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Todo mundo fala que coincidências são coisas legais.
Tipo, quando você vai ao mercado e esbarra com aquela colega de turma que não vê há anos e aí vocês saem para tomar um café para pôr o papo em dia. Ou quando você precisa de algo e aquele item está em promoção. Ou quando começa a chover e seu ônibus chega antes que você fique completamente encharcada. Ou até mesmo quando você está na fila do banco e encontra aquela pessoa que você está a fim, e vocês engatam em uma conversa e então as horas passam muito rápido apesar de estarem na porcaria de uma agência bancária. Ou quando você está a fim de sair e alguém te convida. Ou quando você está morta de fome e por acaso sua colega de quarto preparou sua comida favorita. Eu poderia passar horas falando sobre isso.
Mas essas são coincidências legais, as que todos gostam e que estão em livros e filmes de comédia romântica, mas existem também as coincidências ruins. Como essa, por exemplo.
- Consegue identificar? – Edith pergunta a mim quando fecho a porta da dispensa.
- É uma serpente. – eu digo a ela tentando evitar olhar diretamente em sua direção, e consequentemente, para ele. – Tenho quase certeza de que é uma Taipan.
- Que maravilha! – ela diz aliviada. – Que bom que você não estava ocupada hoje, Lily. Não conheço mais ninguém que tenha um conhecimento tão bom sobre serpentes.
Balanço a cabeça assentindo e me perguntando se é mesmo uma maravilha. Quer dizer, é uma Taipan, o veneno dela pode destruir as células do sangue. E quando me lembro quem é o idiota responsável pela captura, começo a me perguntar se já não seria uma boa ideia ligar para o pronto socorro.
Bom, pensando bem, talvez Edith esteja feliz com a possibilidade de Victor morrer depois de ser picado pela serpente. Ela tende a ser bem desumana com as pessoas que ela não gosta muito.
E também não é uma maravilha eu estar aqui hoje. É só outra coincidência, uma bem ruim, a propósito.
Quais as chances de eu sair para atender a um chamado na casa do meu ex-namorado?
Nenhuma, considerando que não trabalho nesse setor.
Eu nem deveria estar aqui, para começo de conversa. Trabalho na clínica veterinária de animais selvagens, não no resgate. É uma grande e infeliz coincidência que logo hoje todos os veterinários que trabalham com resgate estejam ocupados com outras atividades e logo eu esteja disponível hoje.
E eu nem deveria ter vindo ao trabalho! Era a minha folga, mas troquei com uma colega já que era aniversário do filho dela.
Quais as chances?
- Esse tipo de serpente não existe aqui, olha de novo.
Olho para o canto onde Victor está preguiçosamente encostado à parede e tento derreter o seu cérebro com o poder da minha mente. Não deu certo, mas seria legal se eu conseguisse fazer algo assim. Ver o cérebro dele escorrendo pelo nariz e ouvidos, como um filme bizarro de heróis.