Capítulo 08. Visitamos a Refeição de Férias do Demônio

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Finalmente paramos em uma sala cheia de quedas-dágua. O piso era um grande fosso, cercado por uma escorregadia passarela de pedra. À volta, nas quatro paredes, a água jorrava de canos imensos e tombava no fosso, e nem mesmo quando dirigi para ali o facho da lanterna consegui ver o fundo.

Briareu desabou contra a parede. Recolheu água em uma dezena de mãos e lavou o rosto.

— Este fosso vai direto para o Tártaro — murmurou ele. — Eu devia mergulhar e poupar problemas a vocês.

— Não fale assim — disse-lhe Sina. — Você pode voltar para o acampamento conosco. Pode ajudar a nos prepararmos. Sabe mais sobre como lutar contra os titãs do que qualquer outro.

— Nada tenho para oferecer — disse Briareu. — Perdi tudo.

— O que aconteceu com seus irmãos? — perguntou Uriel. — Os outros dois ainda devem ser altos como montanhas! Podemos levar você até eles.

A expressão de Briareu metamorfoseou-se em algo ainda mais triste: seu rosto de luto.

— Eles não existem mais. Desapareceram aos poucos.

As quedas-dágua trovejaram. Uriel fitou o fosso e piscou, fazendo as lágrimas rolarem.

— O que exatamente você quer dizer com desapareceram aos poucos? — perguntei. — Pensei que os monstros fossem imortais, como os deuses.

— Noah — disse Alex com a voz fraca —, até mesmo a imortalidade tem limites. Às vezes às vezes os monstros são esquecidos e perdem o desejo de permanecer imortais.

Olhando para o rosto de Alex, perguntei-me se ele estaria pensando em Pã. Lembrei-me de algo que a Medusa nos dissera uma vez: que suas irmãs, as outras duas górgonas, haviam morrido, deixando-a sozinha. Depois, no ano passado, Apolo falou algo sobre o velho deus Hélio ter desaparecido e lhe deixado os deveres de deus do sol. Eu nunca pensara muito no assunto, mas naquele momento, olhando para Briareu, percebi como devia ser horrível ser tão velho — ter milhares e milhares de anos de idade — e totalmente sozinho.

— Preciso ir — disse Briareu.

— O exército de Cronos vai invadir o acampamento — afirmou Uriel. — Precisamos de ajuda.

Briareu deixou a cabeça pender.

— Eu não posso, ciclope.

— Você é forte.

— Não mais. — Briareu levantou-se.

— Ei. — Agarrei um de seus braços e o puxei para um lado, onde o rugido da água abafaria nossas palavras. — Briareu, nós precisamos de você. Caso não tenha notado, Uriel acredita em você. Ele arriscou a vida por você.

Contei-lhe tudo — o plano de invasão de Josh, a entrada para o Labirinto no acampamento, a oficina de Dédalo, o caixão de ouro de Cronos.

Briareu limitou-se a sacudir a cabeça.

— Eu não posso, semideus. Não tenho uma arma de dedo que possa vencer esse jogo. — Para provar seu ponto de vista, fez uma centena de revólveres de dedo.

— Talvez seja por isso que os monstros desaparecem — eu disse. — Talvez não seja uma questão de os mortais acreditarem ou não. Talvez seja porque vocês desistam de si mesmos.

Seus olhos castanhos e puros me fitaram. Seu rosto assumiu uma expressão que eu reconhecia — vergonha. Então, ele se virou e pôs-se a caminhar penosamente pelo corredor até desaparecer nas sombras.

Uriel soluçou.

— Está tudo bem. — Hesitante, Alex deu-lhe tapinhas no ombros. Deve ter reunido toda sua coragem para fazer isso.

Noah Urrea e os Olímpicos: O Combate da Complicação [4] Onde histórias criam vida. Descubra agora