Capítulo 23

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Bora trazer nossa bilionária pra casa?

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Sexta-feira, 10 de junho ao meio-dia

Meu telefone zumbiu no meu bolso pela quarta vez desde que o meu turno começou. Eu estava tão ocupada, não houve um segundo para verificar desde que a primeira mensagem chegou. Aquela tinha sido de Charlotte, pedindo-me para ligar para ela o mais rápido possível. Sério, a mulher geralmente tinha mais paciência. Às vezes, quando ela cozinhava o jantar para mim, como ela faria esta noite, ela me ligava uma ou duas vezes para perguntar se eu queria isso ou aquilo. Ela nunca me ligou quatro vezes em uma hora, no entanto.

Eu me preocupei que talvez fosse a minha mãe. Vovó estava em estado grave nos últimos dias. Eu estava esperando que minha mãe ligasse a qualquer momento e me dissesse que ela havia falecido.

Voltei para a cozinha e me encostei contra a parede ao lado da porta de vai-e-vem.

Eu estava prestes a puxar o meu telefone para fora quando Barbara se aproximou e colocou uma mão em cada lado da minha cabeça.

"Uma pequena ajuda?" Seu queixo apontou em direção ao seu peito e ela me deu aquele olhar de cachorrinho.

Engoli em seco. Seu rosto estava tão perto do meu, e seu corpo quase cobria o meu, mesmo que não estivéssemos nos tocando. Deixei o telefone cair de volta no meu bolso.

"Eu tenho que levar essa comida para uma mesa de seis. Você pode fazer isso comigo?" Ela perguntou.

"Claro." Eu disse, minha voz instável.

"Obrigada." Ela deu um passo para trás e permitiu que eu recuperasse minha compostura.

"Eu quero um pouco dessa gorjeta." Eu disse com um sorriso, segurando uma bandeja para ajudá-la.

Barbara não tinha trazido à tona o quase beijo da semana passada, nem me perguntou nada sobre a estranha aparição de Tyler. Eu acho que ela estava um pouco assustada com o imenso tamanho do meu amigo/guarda-costas. Esse medo não a impediu de me deixar saber que ela ainda estava interessada em mim. A presença de Tyler tinha reaberto algumas feridas que eu pensei que estivessem curadas, no entanto.

Tyler me deu as senhas necessárias para olhar a luz da Rafa piscando, o que eu fazia todas as noites e às vezes durante o dia depois do trabalho. Eu estava me transformando em algum tipo de perseguidora cegamente psicopata. Marilia provavelmente ficaria orgulhosa. Eu observava a pequena luz da Rafa se mover em torno das ruas de Londres. Eu observava sua luz ficar imóvel. Quando estávamos juntas, eu a observava ler seu jornal matinal no café da manhã, notando como a mão dela, inconscientemente, corria através do seu cabelo, ou como seus lábios franziam enquanto ela lia alguma coisa que capturava o seu interesse. Eu costumava observá-la se vestir. Todas suas roupas foram feitas sob medida. Eu sentia falta da forma como ela sempre olhava de volta para mim através do espelho, dando-me aquele sorriso torto. Olhar para a estúpida luz claramente não era mesma coisa, mas era tudo o que eu tinha agora.

Meu voyeurismo desencadeou alguma coisa, uma mudança em meu pensamento.

Quanto tempo eu ficaria sentada por aí esperando por alguém que não voltaria? Quanto mais eu olhava para a luz, mais eu podia senti-la me esquecendo. Assim como eu costumava sentir o seu medo e preocupação em me perder, eu agora posso senti-la chegando ao entendimento com o fato de que eu estava perdida. Eu era a única se segurando em algo que não estava mais lá. Eu saía com Charlotte e ficava feliz ao ver Tyler porque eles eram uma parte dela. Sua luz piscando vagava em torno de uma cidade onde ninguém me conhecia. Minha presença nunca seria sentida. Meu nome não passaria pela mente dela. Eu precisava aceitar que eu já não era mais parte dela. Nosso tempo tinha aparecido e desaparecido.

Sextas-feiras - RabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora