Capítulo 14. Meu Irmão Duela Comigo Até A Morte

8 1 0
                                    


A porta de metal estava um tanto escondida atrás de um cesto de toalhas sujas do hotel. Não vi nada de estranho nela, mas Wanda me mostrou onde olhar, e reconheci a letra azul levemente marcada no metal.

— Não é usada há muito tempo — disse Sina.

— Tentei abri-la uma vez — disse Wanda —, só por curiosidade. Está emperrada por causa da ferrugem.

— Não. — Sina deu um passo à frente. — Só precisa do toque de um meio-sangue.

E, realmente, assim que Sina pôs a mão a marca emitiu seu brilho azul. A porta de metal foi deslacrada e se abriu com um rangido, revelando uma escada escura que levava para baixo.

— Uau! — Wanda parecia calma, mas eu não sabia se ela estava fingindo. Tinha vestido uma camiseta surrada do Museu de Ciências Naturais de Houston e seu habitual jeans rabiscado com caneta hidrográfica, a escova de plástico azul aparecendo no bolso. O cabelo ruivo estava preso atrás, mas ainda havia partículas douradas nele e vestígios de glitter no rosto. — Então vocês primeiro?

— Você é a guia — disse Sina com simulada gentileza. — Vá na frente.

A escada descia para um amplo túnel de tijolos. Estava tão escuro que eu não conseguia ver meio metro diante de nós, mas Sina e eu havíamos renovado nosso estoque de lanternas. Assim que as acendemos, Wanda gritou.

Um esqueleto sorria para nós. Não era humano. Só para começar, era imenso — tinha pelo menos três metros de altura. Fora enforcado, acorrentado pelos pulsos e pelos tornozelos, formando um X gigante no vão do túnel. Mas o que fez um arrepio percorrer minhas costas foi a órbita negra e única no centro do crânio.

— Um ciclope — disse Sina. — É muito velho. Não é ninguém que conheçamos.

Não era Uriel, era o que ela queria dizer. Mas isso não fez eu me sentir muito melhor. Ainda tinha a impressão de que ele fora colocado ali como um aviso. Eu não queria deparar com o que quer que pudesse matar um ciclope adulto.

— Você tem um amigo ciclope? — Wanda engoliu em seco.

— Uriel — eu disse. — Meu meio-irmão.

— Seu meio-irmão?

— Espero encontrá-lo aqui embaixo — afirmei. — E Alex, que é um sátiro.

— Ah! — A voz dela quase sumiu. — Bem, então é melhor irmos andando.

Ela passou por baixo do braço esquerdo do esqueleto e continuou andando. Sina e eu trocamos olhares. Sina deu de ombros. Seguimos Wanda, adentrando mais no Labirinto.

Cerca de quinze metros depois chegamos a um cruzamento. À frente, o túnel de tijolos continuava. À direita, as paredes eram feitas de antigas placas de mármore. À esquerda, o túnel era de terra e raízes de árvores.

Apontei para a esquerda.

— Aquele parece o túnel pelo qual Uriel e Alex seguiram.

Sina franziu a testa.

— Sim, mas a arquitetura à direita, de pedras antigas é mais provável que aquele nos leve a uma parte antiga do Labirinto, na direção da oficina de Dédalo.

— Precisamos seguir em frente — disse Wanda.

Sina e eu olhamos para ela.

— Essa é a escolha menos provável — afirmou Sina.

— Não estão vendo? — perguntou Wanda. — Olhem para o chão.

Nada vi além de tijolos gastos e de lama.

Noah Urrea e os Olímpicos: O Combate da Complicação [4] Onde histórias criam vida. Descubra agora