[Narrado por Ben]
VEJO, DE LONGE, O PALÁCIO de inverno de Montero e ele está coberto de neve, assim como o imenso jardim na entrada. Da mesma forma que quando fui a Aurora, me impressiono com a beleza de tudo e com a riqueza presente no lugar; me impressiono com os arbustos perfeitamente podados, cobertos de gelo. Com as estátuas de gente morta há anos em guerras que ficam marcadas apenas por esses fantasmas em um jardim qualquer.
Guio Bruce, cansado, para a esquerda. Não vou entrar pela entrada da frente, pois apesar de saber que consigo lutar contra os guardas na porta, meu plano frágil não é o de criar um caos. Começo, então, a dar a volta no jardim até chegar a um labirinto bem podado e coberto de neve. Apeio (Bruce sabe se virar) e, sem pensar duas vezes, entro no labirinto, considerando esse o modo mais rápido e simples de chegar ao palácio e ao Eric.
Corro. E, enquanto corro, penso em como tudo teria sido se eu não tivesse nem mesmo pensado em roubar o palácio Vermelho, eu não teria me atrasado tanto naquela noite e teriam matado o príncipe e eu nunca teria o conhecido e. Ouço meu sangue pulsando no meu ouvido enquanto corro na direção dele. Talvez tudo seja realmente como minha avó disse: talvez o destino já tenha escrito que Eric e o príncipe Joseph devem ficar juntos para governar os reinos. Meus pés atolam levemente na grama coberta de neve. Talvez tudo já esteja escrito, afinal.
Mas, sendo assim, o destino vai ter que lutar, pois estou disposto a reescrever essa merda toda.
Então, ouço uma voz.
— Pare aí! Quem é você?
Dois guardas brotam na minha frente. As mãos já apoiadas no cabo da espada.
— Eu preciso falar com o príncipe Eric, só isso.
— O príncipe não está disponível agora.
Eu começo a tremer de uma forma que nunca fiz antes.
— Por favor, eu preciso...
— Vossa Alteza, como eu já disse, não está disponível...
— Por favor... — Digo e tento dar mais um passo na direção do palácio, mas os guardas empunham as espadas e sou apenas eu contra eles e, no desespero, penso que, se quando eu não tinha nada pelo que lutar, eu já conseguia render guardas reais metidos à besta na Vila Vermelha, agora estou mais empenhado que nunca em entrar nessa merda de palácio e falar com Eric.
Puxo minha espada e, antes que um dos guardas perceba, o desarmo. Com a espada apontada para ele, de modo que o outro não consiga me atacar, subo lentamente as escadas que dão acesso ao castelo. Quando estou no topo, corro.
Os corredores são extremamente brancos e lisos e tropeço em inúmeros objetos que provavelmente valem muito mais que minha própria existência. Grito o nome de Eric. Onde ele está? O desespero se mistura com a ansiedade de vê-lo novamente e esses sentimentos me inebriam de uma forma estranha que pareço estar prestes a desmaiar. Subo uma escada até o andar de cima e entro no primeiro quarto do corredor de aposentos do castelo. Uma senhora se assusta levemente.
— Me desculpe — digo, rapidamente. Ela se levanta. Veste um vestido vermelho cor de sangue. — Estou procurando o príncipe Eric.
Ela sorri para mim e o quarto parece ficar mais quente. A senhora de vestido vermelho diz, após o sorriso:
— Então, você é o rapaz — Estou respirando tão rápido que quase não consigo entender o que ela fala — o rapaz que quer destruir a vida do jovem Eric.
Eu sinto que vou desabar a qualquer momento.
— O quê? — Pergunto, quase sem voz suficiente. Ela demora um pouco para responder, o que me faz pensar se realmente eu verbalizei as palavras ou se não fui capaz de dizer nem isso. Então a mulher se vira para a janela e começa a dizer:
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A Canção do Rei [Concluída]
FantasiE se os contos de fadas fossem diferentes? "A felicidade está sempre a um passo de distância, basta apenas que tenhamos coragem de dar um passo a frente" O príncipe Eric Lluv descobriu há pouco tempo que herdou os poderes destrutivos do pai e agora...