Capítulo 2 - A Chegada ao Acampamento.

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     Ficamos na estrada por meia hora até chegarmos a uma cidadezinha em que nunca ouvi falar, as casas eram antigas com tinturas descascadas, ao continuar ela chegou rápido ao fim e a estrada se viu escura novamente.

     O vento começara a ficar mais forte e balançava as folhas das árvores deixando um barulho de chuva mesmo não estando chovendo. Nic murmurava algo no banco de trás que não me preocupei em saber:

     - Porque estamos parando? - Perguntei olhando preocupada para Joey enquanto ele encostava o carro na beira de um campo aberto.

     - Sem gasolina, eu ia abastecer mas aconteceu essa coisa toda. - Ele disse passando a mão pelo cabelo.

     - Vamos continuar a pé. - Nic pulou do carro e nos esperou do lado de fora. Joey salta do carro, faço o mesmo.

     - O que? Não vou deixar o meu carro na beira do nada! - Disse ele nervoso.

     -  Liga pra sua mãe e ela vem buscar amanhã. - Disse tentando tranquilizá-lo.

     - Onde a gente tá Nic? - Pergunta Joey, entrego o celular para ele que disca na mesma hora o número de Maia, sua mãe.

     - Na av. 15 perto da Villa do Norte. - Ele disse olhando ao redor - Não demore no celular. Depois que terminar de usar o deixe no carro.

     - O que? Não vou deixar meu celular aqui! - Gritei furiosa.

     - É preciso Manuella. - Ele disse ainda olhando preocupado para os lados.

     Ao terminar, Joey coloca meu celular no banco de trás e pega nossas mochilas, bate a porta do carro e me entrega a mochila, a penduro no ombro e seguro sua mão entrelaçando nossos dedos, caminhamos rumo a escuridão da noite. Apenas a luz da lua iluminava fracamente nosso caminho, escuto um barulho atrás de nós e meus sentidos entram a alerta, solto a mão de Joey e olho bruscamente para trás mas não vejo nada:

     - Precisamos ir, - mais um barulho pesado e alto, agora mais perto - corram! - Nós corremos atrás de Nic, alguns metros à frente nos deparamos com um enorme galpão de ferro enferrujado, ao lado das enormes portas trancadas a corrente e cadeado acho um buraco na parede, grande o bastante para nós passarmos.

     - Por aqui. - Disse apontando para a abertura, eu entrei primeiro e esperei os outros dois do lado de dentro, haviam coisas penduradas nas paredes e jogadas no chão, corri para uma das laterais que estava cheia de caixotes de madeiras empilhadas, chamei Joey e Nic para me acompanharem, na parede a nossa frente haviam papelões e barras de ferro.

     Um barulho pesado mais parecido com passos se aproximou do local, um arrepio passou pela espinha quando o dono do barulho urrou frustrado. Um urro humano mas grosso demais para ser de um humano normal. Esse tal humano bateu forte no portão que fez balançar o local, bateu uma, duas, três vezes, na quarta as portas caíram como papel no chão, deixando um barulho agudo no ar.

     - Onde estão esses malditos semideuses ? - O tal humano gritou, sua voz é muito grossa e estranha, mais parecendo que ele estava engasgado. Semideuses? pensei.O que diabos é isso?

     Tento espiar de onde vem aquela voz, olho por uma fresta das caixas e quase cai pra trás, um gigante com um olho bem no meio da testa, sua pele é de um amarelo esverdeado, uma regata e shorts de couro tampam a maior parte do corpo, um chinelo de madeira nos pés e os cabelos estilo dreads na cor verde escuro caiam no seu único olho. Ele olha desesperadamente para os lados jogando tudo a sua volta, minhas duas mãos vão à minha boca mas um grito abafado escapa pelos meus dedos enquanto dou alguns passos para trás, ele parece ouvir pois para o que estava fazendo e olha na nossa direção, o desespero toma conta de nós três e por impulso nos encolhemos no canto das caixas, o gigante de um olho só joga as caixas longe e nos deixa a mostra, grito o mais alto que posso:

     - Ai estão vocês meus lanchinhos. - Ele me agarra deixando meus braços imobilizados na palma de sua mão, o cheiro que emana dele é azedo, ele lança a mão para trás e ao voltar me joga contra a parede, caio em cima do monte de papelões que estavam ali. Com as costas latejando de dor, olho ao redor procurando algo para de defender, tropeço em uma das barras de ferro e noto que a ponta dela estava lascada a deixando afiada, a pego e aponto para ele tentando amedrontá-lo, ele ri com desdém de mim e continua avançando.

