Capítulo 12 - Luta, fuga e *Ben*

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[Narrado por Eric Lluv]

Eu não consigo dizer nada.

A avó de Ben se aproxima mais de mim e diz, apenas para mim, com um olhar fixo e estranho:

— O que você vai fazer agora, Vossa Alteza?

***

— VOCÊ ESTÁ BEM? — BEN PERGUNTA depois que tropeço nele pela segunda vez enquanto andamos nas vielas sujas da Vila Vermelha. Já tropecei também nos pedaços de madeira velha no meio do caminho e uma vez em Bruce, que balançou a cabeça, demonstrando insatisfação. Durante a noite, não dormi, pensando no que deve estar acontecendo em Aurora.

Aceno que sim.

— Você tem certeza?

Não, quero dizer, mas não digo e aceno novamente.

Continuamos caminhando. Ben à frente, puxando Bruce e eu logo atrás de Ben, do lado do cavalo.

Ben para abruptamente e, novamente, tropeço nele.

— Desculpe-me.

— Ei, o que houve?

Ben pergunta, se virando para mim e me empurrando gentilmente para trás de um casebre, de modo que a gente não fique no meio da rua. Ele olha para um lado e outro se certificando de que não há nenhuma pessoa que possa pará-lo para "tirar satisfação sobre seus roubos".

— Não é nada. — Respondo tentando não olhar para ele e meneio a cabeça, com o intuito de continuar andando.

Ele segura meu braço e olha através dos meus olhos e sinto uma sensação boa, como a que senti duas noites atrás quando ele contou toda uma história idiota para me ajudar com o medo da chuva. Como a que senti quando ele se aproximou de mim e me fez sentir seguro. Como a que senti quando ele me beijou.

— Você está estranho e muito desatento.

— Desculpe, eu só...

— Ei, Eric, não tô falando disso. Não tem que se desculpar, é só que você está estranho, desde ontem. O que houve? Foi alguma coisa que alguém lá de casa te disse?

— Não, não. Claro que não — Minto, considerando que sim, houve algo que a avó dele me disse que realmente me deixou desnorteado, mas isso não tem nada a ver com a hospitalidade e o aconchego deles e, por isso, não vem ao caso agora. E, de tudo, isso, ela saber que sou o príncipe, é o que menos me incomoda — Eles foram gentis e — Ele franze o cenho — digo, eles são ótimas pessoas.

— Então, o que houve?

Suspiro e percebo que não consigo mais fingir. Achei que ser apenas o Eric seria muito fácil, mas na realidade, isso não é verdade.

— É tão complicado que não sei se você gostaria de ouvir a história toda.

Ele sorri.

— Gosto de uma boa história. Só receio que não seja tão boa quanto a que te contei ontem.

Eu também acabo sorrindo e relaxo os ombros. Não tinha percebido ainda o quanto estava tenso.

— Nada se compara àquela.

E ficamos em silêncio.

— Então?

Suspiro fundo. É estranho pois estou prestes a contar para Ben que sou, na realidade, o príncipe e a ansiedade está me consumindo de uma forma que talvez só tenha me consumido em momentos muito específicos, como na semana que assumi o trono ou no dia do noivado. Contar para ele que sou o príncipe de Aurora tem um peso tão grande para mim que nem mesmo sei explicar. Queria continuar sendo só eu. Queria que ele me visse apenas como sendo eu. Mas isso já não é possível. Talvez nem exista um eu Eric, sem existir um eu príncipe Eric.

A Canção do Rei [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora