Lysandre está em silêncio a cerca de cinco minutos e eu estou falhando miseravelmente em tentar não rir. Enquanto ele permanece chocado demais em saber que me contou sobre correr nu na fazenda quando era muito criança, eu volto a minha atenção para o trabalho por fazer na tela do meu computador.
Estamos almoçando novamente, na minha sala. O consultório da clínica que eu pensei em largar, mas por sorte não larguei.
- Você está falando sério? - ele me pergunta, parecendo chocado e envergonhado demais.
- E de que outra forma eu saberia sobre essa pequena mostra de exibicionismo? - a minha pergunta faz com que ele afunde a cabeça entre as mãos novamente.
Por um momento acho que ele vai morrer, mas logo em seguida escuto sua risada fraca.
Ele levanta o rosto um tempo depois, jogando para trás do cabelo longo. Lysandre ri mais um pouco e passa a mão pelo rosto, ainda parecendo incrédulo.
- Esse é certamente o momento mais embaraçoso da minha infância, em que contexto isso veio à tona?
Na nossa primeira conversa de verdade, eu pensei que as coisas simplesmente não poderiam voltar ao normal, tipo, não mesmo. Eu estava desconfortável, ele estava desconfortável, acho que até mesmo o oxigênio ao nosso redor estava se sentindo desconfortável, mas depois de um pouquinho de conversa fiada nós conseguimos conversar de verdade.
E por mais que eu me sinta um pouco chateada as vezes, não é como se eu pudesse simplesmente culpá-lo. Também não vou entrar na pilha de achar que as reações de espanto dele são, sei lá, arrependimento por ter compartilhado tanto comigo. Às vezes é difícil ser racional, mas é o correto.
Eu me lembro de tudo, tudo o que aconteceu e tudo o que Lysandre significou para mim, ele, por outro lado, só sabe o que eu conto. E eu certamente não cheguei nem mesmo na metade de tudo.
- Estávamos falando sobre coisas embaraçosas que fizemos na infância.
- Entendi. - murmurou apoiando os braços no tampo da mesa. - E qual foi a sua?
Eu o observo por trás da tela do computador e permaneço em silêncio, mas nem morta que repetirei tudo aquilo em voz alta.
- Lily? - ele chama, acredito que entendendo que eu não vou falar.
- Sinto muito, mas você vai ter que lembrar disso sozinho.
Não consigo segurar a risada diante da expressão de indignação que Lysandre me dirige, mas o que eu posso fazer? Nem sob tortura vou contar isso a ele duas vezes.
- Isso é trapaça. - ele diz.
Percebendo que eu não mudaria de opinião, vejo-o se acomodar melhor na cadeira do consultório. Ele pensa por um tempo antes de voltar a falar.
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Sunshine Girl - Lysandre
FanfictionDe quando Lysandre se dá conta de que perdeu muito mais do que simples memórias.