Finalmente paramos em uma sala cheia de quedas-dágua. O piso era um grande fosso, cercado por uma escorregadia passarela de pedra. À volta, nas quatro paredes, a água jorrava de canos imensos e tombava no fosso, e nem mesmo quando dirigi para ali o facho da lanterna consegui ver o fundo.Briareu desabou contra a parede. Recolheu água em uma dezena de mãos e lavou o rosto.
— Este fosso vai direto para o Tártaro — murmurou ele. — Eu devia mergulhar e poupar problemas a vocês.
— Não fale assim — disse-lhe Sina. — Você pode voltar para o acampamento conosco. Pode ajudar a nos prepararmos. Sabe mais sobre como lutar contra os titãs do que qualquer outro.
— Nada tenho para oferecer — disse Briareu. — Perdi tudo.
— O que aconteceu com seus irmãos? — perguntou Uriel. — Os outros dois ainda devem ser altos como montanhas! Podemos levar você até eles.
A expressão de Briareu metamorfoseou-se em algo ainda mais triste: seu rosto de luto.
— Eles não existem mais. Desapareceram aos poucos.
As quedas-dágua trovejaram. Uriel fitou o fosso e piscou, fazendo as lágrimas rolarem.
— O que exatamente você quer dizer com desapareceram aos poucos? — perguntei. — Pensei que os monstros fossem imortais, como os deuses.
— Noah — disse Alex com a voz fraca —, até mesmo a imortalidade tem limites. Às vezes às vezes os monstros são esquecidos e perdem o desejo de permanecer imortais.
Olhando para o rosto de Alex, perguntei-me se ele estaria pensando em Pã. Lembrei-me de algo que a Medusa nos dissera uma vez: que suas irmãs, as outras duas górgonas, haviam morrido, deixando-a sozinha. Depois, no ano passado, Apolo falou algo sobre o velho deus Hélio ter desaparecido e lhe deixado os deveres de deus do sol. Eu nunca pensara muito no assunto, mas naquele momento, olhando para Briareu, percebi como devia ser horrível ser tão velho — ter milhares e milhares de anos de idade — e totalmente sozinho.
— Preciso ir — disse Briareu.
— O exército de Cronos vai invadir o acampamento — afirmou Uriel. — Precisamos de ajuda.
Briareu deixou a cabeça pender.
— Eu não posso, ciclope.
— Você é forte.
— Não mais. — Briareu levantou-se.
— Ei. — Agarrei um de seus braços e o puxei para um lado, onde o rugido da água abafaria nossas palavras. — Briareu, nós precisamos de você. Caso não tenha notado, Uriel acredita em você. Ele arriscou a vida por você.
Contei-lhe tudo — o plano de invasão de Josh, a entrada para o Labirinto no acampamento, a oficina de Dédalo, o caixão de ouro de Cronos.
Briareu limitou-se a sacudir a cabeça.
— Eu não posso, semideus. Não tenho uma arma de dedo que possa vencer esse jogo. — Para provar seu ponto de vista, fez uma centena de revólveres de dedo.
— Talvez seja por isso que os monstros desaparecem — eu disse. — Talvez não seja uma questão de os mortais acreditarem ou não. Talvez seja porque vocês desistam de si mesmos.
Seus olhos castanhos e puros me fitaram. Seu rosto assumiu uma expressão que eu reconhecia — vergonha. Então, ele se virou e pôs-se a caminhar penosamente pelo corredor até desaparecer nas sombras.
Uriel soluçou.
— Está tudo bem. — Hesitante, Alex deu-lhe tapinhas no ombros. Deve ter reunido toda sua coragem para fazer isso.
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Noah Urrea e os Olímpicos: O Combate da Complicação [4]
Fanfic⚠️ ESTA É A QUARTA TEMPORADA DA SAGA NOAH URREA E OS OLÍMPICOS ⚠️ O Monte Olimpo está em perigo. Cronos, o perverso titã que foi destronado e feito em pedaços pelos doze deuses olimpianos, prepara um retorno triunfal. O primeiro passo de suas tropas...