40|ensaio final

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O poder da dança

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O poder da dança.

A parte mais incrível em ser bailarina, não são os aplausos no final de cada apresentação. A coisa mais especial e incrível de poder dançar, é poder se expressar. Acho que com toda arte, afinal. Mas o que acontece quando você está em cima de sua sapatilha de ponta e respira fundo tentando se manter em pé, é algo que muitos teóricos, filósofos ou cientistas até podem tentar explicar, mas irão falhar miseravelmente.

Vão falhar porque o que se sente quando se está ali, não tem como explicar. Não existe uma teoria, não existem palavras e não existem cálculos para o que uma bailarina sente quando sobe na ponta de suas sapatilhas. O mundo todo ao seu redor, para. Você se esquece das longas manhãs e tardes de treinamento. Você se esquece das dores, das marcas das quedas, dos machucados nos pés, e se não conseguir parar com o ciclo vicioso de: subir na sapatilha, respirar fundo e esquecer, você acaba se esquecendo até de você mesmo no meio do processo.

A verdade é que, às vezes, pessoas que são ocupadas demais não necessariamente consideram não ter tempo como algo ruim. Quando se está ocupado, quando tem que se concentrar em alguma coisa ou executar tal tarefa, você entra no seu modo automático. Uma espécie de mecanismo que faz com que o seu cérebro se foque em algo, e somente nesse algo. Você se esquece de tudo ao seu redor, e talvez seja por isso que as pessoas estão procurando constantemente algo. O mais louco é que, de vez em quando, nós desejamos tanto ficar sem fazer nada que quando isso acontece, parece que estamos beirando a loucura de um tédio sem fim. Ou talvez o ponto aqui seja: nós nunca estamos satisfeitos com absolutamente nada.

Nós, bailarinos, dançamos muitas vezes aquilo que não se pode ser dito.

Ou aquilo que não conseguimos falar.

Liz, infelizmente, não conseguiu uma aprovação médica para que pudesse apresentar a peça o que, por mais incrível que pareça, não a deixou triste. A garota de cabelos curtos ruivos, após entregar os laudos para o professor Halkins apenas sorriu para mim e Ottus e disse:

—Acho que, no final de tudo, descobri que prefiro ficar atrás das cortinas do que na frente delas.

Ainda completou mais tarde dizendo que seu sonho não era mais ser uma bailarina renomada, seu sonho era, simplesmente, poder ajudar outras garotas gordas como ela a não se deixarem se abalar por um estereótipo de que bailarinas devem ser magras para conseguirem fazer aquilo que amam, ou seja, dançar.

Ottus e Arthur competiram por algumas semanas pelo papel do chapeleiro maluco, mas no fim, não importou. Meu amigo Ottus conseguiu sua segunda chance de mostrar para todos daquela universidade seu grande talento. A sua incrível arte de dançar. Confesso que fiquei feliz por saber que, agora, eu iria dançar com Ottus. Porém, de alguma maneira, uma parte de mim se sentia mal por Arthur. Eu sei que ele pode melhorar, que pode ser um grande bailarino e que pode ser uma pessoa boa. Talvez bem no fundo, mas ainda pode. Ou talvez eu só precise perder essa minha mania de ter esperança.

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