A emergência do hospital não parecia tão caótica quanto eu imaginei que seria, mas depois de ter que segurar meu braço quebrado por uma hora e meia até chegarmos até lá, não sei se me importaria com um pouco de tumulto.
A dor agonizante já havia amenizado o suficiente graças aos medicamentos para que eu conseguisse respirar com calma enquanto observava a médica engessar o meu braço com maestria. Do canto, Castiel me encarava ainda um pouco nervoso, suas mãos, fechadas em punho ao redor do corpo, ele me encarou mais uma vez, antes de perguntar:
- Tem certeza de que você não se esqueceu de nada?
- Sim, eu tenho. – respondo encarando o meu amigo, que por sua vez, encarava o curativo na minha cabeça.
Castiel me ignorou completamente e se virou para a médica.
- Tem certeza que não precisa fazer algum exame para checar a cabeça dele? – insistiu. – Ele já sofreu um acidente uma vez e perdeu a memória.
A médica, Dominique Bascher, de acordo com o que li em seu jaleco, olhou por sobre o ombro para meu amigo antes de responder.
- A cabeça dele está bem. – ela garantiu. – Não há sinal de concussão, a memória dele vai continuar tão boa quanto já é.
Um sorriso breve me escapa, ela não diria isso se soubesse quão boa é a minha memória.
- E eu já verifiquei o histórico médico. O episódio de amnésia foi revertido, uma queda não vai fazer isso retornar. – terminando de enfaixar o meu braço, prosseguiu. – A não ser que ele bata a cabeça com muita força outra vez. – Castiel tomou fôlego, mas a médica o interrompeu antes. – O que, a propósito, não aconteceu hoje.
Meu amigo assente a contragosto e se cala, internamente eu comemoro sua decisão. A médica que nos atendeu foi super gentil e educada em todos os momentos, mas eu me pergunto se ela conseguiria continuar gentil e educada se precisar escutar Castiel mais uma vez questionar as decisões dela como médica.
- Vou preparar os papéis da sua alta. – ela diz assim que acomoda meu braço na tipoia.
Pelo canto do olho, vejo meu amigo se preparar para dizer mais alguma coisa, mas nossos olhares se cruzam, e acho que ele entendeu a súplica muda que eu tentei a todo custo enviar a ele para que ficasse quieto.
Milagrosamente deu certo.
- Volto em um instante. – e depois de dizer isso, a Dra. Bascher se afasta e sai do leito fechando a suas costas a cortina verde comum em hospitais como aquele.
Meu amigo não espera nem um segundo antes de perguntar:
- O que foi que você fez no dia 24 do mês passado?
Encaro o meu amigo pacientemente. Céus, eu sou a pessoa acidentada aqui, não deveria ser eu o responsável por cuidar dos nervos do meu acompanhante, deveria ser o contrário.
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Sunshine Girl - Lysandre
FanfictionDe quando Lysandre se dá conta de que perdeu muito mais do que simples memórias.