[ UDG ] SEGREDOS: Sem Querer, Querendo

6 - A VIZINHA DO 71

Encostando a porta sempre aberta da rua, para o pátio da vila onde mora, a distinta senhora de vestido e chapéu floral com rendas sempre igualmente azulados caminha até dia casa, o apartamento de número setenta e um enquanto carrega uma cesta de madeira com as compras que acabara de fazer na venda da esquina.
Assim que a mão delicada de Dona Clotilde fecha a porta, no girar da massaneta antiga e um pouco enferrujada...
Sua mente a transporta para um flashback onde um lindo casamento acontece:

Parreiras decoradas com flores brancas e azuladas, mesas e cadeiras decoradas, um grande buffet sendo preparado ao longe e convidados elegantemente vestidos com trajes de gala que aguardam pela chegada da noiva, enquanto o noivo, de frente para o padre está de costas, para alguns padrinhos que ainda caminham até o altar.
As mesas de mármore branco estão postas com bolos e guloseimas de inúmeros sabores.
Embora alinhados, os organizadores parecem agitados enquanto a cerimônia se encaminha para seu ponto alto: o tão esperado "sim dos noivos."
Não demora muito para que ninguém menos que Doutor Chapatin, apareça conduzindo a Senhorita Clotilde que vestida com um belo vestido de noiva até o altar.
Pelos bancos da grande catedral de paredes brancas é possível ver entre os ilustres convidados, personagens de Chapolin Colorado Super Sam, Capitão, Celina, a espiã disfarçada,
Conde Terra Nova, Almôndega. Disfarçados para não serem identificados ao fundo da igreja estão Poucas Trancas, Quase Nada, e ninguém menos que Racha Cuca, cuja aparência assusta Dona Clotilde de tão semelhante ao Senhor Madruga no início, mas eles trocam um breve olhar distante e discreto.
O padre, fingindo não perceber aquela troca de olhares prossegue com a conclusão da cerimônia, enquanto Chaves, Chiquinha agora jovens, Sr. Barriga e seu filho Nhonho, agora um jovem imponente e musculoso, acompanham de perto a conclusão do casamento.

- E... Se há alguém, que possua algum motivo contra a união destas duas almas perante nosso Deus... Fale agora ou cale-se para sempre.

- Sendo assim... - Diz o clérigo - Me resta perguntar aos noivos.
- Senhorita Clotilde, aceita o Senhor Madruga como seu legítimo esposo, para amá-lo e respeita-lo, estando com ele na saúde e na doença, até que a morte os separe?

- Sim! Sim! - A noiva diz radiante, enquanto... Sem que ninguém a note, uma figura de baixa estatura de terno feminino e grená, adentra a igreja pela porta dos fundos com um terno slim e bem alinhado com a letra "B" bordada com linhas vermelhas que parecem incandescentes em sua lapela.

- Ele é meu... Madruguinha! - Clotilde diz enquanto o padre se vira para Seu Madruga e a figura misteriosa, a observa atentamente.

- Senhor Madruga... Aceita a Senhorita Clotilde para... - O padre ainda fala, quando ele e a noiva tem uma desagradável surpresa:

Naquele mesmo instante, Madruga abaixa a cabeça e muito triste... Impede que a noiva coloque sua aliança no dedo anelar dele.

- Não! - Ele diz levantando a cabeça e colocando as mãos sobre os ombros de Clotilde, devolve as alianças ao padre, que emudece, de tão embasbacado.
- Senhorita Clotilde, padre... Me perdoem, mas... Eu não posso.
O meu coração...
- O quê?... - Clotilde pergunta assustada e ele revela:
- Meu coração pertence a outra pessoa! - Ele fala arrancando expressões e suspiros assustados de todos os presentes, segundos antes de sair correndo da grande catedral.
- O que disse?
- Madruga? - Clotilde diz caindo de joelhos no chão, enquanto ainda é observada pela silhueta misteriosa, ainda escondida entre a turba confusa e assustada.
- Senhorita Clotilde. Eu sinto muito! Papai! - Chiquinha, a filha de Seu Madruga agora uma jovem adulta diz desconsertada, enquanto se une aos jovens Chaves, Nhonho, Godinez, e Senhor Barriga que já correm pelo longo corredor, atrás do noivo fugitivo.

Humilhada diante de todas aquela pessoas, a pobre noiva abandonada corre para uma sala escura ao longe, enquanto misteriosamente aquela pessoa misteriosa desaparece como se fosse feita, de poeira.