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- Por mais absurdo que pareça, Lysandre não mentiu.
Encaro minha amiga tentando absorver bem o que ela acabou de dizer.
Sua afirmação entra na minha cabeça e começa a rodopiar por todos os lados, imagino que a sensação seja mais ou menos como disparar fogos de artifício dentro de um carro com as portas e janelas fechadas. Como isso pode minimamente fazer sentido? E como Nique, que nunca conheceu Lysandre na vida, pode afirmar isso com tanta veemência?
- Li todo o histórico médico dele. - ela explica, respondendo então todas as perguntas que se formaram em minha cabeça.
- Por quê? - pergunta Cassie.
Eu a agradeço internamente por conseguir falar, pois eu mesma sou capaz apenas de piscar os olhos e manter minhas funções vitais.
- Caiu e quebrou o braço. - ela dá de ombros. - Chegou acompanhado de um cara, o amigo do cabelo vermelho, Caleb.
- Castiel. - murmuro corrigindo-a, já retomando minhas funções aos poucos.
Nique dá um leve tapa na cabeça.
- Castiel, isso! Sou péssima com nomes. - ela ri um pouco. - Enfim, ele chegou todo surtado e preocupado, falava a todo instante para olhar a cabeça dele. Achei estranho porque o braço estava quebrado e não havia lesão alguma na cabeça, sinceramente pensei em sedar o cara para que ele parasse de falar, aí foi quando entendi que ele já tinha sofrido um quadro de amnésia e achei que não seria ruim dar uma olhadinha com mais atenção no histórico médico dele.
Pisco devagar, as palavras fugindo novamente.
- Ele foi atropelado, bateu a cabeça e quando acordou, os últimos meses eram nada mais que uma página em branco para ele. - ela explica, adotando agora uma postura mais séria. - Não houve lesão permanente, e ele até conseguiu recuperar boa parte das memórias, mas provavelmente algumas se perderam para sempre.
O silêncio que ficou na sala depois de tudo era sufocante, só não mais que a confusão dentro da minha cabeça. Os passeios no parque, as noites viradas conversando por mensagem de texto, ou no meu quarto, a porcaria do bloco de notas que ele vivia dizendo que me mostraria um dia, os beijos, todo o resto.
Sinto o ar ficar preso em minha garganta, meus olhos ardem quando me dou conta que, para ele, é como se eu simplesmente nunca tivesse existido.
- Eu sinto muito, Lily. - Nique murmura um tempo depois.
Então todo o resto, quando ele sumiu... As mensagens sem resposta, as vezes que passei em frente a escola onde ele estudava. Cheguei a pensar que ele havia se mudado, mas faz sentido pensar que ele não estava lá, possivelmente porque estava internado. E depois vem toda a raiva que senti dele, a raiva de nunca ter entendido o motivo dele ter desaparecido, de nunca ter encontrado uma resposta até finalmente me convencer de que ele só era uma pessoa sem um pingo de responsabilidade afetiva.
