[Narrado por Eric Lluv]
Sinto o gosto do beijo dele, gosto de algo que nunca provei, e ouço o barulho da água caindo ininterruptamente, som que nunca ouvi, e sinto o cheiro úmido da floresta, cheiro que nunca senti. Ele toca meu rosto com as duas mãos e eu nem tento obedecer a minha razão dizendo para eu me afastar, afinal, não quero me afastar.
***
MAS.
AFASTO-ME DEPOIS DO BEIJO.
Ben me olha, confuso.
— Me desculpe. — Ben fala, mas sei que ele só está falando isso pelo costume.
Eu não sei o que dizer. Eu queria ter a coragem necessária para lhe dizer que sou o príncipe e que não mereço nenhuma espécie de compaixão sua, mas sou fraco e apenas me afasto. Ele me pede desculpas de novo. Eu assinto e vejo o seu rosto completamente perdido.
— Ah, podemos voltar. Daqui, conheço um caminho que vai para a casa de minha avó... e de lá.
— Preciso ir... ah... — Minha voz está estranha. — Minha família deve estar preocupada.
Ele concorda.
— Posso te levar até a Vila Vermelha, se for o caso, ou o Palácio do Lago... ou.
— Certo... eu, ah, agradeço.
Ben monta, com certa dificuldade, no cavalo e eu subo na sua garupa.
— O que foi?
— Nada não — ele reponde.
É estranho o quanto nossa viagem pela mata é silenciosa e, deus, eu queria que fosse diferente, mas acho que é melhor assim. Até Ben fica calado e isso me incomoda; um incômodo estranho.
Chegamos à Vila novamente por uma entrada diferente.
— É melhor eu não entrar — Ben diz, por fim. — Você sabe, a coisa da beleza, de homens correndo atrás de mim e tudo mais.
Sorrio e apeio do cavalo. Bruce relincha.
— Obrigado.
Ele assente.
— Tome cuidado — Ben diz.
E o tempo se prolonga mais do que eu queria, mas simplesmente não consigo mover um músculo do meu corpo. Olho para Ben; ele também está olhando para mim. Aceno com a cabeça, numa tentativa de despedida. Ele fala com Bruce e eles começam a se distanciar. Permaneço no mesmo lugar por preciosos segundos e, depois, sinto um aperto estranho no peito; percebo que estou sozinho e que, apesar de ter sido treinado no Forte para as mais variadas ocasiões, a de quase voltar dos mortos em um ambiente hostil não é uma delas.
Caminho vacilante pelas ruelas da Vila, vazias. Mas ouço vozes vindas da praça principal e ando na direção da praça. Enquanto caminho, penso no que fazer; provavelmente simplesmente chegar em algum guarda e me apresentar deveria ser o suficiente, afinal, treinei com vários deles no Forte, mas como já sei, a Guarda foi retirada daqui.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Canção do Rei [Concluída]
خيال (فانتازيا)E se os contos de fadas fossem diferentes? "A felicidade está sempre a um passo de distância, basta apenas que tenhamos coragem de dar um passo a frente" O príncipe Eric Lluv descobriu há pouco tempo que herdou os poderes destrutivos do pai e agora...