     Ele coloca um de seus joelhos no chão para tentar me agarrar de novo mas corro desviando de sua mão, vejo que uma de suas canelas está desprotegida e cravo a barra de ferro o mais fundo que consigo nela, ele urra frustrado e com dor.

     Corro o mais rápido que consigo para onde Joey e Nic estão:

     - Graças a Deus você tá bem! - Joey me olha angustiado, me abraça forte e eu retribuo o ato.

     - Venham por aqui, - Nic estava segurando uma parte enferrujada da parede, fazendo uma passagem por ela. - rápido, não consigo segurar. - Eu e Joey passamos e seguramos para que Nic passasse. Corremos morro acima enquanto uma fina chuva começava a cair. O vento frio arde meu olho enquanto as lágrimas rolam pelo meu rosto. Isso não é real, não pode ser real. Não pode. Não pode. Pensei tentando me convencer de que aquilo não estava acontecendo.

     Um estrondo ao longe quase me fez cair, paro e olho rapidamente para trás, aquele mesmo humanóide que antes estava com uma barra de ferro na canela, agora corria atrás de nós com ela na mão, volto a realidade e sigo atrás de Joey que já estava um pouco a minha frente. A chuva ficara mais forte dificultando andar pela terra que agora virara barro. Achamos a avenida e a atravessamos, subir o barranco ficou quase impossível, olho para o lado e vejo Nic tirando o cinto e desabotoando a calça.

     - O que tá fazendo? - Pergunto ao agarrar o tronco de uma árvore. Ele tira a calça e no lugar de suas pernas há pernas de burro, com cascos e tudo. - Vo..você é metade burro? - Grito espantada.

     - Metade bode! - Ele disse subindo com facilidade o barro e me dando a mão para acompanhá-lo e a aceito. Joey que estava mais acima solta um grito espantado ao ver aquela cena.

     - Metade bode Joey, continua! - Gritei adivinhando sua pergunta. Nic solta a minha mão e ajuda Joey a recuperar o equilíbrio, subimos segurando nos troncos e raízes das árvores, tropeço em uma pedra e caio de joelhos no chão, uma coisa passa zunindo pela minha orelha, olho tentando adivinhar o que era e vejo que era aquela mesma barra de ferro, o gigante de um olho só havia a jogado para me acertar, meu coração arder vendo que por pouco ela não faz minha cabeça ser seu novo lar. Subo mais um pouco apoiando na barra dando impulso ao meu corpo, no meio das árvores um arco de madeira iluminada por tochas me chama a atenção, Nic está perto do local abanando os braços por cima da cabeça, no pico do arco uma há placa escrita AcampamentoMeio-sangue. O que me surpreende é que ela estava escrita em grego e eu a li normalmente.

     Joey e Nic me esperam na entrada do Acampamento. Ao passarmos pelo arco Nic comemora, Joey apoia as mãos no joelho recuperando o fôlego, eu me sento no chão ofegante, o humanóide por causas que não conhecia não conseguiu atravessar o arco. Talvez ele seja grande demais, pensei. Vários adolescente que parecem variar entre 11 e 17 anos se aproximam, todos usavm uma mesma camiseta laranja:

     - Camiseta legal. - Disse a uma garota de cabelos negros que me ajudava a levantar.

     - Valeu! - Ela sorriu fazendo todos a volta sorrirem também.

     - Vamos, vocês precisam se organizar e eu os levarei para Quíron que explicará tudo para vocês. - Disse Nic abrindo passagem pelas pessoas. Joey vem em minha direção e me abraça forte.

     - Você tá bem? - Pergunto a ele.

     - Estou, e você? - Ele pergunta me encarando.

     - Estou. - Sorrio gentilmente. Se aqui dentro estou segura daquilo, nunca mais vou sair, Pensei.

Filha de Apolo (SEM REVISÃO!)Onde histórias criam vida. Descubra agora