"Rua Oliveira 25"

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Era uma noite fria de outono, e tudo parecia estar perfeitamente calmo. Era estranho o fato de Severus Snape não estar se sentindo preocupado com nada. Pessoas como a adorável vizinha Mary, que enchia Melissa de diabetes uma vez a cada dois dias, diria ser um momento raro na pequena casinha de madeira na rua Oliveira 25.

Melissa assistia um desenho estranho de um gato cinza com branco e um rato marrom. Severus havia comprado aquela televisão sob a ideia de manter Melissa calma quando mais nova. Ele não achava ser feito certo, mas qualquer mãe e pai cansado concordaria em ter algum momento de paz.

O relógio fazia um tic tac baixo na parede da cozinha e a chaleira no fogão estava prestes a chiar. O gato pulava com o dedo mais inchado que um balão e vermelho na tela da televisão. Melissa ria alto e Severus teve que sorrir fraco com a cena ao vê-la se colocar em pé e bater as mãos com uma risada perfeitamente melódica. Melissa tinha 7 anos, mais alguns anos e deixaria de ser bochechuda e amante de desenhos sem lógica. Severus não gostava de imaginar sua garotinha saindo de casa.

A chaleira começa a chiar e uma Lídia sonolenta aparece no corredor ao mesmo instante que Severus Snape se levanta do sofá. Era raro vê-la na sala, mas quando ela aparecia Severus não via motivos para fazer perguntas. Quando eles se conheceram a alguns anos atrás, Lídia havia acabado de sair de um relacionamento abusivo e Severus acabara de chegar da guerra, ainda angustiado com as mordidas pouco cicatrizadas em seu pescoço.

Não fazia parte do plano conversar com Voldemort na Casa dos Gritos, mas apenas ficar por perto até ter tempo o suficiente para contar ao garoto o que ele deveria fazer (era um pouco irônico pensar que quase morrera perto do mesmo local em que quase fora morto por Remus Lupin na adolescência. Como se a vida estivesse pregando uma peça em sua pessoa). Quase não conseguira passar as informações... E foi forçado, no calor do momento, a recorrer às suas memórias e, talvez, apenas talvez, houvesse realmente querido dá-lhe todas as suas memórias mais íntimas. Se sentia menos pesado, como se houvesse feito algo certo uma vez na vida ao mostrar ao garoto os detalhes mais sórdidos de sua vida.

Fingir sua morte para o garoto sair de perto e depois fugir foi a coisa mais difícil que ele já teve que fazer. Estava mesmo sucumbindo à morte e usar o maldito feitiço de camuflagem besta que inventara na adolescência quase o matara de vez. O feitiço mostrava a pessoa morta, os olhos sem vida e o coração parado, quando na verdade por baixo da camuflagem perfeita estava vivo.

Fugir sem ser visto foi outra luta, mas Severus não gostava de se lembrar das tentativas falhadas de cessar o sangue e respirar com os feitiços de cura que estancavam o sangue a cada cinco minutos. Se não fosse as poções para dor e os vários feitiços jogados em seu corpo, não estaria vivo para contar a história.

Ele conhecera Lídia num beco escuro, após vomitar toda a pouca comida que havia em seu estômago. Estava com crises de febre frequentes e a cada cinco minutos, pensava na morte que o aguardava. Ele não queria morrer, mas não via escapatória para a sua pessoa. Era até irônico pensar que ele não queria morrer... Ele não era muito chegado à vida e passara grande parte dela depressivo e apaixonado pela mulher que matara (ele ainda era completamente apaixonado pela mulher que matara). Agora, quando tinha a oportunidade de morrer, não queria se entregar aos braços abertos da morte.

Não fora um "oi" calmo que recebera de Lídia, mas sim um totalmente assustado. Ele não pôde culpá-la, nem ela a ele. Ela não parecia estar tão maravilhosa com um olho roxo e os lábios inchados. Sem saber o motivo exato, mas tendo uma ideia prévia, Severus a entendeu.

Os passos seguintes de suas vidas foram, no mínimo, assustadores. Ela se ofereceu para ajudá-lo e ele a ela. Lídia tinha uma casinha da família nos Estados Unidos, na rua Oliveira 25, e eles foram para lá após todos os procedimentos necessários para Severus não vi a falecer. Ele contou para ela que era bruxo e ela o ajudou a acabar com as marcas de mordidas e o sangue da forma mais calma possível... Embora estivesse olhando para ele como se ele fosse uma aberração enquanto tentava impedir que ele morresse, obviamente.

A Questão não era Rose-ScorbusOnde histórias criam vida. Descubra agora