Implorar - pt. 2

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Depois daquele papo todo Paula se retirou até sua sala e mandou mensagens para Neném, que não respondeu nenhuma. Ela o entendia, iria esperar o tempo dele para poderem conversar.

A Terrare precisava dele, necessitava de seu amor.

Foi um dia relativamente tranquilo, tranquilo até demais e isso estava prestes a mudar com Paula reparando que Carmem ainda estava em sua sala, e para não perder a oportunidade de falar sobre a ideia mirabolante, ela seguiu caminho até a sala de sua rival.

"Oi, minha querida, muito trabalho hoje?"

Carmem que revisava uns papéis olhou para Paula como se tivesse crescido uma outra cabeça no pescoço de Paula, retirou seus óculos e respondeu :

"Qual a razão do interesse repentino, Paulete?"

"Ah, nenhuma razão, só queria saber mesmo como foi o dia da minha amiga. Então, como foi?"

Arrumando seus óculos Carmem se levanta e se senta na beira da mesa, agora olhando intensamente a mulher em sua frente.

"Corta essa, não somos amigas e você nunca quis saber de mim."

"Nossa, quanta ignorância, e eu querendo ser gentil, saber de você..."

"Sabe, amiga?" Disse Carmem dando ênfase em "amiga".

"Você quer mesmo seguir com a idéia de sermos um casal, né?"

"Você sabe que sim."

"Mas quanto você quer isso?"

"Como assim? Você sabe que eu preciso disso, querer mesmo eu não quero não."

Carmem riu de uma forma debochada e disse :

"Se você quiser isso Paula, me implora, anda!"

"Implorar? Você tá maluca sua Cascacu? Nunca!"

"Bom, então eu acho que não sai casal, nem hoje e nem nunca!"

Dito isso, a loira juntou suas coisas e ia se retirando, deixando a Terrare, ainda atônita, para trás, quando ela tomou uma atitude inesperada, correu atrás de Carmem e a segurou pelo braço.

"Implorar?"

"É, quero que você peça de joelhos um por favor bem convincente, porque você precisa disso, se você fizer isso eu aceito."

Carmem se sentiu uma gênia, com todo o ego da Paula ela nunca faria isso, iria falhar por si só e não atormentaria Carmem com aquela histórinha, ela teria perdido por culpa dela e só dela.

Por um breve momento Paula relutou, e quando viu Carmem se retirando novamente pensou que essa poderia ser sua única chance de ter o que ela precisava e ela não poderia negar, ela não tinha escolha, pois ambas levavam esses desafios muito a sério, era a forma que elas faziam isso.

Ela chamou Carmem, que se virou, disfarçado um olhar de espanto, substituindo-o por um olhar de prazer imenso enquanto mordia os lábios por ver Paula de joelhos e implorando, e se recostou novamente em sua mesa :

"Por favor, eu preciso disso Carmem, aceita?"

"Nananão Paula, você quer isso, diz, "Eu quero isso, quero que você aceite a minha proposta".

Última cartada, a morena não poderia se humilhar tanto.

"Por favor, aceita, eu quero isso, o que você me diz?'

A essa altura Paula parecia conter um enorme ódio, ela não disfarçava tão bem quanto pensava, mas quem sabe a intenção dela era não esconder, pensou Carmem.

Testar limites, ela pensou.

"Ah, não sei, pede com mais jeitinho."

Paula bufou, se arrastando e chegando mais perto, seu tom de voz agora levemente embargado :

"Por favor, aceita, eu tô aqui implorando, de joelhos, porquê eu preciso mesmo disso, eu tenho a minha filha pra cuidar, e acima disso eu ainda tenho vontade de fazer isso dar certo, de concertar coisas que eu errei, tudo bem, não é da forma mais honesta, mas e daí? Diz que sim, por favor?"

A forma em que o discurso foi dito mexeu muito com Carmem, e de certa forma ela sentiu um desconforto enorme, ela se desconcertou e nem sentiu as palavras saltando de sua boca :

'Sim..."

"Sim, sim o quê casca... Digo, Carmem?"

"Sim, eu aceito."

Pronunciou como se tivesse sabendo que seria sentenciada a morte, e de certa forma era, pois Paula era sua morte, seu sim soando como um sim de noiva, uma do tipo que não queria casar.

Carmem estava se sentindo balanceada demais. Paula correu para abraça-la, pulando, e aquilo foi demais, Carmem saiu correndo dali.

Paula, independente de como conseguiu o que queria, ficou feliz, nem ligando pela forma estranha que a Cascacu saiu correndo, deixando por um breve momento a sensação de humilhação de lado, mas com a certeza que se vingaria, só não agora, pois hoje ela iria comemorar.


O Acordo de Milhões - CarrareOnde histórias criam vida. Descubra agora