Capítulo 18

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AVISO: Este capítulo trata de questões sensíveis em relação ao suicídio, doença mental e TEPT*. Sinta-se avisado.

*TEPT: transtorno por estresse pós-traumático, é um transtorno psicológico classificado dentro do grupo dos transtornos de ansiedade, que ocorrem como consequência da exposição a um evento traumático.

Nota da adaptadora: Está bem pesado, mas é a história da Rafa, e já vou postar outro na sequencia. Eu mesma precisei adaptar outro pra aliviar um pouco.

Sexta-feira, 15 de outubro ao meio-dia

Estava chovendo no dia em que enterramos Flavina. Parecia que esteve chovendo todos os dias desde que ela morreu. Eu fiquei encolhida sob o guarda-chuva com a Rafaela. Mesmo enquanto o padre falava, tudo que eu podia ouvir era o som distante das gotas de chuva batendo no nylon esticado que pairava acima de nós. Havia um vento cortante e frio que passava através de mim, fazendo-me tremer.

Rafaela estava completamente estática. Ela ficou parada rigidamente ao meu lado; costas retas, ombros para cima, olhos sempre para a frente. Ela não havia derramado uma única lágrima durante toda a semana. Ela tinha chorado com a filha de Flavina naquela noite no pronto-socorro, mas não se permitiu ao alívio de uma liberação emocional desde então.

Eu, por outro lado, chorei até dormir todas as noites. Eu chorei por causa da perda de uma amiga. Chorei porque me senti culpada. Não tinha sido Rafaela quem morreu e eu estava agradecida. Mas, principalmente, eu chorei porque eu estava perdendo a luta para segurar a mulher que eu amava. A escuridão estava tomando conta. Ela não estava apenas ganhando, ela estava chutando a minha bunda.

Acordei sozinha esta manhã, assim como eu tinha acordado todas as manhãs desta semana. Rafaela não veio para a cama, o seu lado da cama estava frio e ainda arrumado. Eu não tinha certeza se ela dormiu ou não. Os círculos escuros sob seus olhos me diziam que provavelmente não. Trocamos algumas palavras no café da manhã, mas a distância entre nós estava se tornando um abismo enorme que eu não tinha certeza se seria capaz de atravessar.


Ela passou a maior parte da semana ajudando a família de Flavina a fazer os arranjos. A filha de Flavina, Karen, vivia fora de Seattle com o marido. Ela tinha um irmão na Califórnia, e sua mãe, o ex-marido da Flavina, vivia em Chicago. Flavina tinha também um irmão em Nova York. Fazer com que todos viessem a Seattle não foi tão fácil como Rafaela teria gostado, mas ela conseguiu.

Eu nunca tinha pensado sobre a família de Flavina antes. Eu não sabia que ela era divorciada, ou que ela tinha filhos. Percebi que eu conhecia muito pouco sobre a mulher que eu chamava de minha amiga. Ela era a assistente e mão direita de Rafaela. Ela preferia carne a frutos do mar e nunca adicionava nenhum sal em qualquer coisa que ela comia porque ela estava controlando sua ingestão de sódio. Ela tinha maneiras impecáveis e um dos sorrisos mais gentis que eu já tinha visto. Eu sabia que ela amava Rafaela como uma filha e não duvidava que os sentimentos de Rafaela por Flavina fossem igualmente familiares.

Quando Rafaela não estava lidando com o funeral, ela estava verificando Brady. Brady estava usando o cinto de segurança e foi cercado por airbags, então ele tinha sofrido ferimentos não tão sérios, mas ainda estava em uma situação ruim. Rafaela fez com que ele fosse transferido para Harborview assim que ele ficou estável. Ele queria que Brady fosse tratado apenas por médicos que ele ou Sebastião confiavam.

Brady estava consciente, mas infelizmente não lembrava muito sobre o que aconteceu. Ele se lembrava de pegar Flavina no restaurante e começar a longa viagem para casa, mas os detalhes do acidente estavam incompletos. Ele tinha uma lembrança nebulosa de ser cercado. Ele lembrou-se de não ser capaz de atingir a velocidade que ele queria. As poucas testemunhas que foram encontradas relataram que três carros empurraram o Mercedes para fora da estrada depois que eles o obrigaram a manter uma velocidade perigosa. Flavina estava na parte de trás, não usando o cinto de segurança. Ela havia sido jogada para fora do carro e morreu de traumatismo craniano. Ela havia sido declarada morta no local.

Sextas-feiras - RabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora