Capítulo 02. O Mundo Inferior Me Liga A Cobrar

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Nada melhor que um longo percurso de táxi com uma garota zangada para fechar uma manhã perfeita.

Tentei conversar com Sina, mas ela agia como se eu tivesse acabado de dar um soco em sua avó. Tudo o que consegui arrancar dela foi que tivera uma primavera infestada de monstros em Tacoma; que havia voltado ao acampamento duas vezes depois do Natal, mas não quis me dizer o motivo (o que me aborreceu, pois ela não tinha nem me dito que estava em Houston); e que nada soubera sobre o paradeiro de Xzavier Jeong (uma longa história).

— Alguma notícia de Josh? — perguntei.

Ela sacudiu a cabeça. Eu sabia que esse era um assunto delicado para ela. Sina sempre admirara Josh, o ex-conselheiro chefe do chalé de Hermes que havia nos traído e se unido ao maléfico Senhor Titã, Cronos. Ela não admitia, mas eu sabia que ela ainda gostava dele. Quando lutamos contra Josh no Monte Washington no inverno passado, ele de alguma forma sobreviveu a uma queda de um penhasco de mais de quinze metros. Agora, até onde eu sabia, ele ainda estava navegando em seu cruzeiro infestado de demônios, enquanto seu dilacerado Grã-fino Cronos se refazia, pedaço por pedaço, em um caixão de ouro, esperando o momento em que terá poder suficiente para desafiar os deuses olimpianos. Na língua dos semideuses, chamamos isso de problema.

— O Monte Wash ainda está repleto de monstros — disse Sina. — Não tive coragem de me aproximar, mas não creio que Josh esteja lá. Acho que eu saberia se ele estivesse.

Isso não fez com que eu me sentisse muito melhor.

— E quanto a Alex?

— Está no acampamento — disse ela. — Vamos vê-lo hoje.

— Ele teve alguma sorte? Refiro-me à procura de Pã

Sina mexia nas contas de seu colar, como sempre faz quando está preocupada.

— Você vai ver — disse ela. Mas não explicou.

Enquanto atravessávamos o Clear Lake City, usei o telefone de Sina para ligar para minha mãe. Os meios-sangues evitam usar celulares, pois transmitir sua voz é como enviar um sinal luminoso para os monstros: Eu estou aqui! Por favor, devore-me agora! Mas achei que fazer essa ligação era importante. Deixei uma mensagem no correio de voz de casa, tentando explicar o que acontecera na Acceptable. Provavelmente não me saí muito bem. Afirmei à mamãe que estava o.k., que ela não deveria se preocupar, mas que eu ficaria no acampamento até a situação esfriar. Disse a ela que pedisse desculpas a Ramiro Wade por mim.

Seguimos em silêncio depois disso. A cidade foi ficando para trás, até que saímos da via expressa, atravessando a área rural no norte de Galveston Island, passando por pomares, vinícolas e barracas de produtos frescos.

Olhei para o número de telefone que Wanda Vargas Adkins havia rabiscado na minha mão. Eu sabia que era loucura, mas tentei ligar para ela. Talvez pudesse me ajudar a entender o que a empousa falara — o acampamento pegando fogo, meus amigos aprisionados. E por que Ulani havia explodido em chamas?

Eu sabia que os monstros não morriam de verdade. Um dia — talvez dali a semanas, meses ou anos — Ulani se recomporia a partir da imundície primordial que fervilhava no Mundo Inferior. Mas, ainda assim, em geral os monstros não se deixavam destruir tão facilmente. Se é que ela foi mesmo destruída.

O táxi saiu na rota Westheimer Road. Seguimos em meio aos bosques, contornando o litoral norte, até que uma serrania baixa surgiu à nossa esquerda. Sina disse ao motorista que nos deixasse no Atalho dos Bens, 3.141, na base do Alojamento Metade-Homem.

O motorista franziu a testa.

— Não tem nada aqui, senhorita. Tem certeza de que quer ficar aqui?

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