Capítulo 06. Encontramos o Deus de Duas Caras

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Percorremos uns trinta metros antes de estarmos irremediavelmente perdidos.

O túnel em nada se parecia com aquele que Sina e eu tínhamos encontrado antes. Agora era redondo como um sistema de esgoto, construído com tijolos vermelhos, e tinha vigias protegidas por barras de ferro a cada três metros. Por curiosidade, dirigi a luz da lanterna através de uma das vigias, mas nada consegui ver. Ela se abria para a escuridão infinita. Pensei ouvir vozes do outro lado, mas pode ter sido apenas o vento frio.

Sina dava o melhor de si para nos guiar. Ela teve a ideia de nos mantermos próximos à parede esquerda.

— Se ficarmos com a mão na parede esquerda e a seguirmos — disse ela —, conseguiremos encontrar a saída fazendo o caminho inverso.

Infelizmente, assim que ela disse essas palavras, a parede esquerda desapareceu, e nos vimos no meio de uma câmara circular de onde saíam oito túneis, sem termos a menor ideia de como tínhamos chegado lá.

— Hã, por onde viemos? — perguntou Alex, nervoso.

— Façam meia-volta — disse Sina.

Cada um de nós virou-se para um túnel diferente. Era ridículo. Ninguém conseguia decidir que caminho levava de volta ao acampamento.

— Paredes esquerdas são malvadas — disse Uriel. — Que caminho seguir agora?

Sina lançou o feixe de sua lanterna sobre a arcada dos oito túneis. Até onde eu podia ver, eram idênticos.

— Por ali — disse ela.

— Como você sabe? — perguntei.

— Raciocínio dedutivo.

— Então você está chutando.

— Venha, ande — disse ela.

O túnel que ela escolhera estreitou-se rapidamente. As paredes agora eram de cimento cinza, e o teto ficou tão baixo que logo estávamos andando curvados. Uriel foi forçado a engatinhar.

A respiração ofegante de Alex era o ruído mais alto no Labirinto.

— Não suporto mais — sussurrou ele. — Já chegamos?

— Estamos aqui embaixo talvez há cinco minutos — disse Sina.

— Faz mais tempo do que isso — insistiu Alex. — E por que Pã estaria aqui? Isto é o oposto do mundo selvagem!

Seguimos adiante nos arrastando. Exatamente quando achei que o túnel fosse ficar tão estreito que nos espremeria, ele se abriu em um salão imenso. Iluminei as paredes com minha lanterna.

— Uau! — exclamei.

O salão inteiro era coberto por mosaicos de azulejos. As imagens estavam sujas e desbotadas, mas ainda dava para distinguir as cores — vermelho, azul, verde, dourado. O friso mostrava os deuses olimpianos em um banquete. Lá estava meu pai, Poseidon, com seu tridente, estendendo uvas para Dioniso transformar em vinho. Zeus celebrava com os sátiros, e Hermes voava com suas sandálias aladas. As imagens eram lindas, mas não muito precisas. Eu já vira os deuses. Dioniso não era assim tão bonito, e o nariz de Hermes não era tão grande.

No meio do salão havia uma fonte de três níveis, que parecia não conter água havia muito tempo.

— Que lugar é este? — murmurei. — Parece

— Romano — disse Sina. — Estes mosaicos têm cerca de dois mil anos.

— Mas como é que podem ser romanos? — Eu não era assim tão bom em história antiga, mas tinha certeza de que o Império Romano nunca havia chegado a Galveston Island.

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