17|me conheça

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A Educação é um ballet de interesse: penso que educo, imagino que ensino
e ignoro que aprendo.
—Valdecir Amorim.

Faz algumas horas desde que eu assenti um sim silencioso e Ivo pegou minha mão nos trazendo para fora da boate

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Faz algumas horas desde que eu assenti um sim silencioso e Ivo pegou minha mão nos trazendo para fora da boate. Por algum motivo ou surto eu entrei em seu carro e deixei que ele me mostrasse quem ele era.

Deixei que ele me mostrasse tudo o que verdadeiramente era e talvez entendesse os motivos de eu ter isso aqui com ele.

O frio na barriga, a leve dor de cabeça quando ele sorri fechando os olhos e as pernas bambas de quando ele me olha sério.

O trajeto todo foi extremamente silencioso. Estávamos aparentemente no centro da cidade e no rádio passavam algumas notícias quaisquer. Meu olhar estava na janela e o de Ivo no volante e no caminho à frente.

Eu sentia ele me olhar em todos os sinais vermelhos e meu rosto queimava. Eu sei que muito provavelmente estaria vermelha para um caramba e que se dane. Nada disso importava. Ele importava.

Chegamos a um condômino de prédios e ele entrou com o carro seguindo para o estacionamento. Desceu uma rampa e chegou até sua vaga. Girou a chave ao contrário e o único barulho — o do carro ligado— que preenchia nosso silêncio foi desligado.

Ivo continuou olhando para frente e aos pouco retirou as mãos do volante colocando-as em suas coxas. Eu observava cada detalhe de seu rosto e ali eu notei suas pequena olheiras que se formavam em baixos dos olhos. Notei seus pequenos sinais de covinhas nas bochechas e a mais pequena ainda falha na sobrancelha, provavelmente de algum soco levado no ensino médio.

Levei minha mão até a minúscula cicatriz na sobrancelha e quando toquei ele engoliu seco. Fiz menção de retirar a mão, mas Ivo foi rápido o bastante para segurar meu braço e me manter tocando-o.

Ele queria me mostrar quem era.
Ele queria me mostrar tudo.
Queria que eu o conhecesse e eu iria.
Cicatrizes, fraquezas e inseguras. Ivo queria que eu soubesse que ele tinha tudo isso.

Ele virou o rosto na minha direção e deitou de leve na palma da minha mão me olhando. Vulnerável. Era isso que Ivo estava. Por mais escuro que estivesse ali dentro daquele carro, eu ainda conseguia ver seus olhos brilhando e piscando lentamente enquanto fazia um carinho de leve no meu braço.

Sorri de lado e ele respirou fundo.

—Vem comigo? — Ele falou por fim e eu assenti novamente um sim.

Subimos a rampa pelas escadas do lado de mãos dadas e Ivo ia na frente me guiando pelo caminho.

Não era um caminho qualquer. Ivo estava me guiando para dentro de si. Dentro de seus pensamentos e dentro de quem ele era.

CONEXÃO #1Onde histórias criam vida. Descubra agora