Sunshine Girl - Lysandre

🌼 Prólogo 🌼

eight years ago...

Lysandre encarava pacientemente a chuva torrencial que o havia pego de surpresa enquanto caminhava para o canto leste do parque da cidade. Se o clima havia simplesmente mudado repentinamente ou se ele havia somente esquecido de olhar a previsão do tempo, não importava mais.

Um tanto molhado e completamente sem opções, ele se abrigou em um dos gazebos do parque onde aguardava, com uma calmaria quase imaculada, a chuva passar. Mas já haviam se passado quinze minutos e o temporal não havia dado sinais de que passaria ou amenizaria, e a calma estava se esvaindo aos poucos, conforme o vento penetrava as camadas de tecido de sua roupa e ao poucos baixando sua temperatura corporal.

Mais alguns minutos ali e ele com certeza acordaria na manhã seguinte com coriza e dores por todo o corpo.

Se ao menos Castiel tivesse o acompanhado, pensou, ao menos teria alguém para conversar, causando a sensação de que o tempo passaria mais rápido, mas seu melhor amigo se recusava sempre que Lysandre o convidava para passar um tempo naquela parte específica do parque.

O motivo dele era bem simples.

O canto leste do parque da cidade ficava muito próximo do Colégio Montreal, uma escola de elite, onde a mensalidade era, muitas vezes, o dobro das despesas mensais de muitas famílias. Castiel vivia dizendo que não queria respirar o mesmo ar de gente riquinha e mimada, já custava muito aturar Ambre e Nathaniel na escola.

Lysandre, por outro lado, não se incomodava com os alunos da Montreal, mas notava sempre os rostos polidos e cheios de si, ressaltados ainda mais pelos uniformes de corte fino e tecidos de boa qualidade. A maioria daqueles alunos sequer olhava para os lados quando saíam da escola e passavam pelo parque, mas isso também não o incomodava. Gostava daquela parte do parque porque o paisagismo era muito bonito, talvez pelo fato daquela região ser voltada para a parte mais nobre de Amoris.

Enfim, ele simplesmente não se importava com toda a palhaçada desnecessária, só gostava de ficar ali, ninguém o incomodava e ele sempre conseguia escrever boas músicas, poesias ou simplesmente versos soltos, sentado na grama ou em alguns dos bancos dispersos pelo local.

Hoje, por outro lado, ele só queria sair dali o mais rápido o possível.

Apoiando os cotovelos na grade do gazebo, inspirou profundamente e mirou o céu cinzento e apático. O que ele não daria em troca de ver um pouco de azul naquele céu? Tudo, possivelmente.

Poucos segundos se passaram e ele teve certeza de que aquela chuva não daria trégua pelas próximas décadas, mas ainda não havia reunido coragem o suficiente para pegar seus pertences e começar uma corrida nada elegante até a sua casa.

Voltando a atenção para o parque diante de si, ele se assustou um pouco ao notar uma alma viva vagando por ali.

As pessoas costumavam evitar áreas abertas durante temporais, e certamente ninguém com sanidade mental considerável sairia caminhando debaixo de uma chuva daquela sem algo para se proteger.

Mas tinha sim alguém caminhando debaixo daquela chuva.

Percebeu, entretanto, que a pessoa deveria estar na mesma situação que a dele: sair de casa sem guarda-chuva. Mas ao invés de esperar a chuva passar, decidiu ignorar todo aguaceiro e simplesmente saiu.

Ele ficou lá, olhando a figura tomar cada vez mais forma conforme caminhava pela trilha que cortava o parque, em pouco tempo passaria diante do gazebo.