- Caminhando pelas redondezas pude usufruir tanto do ar puro quanto das belezas nas flores, para vocês senhoritas- ele estendeu duas flores pequenas e amarelas, uma para mim e a outra para Jessica- além do mais, encontrei um punhado de folhas anestésicas, ah! Devo acrescentar que são inofensivas senhoritas, apenas servirão de alívio para seu tornozelo, querida.
Darcy entrou pela porta carregando algumas folhas numa das mãos e flores na outra, deixou as folhas sobre a mesinha de centro e foi bisbilhotar a cozinha.
-Com sua licença, irei até a cozinha- anunciou ele.
Instantes depois lá estava Darcy com um copo e algo para esmagar as folhas, carregava também uma vasilha com água.
Do bolso ele tirou um lenço que parecia ser de seda branca, sacudiu o lenço no ar e muito delicadamente mergulhou o tecido na água, e deslizou sobre o hematoma no tornozelo da Jessica que não pôde segurar um gemido de dor.
- Antes preciso higienizar o local da lesão, me perdoe pelo incômodo senhorita- percebi a maneira como ele a fitava.
- Nem ligue, não tá doendo nadica de nada- mentiu ela sem graça,qualquer pessoa se perdia naquele par de olhos intensos.
Depois de tirar o excesso de sujeira, o tecido branco perdeu sua palidez, dando lugar a um tom marrom avermelhado. Minutos depois uma gosma verde, que Darcy retirou do copo com a mão, preencheu todo o machucado, até onde terminava o corte que não parecia tão profundo.
De repente uma pontada de inveja me pegou de surpresa, senti vontade de ser minha amiga, mesmo em circunstâncias tão desagradáveis.
Mas não foi por ciúme ou algo do tipo, não sei explicar esse sentimento tão estranho e desconhecido.
Só que, ver o cuidado dele para com ela mexeu comigo, fez as engrenagens do meu cérebro funcionarem de modo agitado. E não me pergunte o porquê, mas eu me lembrei do meu pai, do tempo no jardim da infância.
Antes do Rafa nascer, papai e eu éramos quase melhores amigos por assim dizer, brincávamos até tarde, ele fazia meus gostos nas brincadeiras e se esforçava muito. Quando chegava do trabalho eu o recebia na porta com os braços esticados para cima na esperança de ganhar um abraço de urso, e bom, eu ganhava, só ali, me sentia protegida como nunca. Me lembro dele equilibrando meus pés sobre sua mãos grandes e ásperas pelo trabalho, eu subia com os pés apoiando-os nas mãos dele, e ele me aguentava firme, sem hesitar ou reclamar dizia que eu era leve como pena e sempre fui pequena, as vezes ele arriscava mais, me sustentando com os próprios pés, e eu adorava o sorriso dele deitado enquanto eu me matava de rir bem no alto, me sentindo um gigante que em breve dominaria o mundo. Era divertido.
Me vi sorrindo feito boba e senti uma lágrima quente rolar pela minha bochecha, assim do nada.
Saudade eu acho!
Quando percebi a lágrima, premeditei a enxurrada que viria logo em seguida e Não! Não podia deixar que me vissem chorando e vulnerável- pode ser TPM- então saí e aproveitei para tomar um ar fresco, do qual Sr. Darcy havia comentado a pouco, e espantar aquelas lembranças tão boas e distantes.
Não vivia mais aquele mundinho... Não mesmo.
Tentei me livrar daquilo, mas não deu certo falhei, já que um turbilhão de recordações começou a invadir meu cérebro sem permissão.
Quando o Rafael nasceu, costumávamos dizer que ele trouxe cor para nós, não que já não tivesse cor suficiente, ele apenas coloriu ainda mais, entretanto. Ele me perguntava: Eu sou de que cor Luci?
Durante a gravidez, minha mãe me deixava colar o ouvido na barriga dela e conversar com ele todas as noites antes de dormir, eu contava sobre meu dia, descrevia o mundo aqui fora e me arriscava a cantar músicas de ninar para ele, nessa parte ele chutava muito forte, ou sou boa ou desafinada demais, inventava histórias e minha mãe sempre pegava no sono e adormecia tão serena.
Ao nascer meu irmão já fez uma baderna, começando por escolher vir ao mundo bem as três da manhã, acordando a casa toda com os berros de minha mãe, eu achei que fossem pesadelos, mas não, era ela dando seu alarme, mas isso foi o que permitiu mais tarde naquele dia, que eu e papai víssemos o sol nascer, a cena mais espetacular já vista por mim minha humilde vida, o laranja se perdendo entre o azul, não dava para saber onde o azul começava e onde o laranja terminava, um degradê perfeito, o orvalho na grama rasteira fazendo o friozinho ainda mais gostoso, tudo isso bastou para tirar um sorriso de meus lábios. Essas eram as cores do Rafa. Papai me abraçou forte para me esquentar e meu pensamento não saía da mamãe e do Rafa, queria conhecer meu irmãozinho o mais rápido que eu pudesse.
- Logo logo eles estarão com a gente meu amor- papai susurrou como se soubesse o que eu estava pensando.
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O namorado dos meus sonhos
RomanceLuci, uma menina comum, exceto pelos acontecimentos que precisará aprender a controlar daqui para frente. Isso envolve um colega de escola, uma melhor amiga, uma redação inesperada e três personagens literários misturados em um só. Quer descobrir ma...