E então, sentados à mesa da cozinha da loja ainda fechada, os dois anões olhavam-se nos olhos, digerindo o que tinha acabado de acontecer. Balteúm reclinou na cadeira, e encarou o pão seco que iria comer com alguns goles d'água para prontificar-se para mais um dia limpando as armas. Nas vitrines, o pó avermelhado suspenso no ar com o passar do tempo sedimentava-se sobre elas, deixando as armas com um aspecto enferrujado, sujo.
Ele naturalmente limpava seus produtos, mas a falta de fregueses fazia com que tivesse muito tempo vago, então ocupava-se com isso e com aprimorar suas técnicas de afiar lâminas. Ele tinha consciência que se nada mudasse, ele teria que se arriscar atravessando o deserto quase intransponível de Bornacte.
Boghos, por sua vez, estava sentado atrás do balcão, apenas deixando o tempo passar, mascando a própria bochecha. Quando ele escuta o sino da porta da frente tocar, anunciando a entrada de alguém.
Um sujeito encapuzado entra, trajando roupas escuras que ficam levemente à mostra debaixo do manto escuro que veste. No seu rosto, é possível ver somente seus olhos castanhos. Ele é um sujeito alto, e não é da região. Caminha alguns passos pra dentro da loja e vira-se para Balteúm, ficando calado e olhando em seus olhos.
O anão o reconhece, parando de fazer o que estava fazendo e falando:
-Por tudo o que é mais sagrado, você nos disse que apareceria somente semana que vem! - Balteúm se afastou enquanto falava, andando de costas na direção do balcão.
Boghos acordou do transe e viu o homem parado no meio da loja. Naquele momento, seu coração batia tão rápido, mas não conseguia mover um músculo sequer.
Então, a figura misteriosa falou num sussurro, após o ambiente ficar silencioso:
- Balteúm, meu ferreiro favorito... - A figura virou seu corpo levemente, para ficar de frente para Boghos. -Boghos, seu assíduo assistente...
Os dois anões aguardavam num nervoso silêncio as próximas palavras do homem encapuzado. Ele continuou, sussurrando:
- Acredito que tenha pronta a encomenda feita com o material que eu lhe confiei, não? - disse o encapuzado, emendando outra pergunta logo depois. - E quanto às flechas? Utilizou os lingotes extra para suas pontas? - Ele falava com um tom de indagação e cobrança, vendo pela reação dos anões que havia algo de errado.
- Boghos, vá pegar às flechas, eu pego a arma - disse Balteúm, indo para o pequeno armário, e tirando alguns segundos depois a maleta.
Seu auxiliar voltou da forja e trouxe uma caixa de dois metros cúbicos, aguardando uma ordem de onde colocá-la.
O homem encapuzado fez um sinal com a mão para que ele se aproximasse, e abriu a caixa, verificando seu conteúdo:
- Duzentas flechas perfurantes? - sussurou a figura. - Coloque-as em minha montaria. - Virou-se então para Balteúm, que estava parado com a maleta em mãos, e uma feição séria em seu rosto.
A figura aproximou-se, com passos nervosos, e quando percebeu que as duas travas laterais estavam violadas, deu uma pequena corrida, girando a trava principal, abrindo a maleta, deparando-se com uma espada bastarda normal.
O anão, quando viu que a roupa preta justa do homem expandiu com seus músculos ao apertar o lado da tampa da maleta, falou:
- Pegue e suma daqui, Doussard - disse confiante, embora trêmulo nas pernas.
- Ah seu tolo... - falou rouco, o homem encapuzado chamado Doussard.
Ele deu alguns passos para trás e disse firme, com uma neblina surgindo do chão, crescendo até a altura do joelho. De repente, o ambiente ficou gélido, e o sol da manhã que banhava a sala num piscar de olhos não estava mais lá.
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Tellúris - O conto de Albo
FantasíaAlbo é um garoto comum, mas quando sua cidade passa por uma crise de abastecimento, ele tem a deixa perfeita para sair numa aventura, num mundo repleto de magia, aventuras e... escuridão. A história é baseada em um RPG de mesa, num mundo onde a mag...