Capítulo 03. Brincamos de Pega-Pega com Escorpiões

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Na manhã seguinte era grande o alvoroço no café da manhã.

Aparentemente por volta das três da manhã um dragão etíope fora visto na fronteira do acampamento. Eu estava tão exausto que dormi direto, apesar do barulho. Os limites mágicos haviam mantido o monstro fora, mas ele perambulou pelas colinas, à procura de pontos fracos em nossas defesas, e não parecia ter pressa para ir embora até que Abraham Caldwell, do chalé de Apolo, liderou dois de seus irmãos em sua perseguição. Após algumas dezenas de flechas se cravarem nas fendas da couraça do dragão, ele entendeu a mensagem e se retirou.

— Ainda está por aí — Abraham nos advertiu durante a sessão de anúncios. — Vinte flechas no couro e só conseguimos deixá-lo com raiva. O bicho tinha dez metros de comprimento e era de um verde brilhante. Seus olhos — Ele estremeceu.

— Vocês se saíram muito bem, Abraham. — Quíron deu-lhe tapinhas no ombro. — Todos fiquem alerta, mas mantenham a calma. Isso já aconteceu antes.

— Sim — disse Quinton na cabeceira da mesa. — E vai acontecer de novo. Com frequência cada vez maior.

Os campistas murmuravam entre si.

Todos conheciam os boatos: Josh e seu exército de monstros estavam planejando uma invasão ao acampamento. A maioria de nós esperava que acontecesse neste verão, mas ninguém sabia como ou quando seria. Em nada ajudava o fato de nossa frequência estar baixa. Tínhamos apenas cerca de oitenta campistas. Há três anos, quando comecei, havia mais de cem. Alguns tinham morrido. Outros uniram-se a Josh. E outros, ainda, tinham simplesmente desaparecido.

— Essa é uma boa razão para novos jogos de guerra — continuou Quinton, com um lampejo nos olhos. — Vamos ver como todos vocês se saem esta noite.

— Sim — disse Quíron. — Bem, chega de pronunciamentos. Vamos abençoar esta refeição e comer. — Ele ergueu sua taça. — Aos deuses!

Todos nós erguemos os copos e repetimos a bênção.

Uriel e eu levamos nossos pratos até o braseiro de bronze e jogamos uma porção de nossa comida nas chamas. Torci para que os deuses gostassem de torrada de passas e cereais coloridos.

— Poseidon — eu disse. E em seguida sussurrei: — Ajude-me com Xzavier, com Josh e com o problema de Alex

Havia tantos motivos de preocupação que eu poderia ter ficado ali a manhã toda, mas voltei para a mesa.

Quando estavam todos comendo, Quíron e Alex vieram para a nossa mesa. Alex tinha os olhos vermelhos. A camisa estava para fora da calça. Ele deslizou o prato na mesa e desabou ao meu lado.

Uriel mexeu-se desconfortavelmente.

— Eu vou hã polir meus peixes-pôneis.

E se foi, andando pesadamente e deixando o café pela metade. Quíron tentou dar um sorriso. Provavelmente queria transmitir confiança, mas, na forma de centauro, pairava acima de mim, lançando uma sombra sobre a mesa.

— Bem, Noah, como passou a noite?

— Hã, bem. — Fiquei imaginando por que havia feito aquela pergunta. Seria possível que ele soubesse algo da estranha mensagem de Íris que eu recebera?

— Eu trouxe Alex para cá — disse Quíron — porque pensei que vocês talvez quisessem, hã, discutir algumas questões. Agora, se me derem licença, tenho algumas mensagens de Íris para enviar. Vejo vocês mais tarde. — Ele lançou a Alex um olhar significativo, então seguiu a trote para o pavilhão.

— Do que ele está falando? — perguntei a Alex.

Alex mastigava os ovos. Dava para ver que estava distraído, porque mordia os dentes do garfo e os mastigava também.

Noah Urrea e os Olímpicos: O Combate da Complicação [4] Onde histórias criam vida. Descubra agora