Seres Pornográficos

17 4 3
                                    

Desenhe um círculo ao meu redor
Com o sal dos meus lábios e o sangue do meu pulso
Com a faca abro um sorriso rubro na garganta
Me jogo, me trago, me gozo, me afogo na dor
Nessa dolorosa oferenda que fiz pra você
Espero como a freira merètrica o prazer nos teus olhos e o fogo nas tuas mãos

Se quiser ouvir meu gemido, teu dou me grito
Se quiser minha carne, te dou meu corpo
Se quiser meu espírito, te dou tudo aquilo pelo qual existo

Eu ouço e leio nas linhas do teu sussurro
Todas as palavras escritas no ar
As mortas de luxúria
As vivas de ira
Ouço nas sinapses inorgânicas do pólipo do meu crânio
No meu meio recôndito reetrante
A textura do seu ser

Antes de badalar a hora da minha morte
Me dê a resposta do enigma da minha existência
Disposta devassamente aberta
Sobre tua língua sagrada

E quando após o ato suicida
Pousar esfriando nas latejouras douradas de vermelho
Me dê a palavra entalada no nó do teu pescoço
Me faça levantar dos mortos como Lázaro um dia acordou
--- No suave fôlego de vida do bendito salvador ---
Estique-me teu beiço e acaricie minha fronte nua
Chore, me traga uma lamúria de fazer anjo lacrimejar
Me banhe com essas lágrimas fervorosas
Me amaldiçoe com uma fúria bárbara
Imunde com turbulante paixão todo o recinto

E assim talvez

Talvez diante do teu sofrer eu levantasse
Se assim fosse
Pegaria suas bochechas e olharia no fundo dos teus claros olhos
Depositária na sua língua o mel do meu gosto
Nada diria,
Apenas lhe viraria a cabeça para a velha e silenciosa lua
Que invade nossas mentes com seu toque prata através da janela
Nesse silêncio maravilhoso que fabricariamos
te ensinaria um canto que nunca ouviu
E que apenas fugitivos da luz podem ouvir:
o entoar dos seres pornográficos da noite

Mas não.
Apenas permaneceria morto.
Você choraria, cada gota de dor se debrucaria sobre minha carne
--- Minha pele úmida de você ---
Mas meu amor,
não soluçes assim sobre minha carcaça
Deste invólucro terreno a borboleta da beleza saiu
Assustada e bela borboleta
Que fugiu das tormentas da vida para jogar-se para além do mistério
E assim talvez  encontrar o sentido dos enigmas daqui
Para lá das bordas desse mundo da cruel  Eva

Poemas Ruins de Uma Vida PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora