Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
- Você tem alguma novidade para mim? - Edith pergunta assim que entra na minha sala.
Passo para ela o formulário com as informações do animal que apreendemos na manhã anterior, vulgo dia mais estranho da minha vida.
Edith pega o papel e começa a ler as informações.
- É um animal registrado. Pertence a um zoológico que foi roubado há oito meses. Cinco animais foram levados e entre eles a serpente que apreendemos. - eu explico, mesmo sabendo que ela pode ter acesso a todas essas informações lendo o documento.
- Então se trata mesmo de um caso de contrabando. - ela diz dobrando o papel e guardando-o no bolso da calça.
Não demorei muito tempo para descobrir a origem da Taipan. Geralmente alguns animais têm tags ou chips de identificação, no caso da serpente se trata do segundo. Foi rápido localizar de onde ela veio.
- Com certeza, sim. - garanto a ela.
Edith não é veterinária nem bióloga, mas ela trabalha na instituição desde que ela era uma ONG pequena e conhece melhor do que ninguém todos os procedimentos e burocracias que envolvem esse tipo de problema, de modo que ela é muito respeitada entre todos que trabalham no setor de resgate e clínica de animais selvagens, e nos demais setores também.
Foi ela quem me ajudou quando entrei aqui depois da formatura, e foi ela quem me ajudou a encontrar a minha área de interesse dentro da medicina veterinária. Não quero ser melhor do que ninguém, o trabalho de todos aqui têm valor, mas confesso que tratar de animais selvagens têm sua carga de emoção extra.
Ainda consigo me lembrar da primeira vez que fiz uma cirurgia em um tigre de bengala. Ele foi um dos animais que já foram resgatados por nós, pertencia a um circo e sofreu tantos maus tratos que precisou ter uma das patas amputadas. Aquele tigre sofreu muito durante a vida, mas mesmo depois de um ano eu ainda recebo notícias dele do santuário onde nós o alocamos.
Ele está bem hoje em dia e leva uma vida calma. Claro que nunca seremos capazes de apagar todo o sofrimento que ele passou, mas fico feliz em ao menos ter ajudado para que ele passe o resto de seus dias em paz.
- Vou notificar a polícia. - ela diz guardando o papel do bolso da calça. - Sinto saudade dos dias em que nossa maior preocupação era resgatar gatinhos abandonados em becos escuros.
Edith sai da minha sala logo em seguida tão tempestivamente quanto entrou. Antes eu sempre me assustava quando ela aparecia, mas com um tempo você inevitavelmente se acostuma ao temperamento dela.
O setor de clínica selvagem é relativamente novo. Ele foi aberto meio que às pressas quando os primeiros casos de animais selvagens e não nativos começaram a aparecer. A resposta óbvia para o surgimento desses animais aqui é simples: contrabando.
Eu ainda estava na faculdade quando os primeiros casos começaram a aparecer, e como os profissionais aptos a tratar desses tipos de animais eram escassos na região. Eles precisaram fazer uma campanha muito forte, principalmente para os profissionais que ainda estavam em formação para conseguir suprir a demanda. Foi quando conheci Edith, e ela meio que me obrigou a participar dos cursos extracurriculares que a Defesa Ambiental em parceria com a Anteros disponibilizou para nos preparar minimamente para atender esses animais.
