Herói depressivo x Vilão ☄

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  ⇒ Você era insignificante. Inúmeras vidas foram perdidas em suas últimas batalhas com seu arqui-inimigo, famílias sofrendo por parentes que nunca mais veriam. Você não conseguia parar de se culpar pelas perdas.
Seu título não era mais importante para você, não se sentia merecedor dele, como iria encarar as pessoas que precisavam ser protegidas e saber que não conseguia ajudá-las?

  Semanas se passaram, as pessoas enlouqueciam pelo seu sumiço. Você não conseguia mais sair de seu apartamento sem sentir que estivesse se afogando nas lágrimas das pessoas que não conseguiu salvar.
  Não comia a semanas, seu corpo desidratado, você não conseguia levantar da cama nem para as coisas mais simples, não conseguia dormir e passou noites em claro por conta de seus pesadelos.

  Até que numa noite, você ouviu barulhos estranhos na cozinha..

◟☪◝

 — Oho, então era aqui que estava se escondendo, herói. — Uma voz rouca chegou aos seus ouvidos assim que pisou na cozinha..

 Não conseguia ver direito com a escuridão ao seu redor, assim que ligou a luz e se arrependia por ter feito isso, a luz machucava seus olhos fazendo com que tapasse seu rosto e esfregasse freneticamente os olhos na tentativa de aliviar a dor.
 Sentiu mãos macias tocar suas mãos, te impedindo de continuar sua ação e focar na pessoa a sua frente. Ele.

 — Algum problema, Guardião da Esperança? — O ruivo perguntou, quase que cantarolando o título que as pessoas haviam lhe dado, — Feliz em me ver?

 — Ernos...— Falou com a voz falha, deixando com que seu rosto descansasse nas mãos enluvadas do rapaz — O que..que caralhos você ta fazendo aqui? Como... — Sentiu sua visão ficar turva, sentindo seu corpo fraquejar, e não aguentando mais seu próprio peso, deixou-se cair no chão.

 O rapaz suspirou e balançou a cabeça em reprovação ao ver sua figura no chão, sem nenhuma delicadeza, o ruivo jogou você no ombro e foi em direção da porta da frente. Você não tinha mais forças para lutar contra o mesmo, somente abraçou o cansaço e fechou os olhos. Esperando não os abrir mais.



 Sentia como se estivesse se afogando. Num susto, tossia a água que havia caído em sua boca enquanto ainda tentava se lembrar o que havia acontecido. Viu o ruivo à sua frente de novo, com um spray na mão, enquanto o mesmo borrifava novamente água no seu rosto sem dar um segundo para você se recompor.
 Na terceira borrifada chutou a mão do rapaz, fazendo com que o spray caísse no chão, o ruivo sorriu de orelha a orelha, parecendo mais do que feliz com sua ação.

 — Puta que pariu Ernos...o que você quer? — Falou com a voz cansada, deitando a cabeça numa almofada macia, fazendo com que olhasse para o cômodo que estava com um pouco de espanto.

 Esperava que fosse um lugar isolado qualquer, onde iriam te torturar e jogar seus restos mortais em algum burraco qualquer. Porém, era somente um quarto simples, pequeno, mas com um sofá-cama, que era onde estava, confortável e macio. Não havia janelas, as paredes eram num tom cinza claro, porém com algumas teias de aranha nos cantos, não que fosse incomodar.
Sentiu seu rosto ser segurado, agora encarava o ruivo cara a cara. Porém o cansaço era tanto que mal conseguia manter os olhos abertos. Sentia o mesmo apertar suas bochechas, e puxar uma delas.

 Você soltou resmungos e insultos para o mesmo, que parecia não se importar com eles e continuava a apertar e a puxar seu rosto. — ernos..para. — você pediu baixinho, sentindo o mesmo parar.

 Quando olhou para ele, seu rosto não continha emoção alguma, como sempre. Porém seus olhos...eles tinham um brilho estranho para você, mas te lembrava a de uma criança que ganhou seu doce favorito. Vocês ficaram se encarando, em total silêncio. — Ernos...— você começou, — pela última vez.. o que você quer de mim? — silêncio. Já estava cansada disso — olha..eu não me importo mais, tá? faça o que quiser. Mate, torture, roube — dizia com um tom triste, enquanto olhava para o mesmo com os olhos cansados — eu não ligo mais pra isso. Estou farta disso.

 Sentiu o mesmo segurar seus ombros, — Eu quero... — ouviu o mesmo falar perto do seu rosto, sentiu suas testas se juntarem e o mesmo colar o rosto no seu, não conseguindo desviar de seus olhos negros — Eu quero meu heroi de volta. — Sentiu o aperto em seus ombros. — Essa cidade...ela é chata sem você. Sem a gente. Roubar, matar, destruir sem você no meu caminho...não faz mais sentido. — a voz do ruivo era fraca, sentia como se o mesmo fosse desabar em lágrimas a qualquer segundo — Essas últimas semanas sem você foram um inferno. Eu criei o caos por onde passava, porém nada disso fazia o vazio sumir. Só você — O mesmo segurou seu rosto grosseiramente, sentia como se ele fosse te quebrar em pedaços — Só você pode completar o vazio em mim.

 Suspirou em derrota. Não imaginava essa declaração do seu arqui-inimigo, não que parecesse algo romântico, longe disso, parecia o clichê do Batman e do Coringa. Sentiu o aperto do mesmo ficar mais forte, fazendo com que lágrimas se formarem nos seus olhos.

 — Passei todos esses dias te procurando. Achei que tinha morrido...todos acham isso. — Ouviu o mesmo ficar com uma voz assustadoramente suave. Suas mãos enluvadas acariciavam seu rosto, limpando as lágrimas que estavam caindo sem que você notasse. — Mas olhe pra você. Mesmo que esteja um desastre, continua com um brilho esplêndido.

 Sem aviso, Ernos te abraçou. Arrumando seu frágil corpo confortavelmente no colo do mesmo, enquanto acariciava suas costas e brincava com seu cabelo. Aquilo...era muito reconfortante. Você não conseguiu segurar seus choros e desabou ali mesmo, enquanto Ernos dizia palavras calmas no seu ouvido e te fazia se sentir em segurança. Nunca, em toda sua vida, poderia imaginar que estaria nos braços do seu maior inimigo, a pessoa que tornou sua vida um inferno, muito menos imaginar que essa pessoa estaria te confortando. 



⋯⋯ 𓇻

Curtas do Leitor ☻ x leitorOnde histórias criam vida. Descubra agora