2 - RETIRO

85 12 147
                                    

- Ai; Minha, Nossa Senhora de Guadalupe! - Florinda diz sentando-se em uma cama onde acaba de acordar e olhando para uma cortina que cobre uma janela muito grande à sua frente, diz:
- Acho que eu tive um pesadelo horrível! - Murmura caminhando até a janela.
Abrindo a cortina bem devagar, a noiva outrora em fuga que agora veste uma camisola de tecido bem leve, se admira com a paisagem além do quarto onde acordou.
Centenas de hectares de uma fazenda enorme, com ovelhas, cavalos, porcos, funcionários cuidando de tudo e até uma floresta ao longe, formam uma vista estonteante de tão magnífica.
Olhando um pouco para o lado, Florinda consegue ver a parte futurística de Tangamandápio ao longe.

Ainda não consigo acreditar nesse lugar. - Florinda diz abrindo de vez a janela, e já coloca os seus bobes, quando alguém bate à porta.
- Florinda, minha querida. O café está servido! - Dona Neves grita do outro lado da porta, enquanto já desce uma escadaria que dá para uma sala de estar enorme.
Na cabeceira da mesa está o dono da casa; o outrora carteiro, porém agora dono da agência dos correios de Tangamandápio, o Sr. Jaiminho.
Minutos depois, os três já tomam um delicioso café da manhã cheio de guloseimas, como diversos tipos de pães, bolos e doces chá, um pudim enorme e claro, uma generosa xícara de café quentinho e cheiroso, quando Florinda pergunta assoprando o café:
- Obrigada por me salvar, minha amiga, mas como fez aquilo? - Ela questiona Dona Neves pela estranha demostração de poderes especiais durante a perseguição deflagrada pelos lacaios do Prefeito Girafales.
- E... Aquela cidade lá fora, meu Deus? - Florinda continua suas indagações, bastante confusa com tanta informação, e Sr. Jaiminho resmunga:
- Tangamandápio?
- Sim! - Florinda o interrompe. - Como tudo aquilo... É possível?

- Minha querida, - Dona Neves explica com toda a calma. - Todos nós, tangamandapianos possuímos uma habilidade especial. Não é mesmo, meu amor?
- Com certeza, querida! Isso é muito comum entre nós, minha cara Florinda.
- Estou desconsertada ainda, me desculpem. - Florinda diz ofegante, quando Sr. Jaiminho a surpreende:
- A minha por exemplo, é a manipulação da vontade alheia.
- Não entendi! - Florinda diz já mexendo em uma mala repleta de cartas, e enquanto procura por alguma correspondência que lhe pertence, Jaiminho solta um leve sorriso gentil, dizendo:
- Viu?
- O quê? - Florinda réplica enquanto ele a faz refletir:
- Porque vocês mesmos é quem sempre pegavam as próprias cartas, enquanto eu... " Evitava" a fadiga? - Ele disse fazendo aspas com os dedos indicadores e médios, enquanto Dona Neves trazia alguns bolinhos de chuva quentinhos e açucarados à mesa.
- Agora entendo. - Florinda diz se deliciando com as guloseimas. - É estranho, mas entendo.
- E então? - Dona Neves pergunta enquanto toma uma chá de hortelã. - Porque me chamou para ajudá-la em sua fuga alucinante... De seu próprio casamento, minha amiga?

HORAS DEPOIS...

Florinda caminha por uma campina da fazenda do Sr

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Florinda caminha por uma campina da fazenda do Sr. Jaiminho; e enquanto toca suavemente em algumas flores de boldo que fazem um grande corredor ao seu redor, responde para si mesma a pergunta feita por sua amiga, Dona Neves lá no café da manhã:
- Acredito que eu tenha descoberto tarde demais; que o meu amor verdadeiro, não era aquele homem.
Que sorte a minha, meu Deus!
A brisa suave daquela manhã ensolarada, parece não ser o bastante para aplacar a tristeza no coração da ex-noiva que decide sentar-se numa rocha ali perto para observar a paisagem ao seu redor.
Ainda contemplando a metrópole futurista de Tangamandápio ao longe, a mente de Florinda foi tomada por um flashback:
Seu vestido leve e confortável adequado para aquele passeio no campo de repente virou um vestido de algodão amarelado com um avental surrado e molhado com água e sabão. Em sua mente, Dona Florinda estava de volta à vila onde morou com seu filho por longos anos!

O cheiro de café quase pronto e ainda fervendo no bule, inebriava toda a casa enquanto seu filho Frederico Jr, o Kiko pegava um bola enorme para se exibir para um garotinho com roupas remendadas que brincava no quintal lá fora com uma bola quase m...

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

O cheiro de café quase pronto e ainda fervendo no bule, inebriava toda a casa enquanto seu filho Frederico Jr, o Kiko pegava um bola enorme para se exibir para um garotinho com roupas remendadas que brincava no quintal lá fora com uma bola quase murcha, porém feliz da vida.
Arrumando os bobs nos seus cabelos castanho claros, Dona Florinda ainda teve tempo de preparar algumas travessas de biscoitos e tomou o cuidado de deixá-los todos bem amanteigados para uma visita muito especial que estava prestes a chegar.
Foi quando um grito estridente irrompeu pela janela da sala:
- MAMÃE! - A voz inconfundível, esganiçada e infantil a fez largar tudo que estava fazendo e arregaçar as mangas.
- Aquele descarado! - Disse correndo cozinha afora. - De hoje ele não me escapa.

Saindo daquele cômodo com armários e eletrodomésticos tão antigos quanto ainda conservados e com cores qua variavam do azul bebê ao vermelho e grená, ela passou pela velha televisão de tubo da sala sem reparar uma pequena goteira que havia no teto amarelado e logo estava lá fora correndo na direção de um homem magérrimo que vestia um chapéu surrado e acabara de torcer a pele do ombro direito de seu filho com um beliscão.

Saindo daquele cômodo com armários e eletrodomésticos tão antigos quanto ainda conservados e com cores qua variavam do azul bebê ao vermelho e grená, ela passou pela velha televisão de tubo da sala sem reparar uma pequena goteira que havia no teto...

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

O inevitável aconteceu de novo: uma bofetada naquele desafeto e o garoto de bochechas proeminentes gritava "gentalha, gentalha" correndo para dentro de casa atrás da mamãe.
No entanto; aquele era um flashback diferente.

Uma lembrança de uma manhã ensolarada como qualquer outra era o cenário que predominava o ambiente ao redor de Florinda, a eterna senhora carrancuda e resmungona que não se cansava de se auto proclamar como alguém "da alta" e esbofetear um certo vizinho, que por incontáveis vezes tinha a infelicidade de quase sempre ser pêgo em flagrante fazendo algo de ruim, logo com Kiko, o filho dela. Por mais que fosse inocente, o pobre homem sempre levava a pior.
Entretanto; aquele era o dia em que iniciavam-se as preparações para o Festival da Boa Vizinhança; e justamente durante aquele evento, alguns acontecimentos mudariam para sempre o destino da viúva do Marinheiro Frederico.

[ UDG ] SEGREDOS: Sem Querer, QuerendoOnde histórias criam vida. Descubra agora