37|escolhi fugir

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Me esforço ao máximo para não olhar para ela

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Me esforço ao máximo para não olhar para ela. A missão impossível da noite está decretada. Aimee dança um ritmo qualquer de Tango com seu amigo, Ottus, e caramba, eles sabem como fazer aquilo. Os movimentos são precisos, exatos e chegam a alcançar níveis de delicadezas incontáveis quando os pés, calçados com as sandálias pretas de salto fino, batem ao chão. Incomparável e indiscutível, eles são os melhores. A química que dois bailarinos podem ter é algo onírico, e eu não consigo entender. Qualquer um que observasse de longe, afirmaria que são um casal. Veja bem, eu não estou com ciúmes de Aimee. Nunca.

Mas vê-la dançando tão fodidamente linda daquele jeito, é covardia.

Covardia demais.

Liz e Olívia não ficam para trás. É nítido que Liz conduz a dança, mas Olívia não fica nada para trás. Ambas estão de vestidos pretos e saltos, o ruivo do cabelo de Liz encanta a irmã do meu melhor amigo, e como se estivesse enfeitiçada, abraça a ruiva pelas costas e enterra o rosto na curva de seu pescoço. Liz gargalha e isso chama a atenção de Aimee e Ottus que devolvem caretas para as duas. São um bom quarteto, inegavelmente.

Otávio, ao notar a presença da irmã recém chegada na boate, muda seu semblante de felicidade e emburrado pede uma garrafa de whisky se sentando sozinho no palco. Ele não parece estar aqui, seus olhos vagam pela multidão de jovens dançantes e até uma garota vai falar com o mesmo, mas ele, por mais incrível que pareça, a dispensa.

Anne, dança na companhia de um rapaz que tenho certeza que já vi em algum lugar antes, talvez na universidade? Não sei, mas já o vi. E estão dançando como os demais ali, usando o Tango como uma forma de flertar. Flertar descaradamente. E quem se importa? É o que todo mundo faz com músicas e danças sensuais.

Viro mais uma dose, perdi a conta de qual número exato essa poderia ser. E outra e mais uma. Até que por um vislumbre de vista, pego Aimee me encarando séria na pista. Sem dança com Ottus, sem Liz e Olívia ao seu lado já que todos estão caminhando até o bar para pedirem algo para beber. Ela não se move. Nem um passo sequer e mantém seu olhar firme. Talvez sua expectativa fosse que eu apenas cortasse nossa fúria mútua e desviasse o olhar.

Mas na realidade, me permito sorrir de escárnio e deixando o pequeno copo no balcão, caminho em direção a minha perdição.


"Por una Cabeza" de Carlos Gardel começa a entoar pela pista enquanto Aimee faz questão de ficar impassível no mesmo lugar, como se me esperasse ansiosa para que pudéssemos terminar com tudo isso logo. Como se desejasse que meu corpo estivesse colado no dela novamente.

Acontece que, apesar de eu não acreditar em bruxas, Aimee me parecia com uma. Ela e todo aquele charme de educação e sensualidade na mesma pessoa...porra, é demais. Cada gesto, cada olhar e até mesmo cada toque dessa mulher, fica grudado em mim. Frente a frente um do outro. Nossa troca de olhares é indecifrável e eu duvido que qualquer um à nossa volta não note o quão nossa tensão é palpável. Não éramos mais a Aimee Lyn e o Ivo Stenvall do começo, quando tudo o que nos preocupava era a nossa conexão mágica, agora, nós tínhamos raiva, ódio e até mesmo insegurança sobre o outro. É muito difícil tentar erradicar uma ideia que se instala no cérebro humano. Nossas ideias permanecem.

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