em
nome dela.
Ele abriu a gaveta com irritação. — Estão aqui. – Sua mão se estendeu com três pastas de arquivos para Débora. Ela
os puxou rapidamente para que eles não tivessem nenhum contato desnecessário.
— A propósito, você assistiu ao noticiário? – Ele apoiou os cotovelos em cima da mesa, os
dedos entrelaçados para servir de apoio ao queixo, Dominic parecia muito interessado em sua
resposta.
—Não. Por que eu deveria?
— Porque estão falando sobre você. – Havia uma diversão nos olhos dele, que irritou Débora
profundamente.
Débora olhou de relance para Carlos e viu o olhar culpado nos olhos dele.
— Não, impossível. Não pode ser. – Ela disse com uma risada nervosa.
— Eles estão dizendo que você foi, muito provavelmente, sequestrada. – Dominic deu um
sorriso de canto de boca. — Pode acreditar nisso?
Débora mordeu o lábio inferior, pensando sobre como ela iria matar seus amigos quando colocasse as mãos neles. —
Droga. – Sussurrou.
— Hey, não se preocupe. – ele disse suavemente — Vou mandá-los tirarem a notícia do ar e
apagar qualquer coisa referente a isso na internet.
—Quando foi que eu pedi a sua ajuda? – Débora disse, revirando os olhos. —Meu irmão já está
cuidando disso.
— Ok. Tudo bem, nervosinha. – Dominic rebateu, debochadamente. — E onde você estava?
Debbie automaticamente olhou para Carlos, não podia deixar de lembrar de como havia acordado na cama dele, com
o perfume dele pairando no ar e com o corpo quente dele ao lado do seu. Ela sentiu seu rosto quente e corado até a
raiz do cabelo.
Dominic olhou entre Débora e Carlos, desconfiado. Suas sobrancelhas se juntaram e ele apertou os lábios. — Vocês
estavam juntos? – Havia uma irritação e talvez um pouco de ciúmes em sua voz.
Carlos deu-lhe um olhar culpado e fechou os olhos como se pudesse desaparecer e isso só inflamou sua irritação.
Carlos ficou mudo, ele realmente não sabia o que dizer, tudo que conseguia pensar era em como iria explicar aquela
merda para Dom.
Debbie aproveitou o silêncio de Carlos para dizer — Falando nisso, você ainda não mandou minhas roupas, então eu
irei até sua casa buscar. – Ela deu um sorriso constrangido. — Fiz uma bagunça ontem. - Ela fez
um beicinho para ele e bateu os cílios de maneira adorável. Carlos gemeu internamente. —
Tenha um bom dia no trabalho hoje! – Ela disse abrindo um sorriso ainda maior e soprando um
beijo no ar antes de deixar a sala.
Carlos não podia deixar de se parabenizar mentalmente por não ter se inclinado para o toque suave dela em sua
bochecha. Uma mulher bonita poderia mesmo colocar um homem em problemas. 'Deus, garota, isso não se faz.'' –
Ele pensou, se preparando mentalmente para a retaliação de Dominic.
Ele retesou a mandíbula e Dom o acertou bem na cara, com muita raiva.
O homem rugiu. — PORRA, CARLOS! Quando eu soube da notícia, você viu que eu estava
movendo céus e terra atrás dela! – Ele socou a mesa e olhou com os olhos cheios de fúria para
Carlos. — E você não me disse nada, NADA! Seu bastardo imbecil para pior ainda passou a
noite com a MINHA mulher.
Carlos mentalmente revirou os olhos.
— Não exagera, Dominic. – Ele disse muito calmamente. — Nós não fizemos nada. Eu sou um
médico, antes de tudo. E a garota estava quase entrando em coma alcoólico. – Ele deslizou o
polegar pelo canto da boca que tinha um pequeno corte. — E não queria ir para o hospital,
então a levei para casa e cuidei dela. – Carlos passou a língua pelo lábio inferior. — E se ela
estivesse sóbria, eu não a levaria para cama, não por falta de vontade. Mas porque sou leal a
você.
— Deveria ter levado ao hospital se ela estava tão mal assim. – Dominic perguntou, sombrio. —
Transaria com a minha esposa?
— Primeiro, eu respeito as escolhas dela, ela não queria ir, e eu sabia como tratar dela em casa.
– Carlos reprimiu um sorriso de canto de boca. —Segundo, ela parecia muito a fim, mas como
eu disse, sou leal. – A amargura e raiva em sua voz não podia ser contida em sua voz. — E ao
contrário de você, eu nunca me aproveitaria de uma mulher.
Dominic sentiu como se tivesse levado um soco no estômago, ele não tinha como refutar, jamais a tinha respeitado
suas escolhas ou seu corpo. Isso era uma coisa que ele teria que carregar para sempre.
— Poderia pelo menos ter me dito. – Ela murmurou quietamente.
— Que bem teria feito? Você só iria me socar mais cedo.
— Eu acredito em você quando disse que não a tocou. Nós somos irmãos. Somos leais um ao
outro.
— Sim. E por essa lealdade, vou deixar as coisas claras para você. Debbie estava bêbada, ela me
queria, eu recusei, primeiro porque ela não estava em condições de decidir o que ela queria,
segundo porque você é meu irmão. – Carlos o encarou, sua expressão suavizando. — Eu não
poderia viver comigo mesmo se eu causasse algum dano a ela, porque eu a amo. – Carlos
olhou determinado para o homem a frente dele. — Eu nunca amei mulher alguma como eu
amo Débora Wolton. – Carlos passou as mãos no cabelo — E por Deus, Dominic, eu nunca vou
deixar ninguém machucá-la.
A expressão de Dominic era vazia de emoção, ele travou a mandíbula e tencionou o maxilar, a raiva queimando como
chamas dentro dele, ele cerrou os punhos.
— Entendo. – Dominic murmurou. — Eu não sei se eu a amo, mas eu sei que eu penso nela o
tempo todo, quando fecho os olhos é ela quem eu vejo. Sei que não a valorizei, sei que não tinha notado a mulher que estava ao meu lado. Mas ela ainda é a minha esposa. E você é meu
irmão, eu não quero, de jeito nenhum, que você flerte com ela.
— Não farei. – Carlos murmurou. — Ao contrário de você, Dom, eu estou feliz em estar aqui
para ela, observá-la de longe e rezar por sua felicidade- Carlos deu uma risada de escárnio. — É
óbvio que você a ama, entretanto, é orgulhoso demais para admitir, principalmente pela
maneira de como você a tratou, Deus me perdoe, você admitir seus próprios pecados.
— O que você quer com tudo isso, afinal?
— Quero somente uma coisa— Carlos colocou suas mãos na mesa e inclinou seu corpo para
frente, seus olhos gelados encarando Dominic. — Quero a sua palavra, de que você nunca fará
nada de mal a ela. Sua palavra de que você nunca mais vai fazer nenhum dano a ela.
Dominic estava sendo dominado por um sentimento amargo, seus sentimentos estavam caóticos, ele mal conseguia
pensar. Ele sentia raiva, frustração, culpa e ciúmes. E tudo aquilo era desconfortável como o inferno.

CEO : Ego feridoOnde histórias criam vida. Descubra agora