Capítulo 11. Eu Pego Fogo

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Pensei que tivéssemos perdido a aranha, mas então Uriel ouviu um zunido distante. Dobramos algumas esquinas, retrocedemos algumas vezes e, por fim, encontramos a aranha batendo a minúscula cabeça em uma porta de metal.

A porta parecia uma daquelas antigas escotilhas de submarino — oval, com rebites de metal na borda e uma espécie de volante como maçaneta. Onde deveria estar o portal havia uma grande placa de latão, esverdeada pelo tempo, com a letra grega eta inscrita no meio.

Todos nos entreolhamos.

— Preparados para o encontro com Hefesto? — perguntou Alex, nervoso.

— Não — admiti.

— Sim! — disse Uriel alegremente, e girou o volante.

Assim que a porta se abriu, a aranha entrou, apressada, com Uriel logo atrás dela. O restante de nós seguiu, sem tanta ansiedade.

A sala era enorme. Parecia uma oficina mecânica, com vários elevadores hidráulicos. Em alguns viam-se carros, mas em outros havia coisas mais estranhas: um hipaléctrion de bronze com a cabeça de cavalo solta e um punhado de arames pendendo de sua cauda de galo, um leão de metal que parecia ligado a um carregador de bateria e uma carruagem grega de guerra feita inteiramente de chamas.

Projetos menores atravancavam uma dúzia de bancadas de trabalho. Viam-se ferramentas penduradas ao longo das paredes. Cada uma delas tinha o contorno desenhado em um quadro, mas nada parecia estar no lugar certo. O martelo pendia no lugar da chave de parafuso. O grampeador encontrava-se onde deveria estar a serra de metal.

Sob o elevador hidráulico mais próximo, onde estava um Toyota Corolla 98, projetava-se um par de pernas — a parte inferior de um homem enorme com uma calça cinza imunda e sapatos ainda maiores do que os de Uriel. Uma das pernas tinha uma braçadeira de metal.

A aranha seguiu direto para debaixo do carro, e o martelar cessou.

— Ora, ora — uma voz profunda retumbou sob o Corolla. — O que temos aqui?

O mecânico deslizou em uma esteira mecânica e sentou-se. Eu vira Hefesto uma vez, rapidamente, no Olimpo; assim, pensei que estivesse preparado, mas sua aparência me fez engolir em seco.

Acho que ele havia se lavado quando o vi no Olimpo, ou usado magia para fazer a aparência parecer um pouco menos horrível. Aqui, em sua oficina, parecia não dar a mínima importância a isso. Usava um macacão sujo de óleo e fuligem. No bolso do peito estava bordado Hefesto. Sua perna rangeu e estalou na braçadeira de metal quando ele se levantou. O ombro esquerdo era mais baixo que o direito, de modo que ele parecia inclinado mesmo quando estava ereto, de pé. A cabeça era imensa e deformada. A fisionomia estava permanentemente carregada. A barba preta silvava e soltava fumaça. De vez em quando, um pequeno fogo-fátuo irrompia de seu bigode, apagando em seguida. Suas mãos eram do tamanho das luvas de um apanhador de beisebol, mas ele segurava a aranha com uma habilidade incrível. Desmontou-a em dois segundos e então tornou a montá-la.

— Pronto — murmurou para si mesmo. — Muito melhor.

A aranha deu um feliz salto mortal na palma da mão dele, lançou uma teia metálica para o teto, e se foi, balançando-se.

Hefesto nos lançou um olhar ameaçador.

— Eu não fiz você, fiz?

— Hã — disse Sina —, não, senhor.

— Bom — grunhiu o deus. — Trabalho sem qualidade.

Examinou Sina e a mim.

— Meios-sangues — resmungou. — Poderiam ser autômatos, é claro, mas provavelmente não.

Noah Urrea e os Olímpicos: O Combate da Complicação [4] Onde histórias criam vida. Descubra agora